Editorial A culpa do Congresso

Publicado em: 28/05/2018 09:00 Atualizado em:

Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, protagonizaram momentos vergonhosos em meio ao caos provocado pela greve dos caminhoneiros. Com o governo acuado por um movimento claramente sustentado por empresários ávidos por tirar vantagens do Estado, era de se esperar que os chefes das duas casas legislativas assumissem papéis à altura dos cargos que ocupam. Preferiram, contudo, jogar mais lenha na fogueira ao promoverem uma sucessão de trapalhadas. Em vez de colherem frutos políticos, como desejavam, viraram motivo de piadas.

Maia, economista de formação, entubou em um projeto que propunha a reoneração da folha de pagamento das empresas e a redução a zero das alíquotas do PIS e da Cofins incidentes sobre o diesel até o fim deste ano. Disse que a fatura dessa medida, de R$ 3,5 bilhões, poderia ser coberta sem problemas pelo governo com o fim dos subsídios dados a setores responsáveis por milhões de empregos. Errou no cálculo em mais de R$ 8 bilhões. Já Eunício pegou o avião para seu reduto eleitoral, o Ceará, sob a alegação de que tinha compromissos pessoais, mesmo com o Brasil pegando fogo. Só retornou a Brasília depois de ser bombardeado por todos os lados. Mas nada fez em favor do país.

Na verdade, há tempos o Congresso deixou de cumprir o seu papel. Medidas importantes que poderiam dar um novo ânimo à economia permanecem paradas sem que deputados e senadores mostrem disposição em votá-los. Os senhores parlamentares só estão preocupados em sugar o governo vendendo apoio que, no fim das contas, não dão. Para eles, o que importa mesmo é encher as burras para garantir a reeleição e continuarem fingindo que legislam, sendo remunerados com salários de Primeiro Mundo e usufruindo de benefícios inexistentes em grande parte do planeta.

Não há dúvidas de que, se a Câmara e o Senado tivessem aprovado a reforma da Previdência Social, o Brasil estaria em uma situação muito melhor para enfrentar os transtornos provocados pelos transportadores de cargas. O governo teria uma perspectiva fiscal muito melhor para negociar. Todos saberiam que uma política temporária de redução de impostos, por exemplo, não colocaria as contas num buraco ainda maior do que o visto hoje. Talvez não se chegaria ao ponto de ver o país convivendo com desabastecimento, pois a arrancada do dólar seria menor, reduzindo o reajuste dos combustíveis.

O Congresso, não há dúvida, tem grande culpa por todas as mazelas enfrentadas pela população. Ao não fazer o dever de casa e manter o país com os pés fincados no atraso, estimula um ambiente propício ao caos que levou prefeitos a decretarem situação de emergência, escolas a suspenderem aulas, hospitais a restringirem atendimento, supermercados a ficaram sem mercadorias. Em vez de olharem apenas para as eleições — Maia quer se candidatar à Presidência da República e Eunício, se reeleger senador —, os presidentes da Câmara e do Senado deveriam chamar os seus pares à responsabilidade e promover um grande esforço para votações de interesse da população. Não é possível que continuem jogando tanto contra o Brasil.

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