A investida totalitária

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 14/03/2018 03:00 Atualizado em: 14/03/2018 09:18

Há um processo totalitário em curso no Brasil. Processo totalitário de esquerda, que a enormidade da corrupção ao menos arrefeceu (mérito da corrupção, já escrevi noutro texto) mas não extinguiu. É uma espantosa investida totalitária, a horrenda pretensão de recusar qualquer espécie de divergência, ou de opinião diferente. Só admitem o próprio pensamento – imposto pela gritaria ou mesmo pela força física. Ou se segue a pregação monocórdia deles, ou se é abominado. É a pretensão do pensamento único, monolítico, acrítico, maciço e absoluto, fundamentalista no pior sentido. Império do grito, da repetição ao infinito dos mesmos chavões, das mesmas ideias fixas, daí resultando a divisão da sociedade em dois grupos: os que pensam de acordo com essa concepção hegemônica, e portanto são pessoas do bem (por mais vergonhosos que sejam seus históricos) e tudo lhes há de ser perdoado; e os que discordam, inimigos que devem ser destruídos, agentes do mal, e tudo lhes deve ser imputado – o que fizeram e o que não fizeram, até o que teriam pensado em fazer...

É pensamento não admite oposição. Qualquer crítica, qualquer objeção é fulminada. Acusa de racista qualquer um que não subscrever sua colorida doutrinação. De homofóbico, quem não partilhar sua exata visão da homossexualidade. De reacionário e direitista radical, quem, por exemplo, não achar que foi um golpe o impeachment de Dilma... Uma vez anunciada uma manifestação qualquer, em sentido contrário ao desses totalitários, o que fazem não é respeitar a manifestação alheia mas invadi-la e tentar tumultuar. Se inventam de promover um “debate”, vai-se ver: os “debatedores” são individualidades da mesma corrente de pensamento, apenas com diferenças periféricas, não são representantes de verdadeiras posições contrapostas. E dizem que isso é liberdade de expressão... Se alguém discorda das posições desses totalitarismos, o que fazem não é demonstrar a improcedência dos argumentos alheios, mas desqualificar, de todas as formas (inclusive desonestas) o opositor.

E imaginar que esse totalitarismo é muitas vezes praticado por professores universitários que deveriam, como mais ninguém, defender a liberdade de pensamento, o esforço crítico, o livre convencimento!

Ainda corremos o risco da implantação desse pensamento único. Com insolente e violento patrulhamento. Com concursos públicos ideologizados, cursos somente numa direção, testes exigindo respostas padronizadas. Liberdade de pensamento mal vista, levada no deboche. Nenhum pensamento crítico, nenhuma ideia divergente. Mas a sociedade e a ciência só avançam em clima de plena liberdade intelectual, de tolerância quanto à existência (e possibilidade de expressão) de posições discordantes.

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