Editorial Retrato do desemprego

Publicado em: 19/05/2018 03:00 Atualizado em: 21/05/2018 09:55

Jano, deus da mitologia greco-romana, é representado com duas caras. Uma olha pra trás. Avalia o passado e, sem poder alterá-lo, fecha a porta do tempo velho. A outra volta-se para a frente. Mira o futuro e as possibilidades que oferece para avanços capazes de corrigir falhas e trilhar novos rumos.

A personagem é lembrada a propósito dos números a respeito do desemprego no país. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, falta trabalho para 27,7 milhões de pessoas. Oficialmente, há 13,7 milhões de desocupados. O número, embora desolador, escamoteia a realidade.

Pela metodologia da pesquisa, só entram no cálculo do levantamento os que buscam vaga no mercado. Ignoram-se os milhões que desistiram da busca ou se conformaram com subocupação. No primeiro trimestre deste ano, a estatística dos desalentados — para quem não vale a pena sair de casa atrás de emprego — atingiu 4,6 milhões de brasileiros. Teve aumento de 511 mil nos últimos 12 meses.

Somados os que amargam o desemprego, o desalento e a subutilização, a cifra salta para 27,7 milhões de pessoas — o maior contingente desde o início da série, em 2012. Em bom português: a desocupação, que passou de 13,7% em 2017 para 13,1% em igual período de 2018, não significou melhora no mercado, mas queda na pressão pela procura de trabalho. Se os desanimados continuassem na luta por oportunidade, a taxa de desemprego seria maior.

O clima de terra arrasada se deve à herança maldita da administração de Dilma Rousseff. A política desenvolvimentista da presidente, que adotou medidas equivocadas de controle da inflação para segurar o preço da energia e dos combustíveis, aliada ao descontrole de gastos que aumentou as despesas do governo e resultou em déficit na casa de três dígitos, desorganizou a economia de forma profunda.

E, ato contínuo, desestruturou famílias, que perderam o ganha-pão e foram forçadas a buscar alternativa de sobrevivência. Entre elas, a informalidade, que reduziu o número de profissionais com carteira assinada — de 76,6% para 75,4%, queda de 408 mil postos de qualidade. São, hoje, 32,9 milhões de trabalhadores formais, a menor da série. A mudança de paradigma implica renda menor e baixa no padrão de vida.

Feito o diagnóstico e contabilizadas as vítimas, impõe-se seguir o script do deus Jano: olhar para a frente e criar cenário favorável ao crescimento da economia. Incertezas, imprevisibilidade e insegurança jurídica afugentam investimentos. Há que devolver a confiança. E, com ela, o retorno da oferta de emprego. Os candidatos a presidente da República terão de apresentar programa de governo que aponte as saídas concretas para o drama que empobrece o país e rouba o futuro das gerações presente e futura.

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