Pedalar é repensar como as cidades crescem

Felipe Carreras
Secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco.

Publicado em: 24/03/2018 03:00 Atualizado em: 26/03/2018 09:21

A mobilidade urbana segue como um dos maiores desafios nas grandes cidades. Na semana que a Ciclofaixa de Turismo e Lazer do Recife completa cinco anos de existência, é impossível não ver o avanço no papel da bicicleta em nosso trânsito. De lá para cá, começamos um trabalho para oferecer mais infraestrutura a esse modal. Já não há mais espaço para alargar ruas, construir viadutos. Precisamos trabalhar em sintonia para que o ambiente do trânsito seja mais compartilhado, colocando o pedestre, a bicicleta e o transporte público como protagonistas. Mudar a percepção das ruas e das calçadas.

Quando a Ciclofaixa de Turismo e Lazer foi inaugurada, no fim de março de 2013, estávamos plantando uma semente na cabeça dos pernambucanos: enxergar as bicicletas no trânsito com mais respeito. A maneira que encontramos foi abrindo rotas para passeios aos domingos e feriados. Uma média de 15 mil a 20 mil pessoas começaram a circular pelas três rotas da Ciclofaixa. Mas precisávamos seguir avançando nas ações. Então, começamos a implantação do sistema de compartilhamento de bicicletas, o Bike PE. Hoje utilizamos as estações, as bikes e a plataforma digital mais modernas do mundo, as mesmas de Londres, Nova York e San Francisco (EUA). Já ultrapassamos a marca de 12,5 mil viagens em 20 estações instaladas.

Fernando de Noronha também está transformando as bicicletas no principal meio de locomoção, através do projeto Bike Noronha: 1,4 mil bikes já foram doadas para melhorar a mobilidade e reduzir a emissão de CO2. Mas não basta compartilhar bikes; é preciso estruturar e conscientizar. Pernambuco tem ampliado a quantidade de bicicletários, de espaços de convivência (parklets), implantado um fórum de discussões através do Escritório da Bicicleta e ações de conscientização no trânsito, norteadas pelas diretrizes do Plano Diretor Cicloviário.

Hoje, cerca de 3,5 mil ciclistas já utilizam, diariamente, a nova Ciclovia Camilo Simões. Trata-se do primeiro trecho do Eixo Cicloviário Estruturador, que liga o Marco Zero, no Recife Antigo, à Fábrica Tacaruna na Avenida Agamenon Magalhães, com um trajeto de 5,1 km. Agora já vamos entregar o Eixo 2, que liga a Fábrica Tacaruna à Praça do Varadouro, em Olinda, com um percurso de 2,9 km. O próximo passo será o terceiro trecho, ligando o Varadouro à ciclovia existente na PE-15, com um trajeto total de 5 km. Ao todo, o Eixo Cicloviário percorrerá 30 km, do Marco Zero até a entrada de Igarassu.

Ainda temos um longo caminho para percorrer. Priorizar meios alternativos vai além da redução na emissão de poluentes, do tempo de deslocamento e dos benefícios de saúde para os usuários. É uma mudança profunda no modo com as cidades crescem. É entender que reduzir a velocidade de algumas vias nos permite desenvolver cidades mais humanas e sustentáveis. O direito à cidade não pode ser voltado apenas para quem tem carro. Cuidar dos outros modais significa que mais pessoas poderão interagir e utilizar as cidades de forma mais ágil, com o trânsito fluindo melhor, transformando os percursos de engarrafamento em rotas agradáveis, seguras e socialmente justas.

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