Efeito Google e a Imprensa

Múcio Aguiar
Presidente da Associação da Imprensa de Pernambuco, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa e doutorando em Ph.D pela Universidade de Coimbra.

Publicado em: 03/03/2018 03:00 Atualizado em: 05/03/2018 09:08

Duas importantes profissões estão na linha da crise internacional, e no Brasil a do jornalista, mais ainda, pois quase todo blogueiro quer se denominar “jornalista” e busca aparato na frágil decisão do Supremo Tribunal Federal que extinguiu a exigência do diploma superior para o exercício profissional e o do publishers que vem a cada dia fechando seus jornais e editoras, porém, um fator os une, a paixão pelo jornalismo que promove valores fundamentais para a cidadania, como a liberdade, dignidade humana, respeito às minorias e abertura do contraditório e é isso que precisa prevalecer, principalmente no momento atual, além do reconhecimento de que é o jornalista que prima pela qualidade técnica e ética da imprensa, valorizando e gerando credibilidade ao jornal. Não é o jornalista inimigo do publishers, nem o inverso, são companheiros na mesma jornada, apenas em lados diferentes, parceiros em busca da sobrevivência dos empregos e de seus jornais. É preciso diálogo.

No pé da crise, devemos todos mirar naqueles que afetam nosso negócio, sendo o maior, aquele que no ano de 2016 faturou cerca de US$ 90 bilhões. E no quarto trimestre de 2017 anunciou uma receita de US$ 32,3 bilhões, um aumento de 24% em 12 meses, sendo inegável que parte do seu faturamento vem do nosso produto, “a notícia”, e da credibilidade de nossos jornais – que não tem preço. O Alphabet, controladora do Google é um organismo que se alimenta causando-nos dano ao longo de sua existência.

Contudo, temos três opções para abordar o tema, uma olhando para o retrovisor e ficarmos brigando com o que já passou e que não volta; buscar mecanismos legais e restritivos e outra, olhar para a frente e construir com o Google uma plataforma de respeito mútuo onde todos poderão ser reconhecidos por sua importância no mundo globalizado.

Com essa perspectiva, inicialmente alguns pilares devem ser construídos de forma a superar e equilibrar a relação, com uma abordagem de colaboração entre as partes, contendo a produção de um plano de ação que vise o acesso, suporte e a partilha de novas tecnologias para as empresas de mídias. Paralelamente, um plano de apoio deverá ser implantado atendendo a organização de eventos de mídia que promovam gratuitamente laboratórios de notícias abertos a todos; criação de novo Campus Google, na Região Nordeste, reduzindo a disparidade de acesso à informação.

Contudo, é a criação do Fundo The Digital News Initiative - Brasil, seguindo o formato do já existente na Europa, que poderá efetivamente minimizar ou viabilizar a superação das dificuldades vividas pelos jornais em decorrência do efeito Google no cotidiano de nossa imprensa, que entre seus valores está o da credibilidade das publicações e que o Google necessita para faturar bilhões. Fato constado com a decisão recente da multinacional Unilever, que anunciou a retirada de publicidade daquele site de pesquisa e do Facebook - um corte de US$ 9 bilhões no faturamento de publicidade, em decorrência da frágil credibilidade que o Google e o Facebook carregam.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.