Essas festas do espírito

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 24/04/2018 03:00 Atualizado em:

Sem querer nos gloriar (e nos gloriando!) – e nem lançar confetes sobre aquelas pessoas que organizaram e participaram do evento no palco, no auditório – quase completo, umas 650 pessoas, para... pasmem... apenas discutir literatura, ouvir literatura, escutar a beleza do violão de Claudio Almeida, que explicou, ao lado de Telles, a maneira como literatura e música se unem, muitas vezes indissociáveis. Vibrar com as experiências de vida de Braulio Bessa e de Santanna, nordestinos da gema, de nascença, de coração, e orgulhosos de o ser (quase exagerando no ... bairrismo?) não se pode deixar de falar do acontecido nos dias 17 e 18. no Shopping RioMar. Não é publicidade não, mas fazia tempo que o Recife não via tal coisa. Veio gente de faixas etárias diversas, vinda de longe, de Arcoverde, de Garanhuns, da Paraíba, dois ônibus com estudantes de Alagoas, do Grande Recife, atentos às nossas falas – desta que vos escreve e de Raimundo Carrero, homenageados no Festival deste ano, que contamos coisas de vida, do fazer literário, confessando nosso amor incondicional pela literatura, pela alegria de encontrar os leitores e de conversar com eles, precedidos por comentários mais que inteligentes e afetuosos sobre nossas obras, do mestre Lourival Holanda, do poeta Alexandre Furtado, da palestra brilhante de Flávia Suassuna. Luis Reis e Alcio Lins, doutores na arte do teatro, desvendaram para nós os mistérios daquela tão antiga e imprescindível arte, explicando o modo como exige a cada momento presença, participação, a vibração da vida, e mais que isso, emoção, variando de modo diverso, segundo o ator, segundo o ouvinte, e os dois nos entregaram seu saber e sensibilidade, escolhendo e comentando nossos textos que em seguida se tornaram quase realidade, quase palpáveis, na atuação do Grupo Dispersos, que abusou de nos transmitir beleza, em gestos e palavras, a todos nós, autores, leitores. Leitores e autores, que terminaram cantando Luiz Gonzaga e Chico Buarque, mas escutaram reverentes e prendendo a emoção, a belíssima Ave Maria sertaneja, com a qual Santanna iniciou sua apresentação. A organização do evento custou horas de preparação, de reuniões, a nós da Academia Pernambucana de Letras, na atuação de Margarida Cantarelli, de Ana Maria Cesar; E de Carmen Peixoto e sua equipe, dando o melhor de seu empenho pra que esse VI Festival RioMar de Literatura fosse o sucesso que foi, e mais que um sucesso: uma festa do espírito, um acontecimento na mesmice dos dias, um parênteses no duro cotidiano que está sendo o nosso.

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