A obra inaugural do romancista Antônio Callado

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 17/04/2018 03:00 Atualizado em: 17/04/2018 09:15

Entre o banco da praça da Torre, ainda um humilde bairro proletário, e a poltrona instalada no terraço da casa do meu irmão Geraldo, li Assunção de Salviano, a obra inaugural do romancista Antônio Callado, depois consagrado como autor de Quarup e Bar Esperança, ambos adaptados para o cinema. O livro conta a história de dois personagens anticlericais – Salviano e Pedro Salgado – que resolvem enganar a população de Juazeiro, com a aparição de um santo no local.

A ideia nasce, justamente, de Pedro Salgado, chamado de comunista porque era ateu. E, naquela época, o ateu tinha de ser comunista. Coisa que a Igreja alimentou durante muito tempo, mesmo reconhecendo o equívoco. Com o tempo, percebeu-se que os padres- sobretudo os mais jovens, tinham ligações com os comunistas, sobretudo por causa da doutrina social.

Na orelha do livro escreve Ênio Silveira: “A figura de Salviano, revolucionário, místico e mártir é o exemplo vivo das contradições filosóficas em que nos debatemos todos nós, neste Brasil de eternas promessas  que, hoje, a despeito de tudo  e de muitos, começa realmente a despertar e a tomar cnsciencia de sua importância no mundo civilizado.”

E, ainda,”mas, ao que parece, é exatamente dessas   contradições que nascem as características fundamentais da nossa cultura: O repúdio ao sectarismo de qualquer natureza, a intolerância, a sadia irreverencia para com os poderosos e o convencional.’ Vejam, por favor, a edição recente da Editora Record, Rio de Janeiro.

Li o romance com a alegria da descoberta literária. Meu irmão era profundamente conservador, católico praticante, mas nunca proibiu minhas leituras. Sempre teve o cuidado de reconhecer meu amor pela literatura. Ligado aos movimentos religiosos orientava-me ao  lado de Anelcira , a cunhada que era uma espécie de mãe naquele instante delicado da adolescência. Profundamente atenciosa e educadora.

Os movimentos políticos chegavam-me em ecos profundos que me despertaram para o social. Sentei-me, então, para escrever. Rascunhei uma peça teatral, A Revolta de Paulinho, porque naquela época – provocado pelas inúmeras peças de teatro que herdei do meu irmão Francisco, achava que seria dramaturgo. Criei, imediatamente, um grupo de teatro no Colégio Arquidiocesano, com a ajuda de José Ayres, filho da atriz Creuza de Barros, que integrava o grupo de teledramaturgia da TV-Tupi – Canal 6. Zé me apresentou a Luiz Queiroga e passei a integrar o programa de Ludugero, no final da tarde das quartas-feiras, ao vivo. Imaginei que aí estava decidindo meu futuro e o meu destino.                                                       

Pausa para convite. Hoje – 17 – e amanhã – 18 – estaremos, Luzilá Gonçalves e eu, recebendo homenagens no Festival de Literatura do Riomar. Será uma programação extensa em duas tardes festivas, com debates e exibições de curtas. Ficaremos felizes em vê-los no RioMar.

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