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CRÍTICA

Excesso de artifícios dispersa a tensão real de 'Casa de Dinamite'

Suspense 'Casa de Dinamite', de Kathryn Bigelow (de 'Guerra ao Terror' e 'A Hora Mais Escura'), está disponível na Netflix

Andre Guerra

Publicado: 12/11/2025 às 18:44

Rebecca Ferguson protagoniza o primeiro terço do filme/Netflix/Divulgação

Rebecca Ferguson protagoniza o primeiro terço do filme (Netflix/Divulgação)

Nove potências nucleares no mundo em um período em que os nervos de muitas delas parecem frequentemente à flor da pele. Parece distopia, mas, na verdade, é a sombria realidade sobre a qual se debruça Casa de Dinamite, o novo filme de Kathryn Bigelow — consagrada como a primeira vencedora mulher do Oscar de Melhor Direção, com Guerra ao Terror, em 2010.

Oito anos após seu último trabalho, Detroit em Rebelião, a cineasta, célebre por suspenses de ação políticos retorna com uma trama baseada em uma situação hipotética: em um dia comum, o departamento de segurança máxima dos Estados Unidos, que acompanha movimentações militares de todo o mundo, recebe um alerta de um míssil nuclear de origem não identificada que, ao que tudo indica, cairá sobre o território de Chicago.

Desdobram-se, a partir daí, três diferentes perspectivas dos mesmos 20 minutos — aproximadamente — de tensão: a sala de situação, liderada por Olivia (vivida por Rebecca Ferguson), o departamento militar responsável por lançar o míssil de retaliação e, por fim, a tomada de decisão do presidente americano (Idris Elba).

Escrito por Noah Oppenheim, repórter veterano de guerra e atual coordenador jornalístico da NBC News, Casa de Dinamite é tão acurado do ponto de vista procedimental quanto todos os filmes de Kathryn Bigelow. A cineasta é célebre por se cercar das pessoas que conhecem minuciosamente os processos que ela se propõe a retratar. Aqui, com sua câmera ágil e seu característico uso de um zoom quase documental, ela confere o máximo de credibilidade informacional ao desenrolar da tensão, especialmente no primeiro ato.

A atuação de Rebecca Ferguson é a condutora principal do temor crescente do primeiro ato, no qual Bigelow se dedica ao que encena melhor: mantém o espectador preso àquela sala de controle, criando diferentes cenários na cabeça do que está acontecendo (e sobretudo, do que pode acontecer) do lado de fora. É sintomático dos nossos tempos que, em seu primeiro longa pós-pandêmico, a diretora faça seu thriller político mais claustrofóbico, no qual o apocalipse é testemunhado quase às cegas.

Toda a exposição que vem a seguir, infelizmente, é progressivamente menos engajante. Ao detalhar as reações à mesma linha cronológica de informações — e com o mesmo método estético —, Casa de Dinamite reduz o impacto desse pânico nuclear a um mero dilema técnico, uma crise circunstancial.

Quando chega ao capítulo final, mesmo o contundentemente pessimista comentário do filme sobre essa ameaça se torna esgarçado pela montagem e diluído pela humanização genérica de personagens pontuais. São muitos closes aflitos e planos-detalhe de anéis, uma saída artificial e até incomum da diretora para criar empatia com figuras que, nesse contexto, são apenas elos fáceis do cinema "procedimental" dela com certo sentimentalismo.

Poucos cineastas têm a coragem de Kathryn Bigelow para bater de frente com tensões tão reais e voláteis da geopolítica. Em Casa de Dinamite, no entanto, sua contundência diante do começo do fim do mundo é substituída por respostas emotivas meramente funcionais.

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