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Longa 'Arrenego' faz sua estreia na 33ª edição do Mix Brasil

Misturando realidade e encenação, 'Arrenego' é dirigido por Fernando Weller e Alan Oliveira e estreia mundialmente no 33º Mix Brasil da Cultura da Diversidade

Diario de Pernambuco

Publicado: 12/11/2025 às 16:29

 /Divulgação

(Divulgação)

Convocar o passado para iluminar as feridas do presente é a principal proposta de Arrenego. A partir do retorno de Naywá Moura Carvalho à sua cidade natal, Oeiras, no interior do Piauí, o longa propõe a leitura e encenação de um documento de 1758 que narra um Sabá de Bruxas ocorrido na região. Misturando realidade e encenação, o filme dirigido por Fernando Weller e Alan Oliveira investiga como as heranças da colonização seguem inscritas nas relações de gênero, raça e poder no Brasil.

Um grupo de moradores de Oeiras, antiga capital do Piauí, é convidado a reler e encenar um documento colonial do século XVIII que descreve um suposto Sabá de Bruxas na cidade. Entre o gesto performativo e o ato político, o filme constrói um diálogo entre o passado e o presente, questionando as formas de opressão e violência herdadas da colonização. “A riqueza de detalhes daquelas descrições e o modo como falavam de mulheres, corpos e fé me atravessou como uma flecha”, conta Naywá Moura Carvalho, diretora de arte, figurinista e corroteirista do filme.

O ponto de partida de Arrenego também remete à pesquisa do antropólogo e historiador Luiz Mott, pioneiro nos estudos sobre religiosidade, sexualidade e dissidências no Brasil colonial. Em seu artigo Transgressões na Calada da Noite: um Sabá de Feiticeiras e Demônios no Piauí Colonial, Mott, que também participa da película, descreve o caso registrado em 1758 em Oeiras, que envolve mulheres acusadas de práticas heréticas e rituais noturnos. Esse documento, reinterpretado pelo filme, tornou-se base para uma reflexão sobre a perseguição a corpos dissidentes e o modo como as estruturas coloniais de poder seguem presentes nas narrativas e instituições brasileiras.

 

A artista destaca que o processo de filmagem foi, ao mesmo tempo, político e espiritual. “Os corpos articulados em cena vibraram o que aquele território nos inspirou e orquestrou, como um ritual”, afirma Naywá. “Nosso gesto era o de dissipar a névoa ciscolonial, racista e machista que ainda tenta nos sufocar. Que o cinema seja ferramenta para reinventar e reverter as ruínas à mostra”, acrescenta.

Para o diretor Fernando Weller, o ponto de partida de Arrenego nasceu de um interesse antigo pelo imaginário da bruxaria no Brasil. “Conheci a história do sabá de Oeiras lendo o livro O Sabá no Sertão, da historiadora Carolina Rocha, e fiquei impressionado com a forma como aquelas mulheres apareciam nos relatos”, explica, afirmando ainda: “O encontro com Naywá redefiniu o projeto. A história dela e sua relação com a cidade tornaram-se o eixo do filme — uma maneira de reencenar o passado a partir de quem carrega, no corpo, as marcas do presente”.

Já Alan Oliveira, parceiro de Weller na direção, vê no projeto um exercício de invenção coletiva. “O grande desafio era transformar um documento de 1758 em cinema”, comenta. “Decidimos viajar até Oeiras e, a partir do teatro, experimentar como essa memória ainda ecoava na cidade. O filme nasceu desse cruzamento entre pesquisa, performance e fabulação, fazendo o passado existir de novo - não como reconstituição, mas como criação compartilhada”.

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