Editorial Terremoto jovem

Publicado em: 29/03/2018 03:00 Atualizado em: 29/03/2018 08:26

O prestigiado Dicionário Oxford escolhe, a cada virada do calendário, a palavra do ano. Segundo pesquisa da equipe responsável pela eleição, trata-se de vocábulo que sobressaiu na comunicação do período. A de 2016 foi fake news - notícias fraudulentas que se multiplicam graças aos compartilhamentos nas mídias sociais.

A preferência de 2017 recaiu sobre youthquake, que, em tradução livre, quer dizer terremoto jovem. De acordo com o dicionário, trata-se de “mudança cultural, política ou social significante provocada pelas ações ou influência de pessoas jovens”. Especialistas em léxico de Oxford afirmaram que o uso do termo quintuplicou entre 2016 e 2017.

Muitos se decepcionaram com a novidade. Talvez, diante dos últimos acontecimentos, tenham mudado de ideia. Ondas de jovens dos Estados Unidos ocuparam as ruas do país para exigir maior controle na venda de armas. O estopim foi o ataque em fevereiro à escola Marjory Stoneman Douglas, na Flórida, em que um ex-aluno, armado de fuzil comprado legalmente, roubou a vida de 17 pessoas.

Não se trata de fato inédito. Como tragédias provocadas por tiros se tornaram rotina na maior potência do planeta, a resposta subsequente deixou de surpreender. Mas a do último sábado chamou a atenção por dois fatos. O primeiro, a dimensão do movimento, denominado #NeverMore (Nunca Mais), que se estendeu a grandes cidades. Entre elas, Chicago, Atlanta, Nova York e Los Angeles. Em Washington, a mobilização contou com mais de 500 mil participantes. Há quem fale em 800 mil. No exterior, também ocorreram quase mil passeatas.

O segundo aspecto a destacar é a iniciativa. Quem tomou a frente do movimento foram alunos que não discriminaram etnias. Brancos, negros e hispânicos deram-se as mãos na luta pela causa comum. Parece que a diferença entre democratas e republicados se diluiu ante a determinação dos moços e o apoio popular. Vale lembrar que os jovens não se opõem ao porte e à posse de arma de fogo para defesa pessoal, direito assegurado pela Constituição. Eles reivindicam o fim da venda de fuzis automáticos, a elevação da idade mínima para a compra de artefatos e a checagem de antecedentes antes da venda de qualquer armamento.

Terão sucesso? É prematuro responder. A população americana resiste a tentativas de restringir o acesso a armas. Poderoso lobby, encabeçado pela Associação Nacional do Rifle (NRA), faz doações generosas de campanhas a políticos para manter a legislação. Por isso, os estudantes apostam na batalha legislativa. Em novembro, haverá eleições para a Câmara e o Senado. A moçada exorta os jovens a voltar em candidatos sem ligação com a NRA. Com um cuidado: evitam polarizações ideológicas que podem dividir o movimento.

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