Sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro

Moacir Veloso
Advogado

Publicado em: 20/02/2018 03:00 Atualizado em:

Não há a menor dúvida de que a intervenção federal no Rio de Janeiro já deveria ter sido decretada há muito tempo. Afinal, a situação da outrora cidade maravilhosa e capital da República já é caótica há várias décadas. O colapso financeiro, a escalada da violência crônica e a prisão de dois ex-governadores e uma ex-governadora, acusados de corrupção - Sérgio Cabral já acumula quatro condenações, que somam 87 anos e quatro meses de prisão - por si só já demonstram a que ponto chegou a indecência moral, a prática da corrupção em níveis absurdos e a corrosão das instituições, que praticamente não mais existem. Com exceção do Judiciário, que a nós parece, ainda não integrar o elenco dos atores do caos instalado no Rio, o terceiro estado em população no Brasil. Na madrugada da sexta-feira 16 de fevereiro, quando foi decretada a intervenção, o Estado Democrático brasileiro passou a vivenciar uma situação inédita, com dois governadores em exercício. O governador Luiz Fernando Pezão permaneceu no cargo exercendo seu mandato como responsável por todas as áreas de gestão, exceto a Segurança Pública. Esta ficou a cargo do interventor, general de Exército, Walter Souza Braga Neto, que estava chefiando o Comando Militar do Leste. Agora é ele quem passa a administrar as Polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e o Sistema Penitenciário Fluminense. A população carioca deve estar esperançosa por dias melhores com a provável diminuição da violência, e, quem sabe, o seu controle, pelo menos, até o final deste ano, quando o decreto que a instituiu perderá a vigência. Há, entretanto, quem pense diferente. A antropóloga Alba Zaluar, uma respeitadíssima pesquisadora da criminalidade do Rio de Janeiro, professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Ela referiu estar receosa dos prováveis efeitos colaterais deletérios da intervenção. Segundo ela, “... a medida pode reforçar a expansão das ações do PCC – Primeiro Comando da Capital – facção criminosa sediada em São Paulo. Um dos efeitos da intervenção deverá ser o estrangulamento do Comando Vermelho – Organização Criminosa criada no Rio. Isso vai ajudar o PCC -  rival do Comando Vermelho – que crescerá mais (...). Essas Organizações Criminosas estão expandindo seus negócios e se transformando em máfias e cartéis”, concluiu Alva Zaluar. Merecem registro as lúcidas observações expendidas pelo advogado George Emílio Bastos: “É a terceira onda migratória do crime, oriunda do Rio de Janeiro, com a fuga autorizada dos marginais, que se espalharam por  todo o Brasil (CV, ADA, RCP, PCC e outras) e se instalaram de vez no Norte e Nordeste criando suas filiais que até hoje aterrorizam suas populações” (...) “... a solução para o Rio de Janeiro, deve ser semelhante a empregada pelo General Massu na célebre Batalha de Argel, como tenazes a cercar todo o estado com um bloqueio total, terrestre, aéreo e naval, de fora para dentro, com apoio das PMs de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Forças Armadas, Receita Federal, controlando militarmente quem entra e quem sai do Rio de Janeiro e de varredura policial intensa, com prisões”. Como se vê, a situação atual do Rio de Janeiro, e por extensão, do país, nos faz lembrar as primeiras cenas do magnífico Cidade de Deus, nas quais aparece uma galinha apavorada, prestes a ser abatida durante uma farra de criminosos, mas consegue fugir. No entanto, não vai muito longe sendo logo capturada e segue seu destino natural, a panela. Na narrativa do episódio, o personagem aspirante a fotógrafo, Buscapé, sentencia, “Aqui na Cidade de Deus é assim: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Embora o futuro a Deus pertença, que Ele tenha piedade de nós. Só nos resta orar por nossa segurança. Ah, antes que me esqueça: em 2000, fui assaltado por três menores num engarrafamento em plena Av. Agamenon Magalhães; em 2002, sofri um sequestro relâmpago. Sai ileso de  ambos. Deus é grande!

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