Na capital ludovicense

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 08/05/2018 03:00 Atualizado em:

Uma semana para encontros culturais, palestras e seminários, na cidade que se diz fundada por franceses, fato contestado por alguns historiadores (não deixaram vestígios maiores, não construíram fortalezas, povoados, afirmam) mas que a maioria dos nascidos em São Luis, ludovicenses nome dado em homenagem ao rei da França, assumem. Fala-se em De Lavardière, dirigente da armada (?) francesa, que aliás foi preso e enviado a Pernambuco, leiam o artigo do nosso grande historiador José Antonio Gonsalves de Melo em número da revista do Instituto Arqueológico. Enfim. Mais que traços da presença portuguesa, nos casarões conjugados, balcões, mirantes, janelas celebradas por José Chagas, um de seus maiores poetas, vários andares, como em Lisboa, ou na sobriedade das igrejas, onde o padre Vieira falava aos peixes, lançando vitupérios às mulheres cobertas de veludos e joias, homens com vestes e meias de seda à moda da corte francesa. São Luis, miséria e esplendor, casarões em ruínas, praças lindas, a maior superfície de conjuntos de belíssimos azulejos que se conhece, cidade que se convenientemente restaurada seria uma das mais belas do mundo. Berço de intelectuais, entre os melhores do Brasil, os Azevedo Arthur e Aluisio, Josué Montello, Jomar Moraes, Nauro Machado, Ferreira Gullar, viveram aqui. E talentosa, Arlete Nogueira, grande poetisa, que em Litania da Velha metaforizou a cidade, na mendiga que insiste em sobreviver dignamente, levando os dias, em meio aos destroços de um tempo glorioso, atestado pelos casarões, cujos restos, de pé, nos comovem e enchem de melancolia, na lembrança de um passado que os atuais não conseguimos mais viver. Mas a cidade continua e resiste, vida cultural intensa, talentos diretores de cinema, competentes instituições de ensino superior, milhares de estudantes de Letras, de Pedagogia, de História, ao lado de aspirantes à advocacia, à medicina, ao exercício do ensino, que vieram nos ouvir falar de Literatura, da Leitura, público eclético, simpático, vibrante, numeroso, fazendo perguntas, lendo conosco e recitando poemas e trechos de romances, uma amostra de reconhecimento da necessidade da beleza e de esperança em nossas vidas. De que falava outro dia o querido Raimundo Carrero num de seus artigos aqui no Diario a propósito de recente Festival Literário no RioMar. Encontro com colegas da Academia da Letras do Maranhão, entrevistas em jornais da cidade. Em duas das TVs locais, inclusive no Bom dia ... ia escrever Pernambuco, a locutora da Globo tão eficiente e simpática como Pedro, Monica, Beatriz, Vanessa, às seis da matina. E sobretudo, uma manhã inteira conversando com intelectuais, escritores, pedagogos, psicólogos, historiadores, leitores e amantes de Literatura, e sobretudo psicanalistas, na inauguração do Café Literário que funcionará em grande livraria da cidade, idealizado por um amigo quase irmão, meu ex-aluno na Pós da Ufpe, brilhante e atuante psicanalista Wiliam Amorim, presença marcante na cidade. Compartilhamos experiências de leituras, comentando a vida e a obra de Lou Andreas Salomé, personagem do filme Lou, que o Recife conheceu há algumas semanas. Gente, como são revigorantes esses encontros e como é sempre tão bom reencontrar o Recife através da janelinha do avião...

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.