Sul-coreano 'No Other Choice' leva o pânico do desemprego ao limite
Novo filme do diretor sul-coreano Park Chan-wook (de 'Oldboy' e 'Decisão de Partir') chegou ao Brasil pela 49º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Publicado: 25/10/2025 às 18:52
Lee Byung-hun interpreta o protagonista que decide assassinar seus concorrentes a uma vaga numa fábrica de papel (CJ Entertainment)
Dirigido pelo sul-coreano Park Chan-wook (de Oldboy e A Criada), reconhecidamente um dos cineastas mais estilosos em atividade, No Other Choice era um dos títulos mais aguardados da programação da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que chega ao fim no próximo dia 30 de outubro. Candidato da Coreia do Sul a uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional, esta comédia de humor perverso vem causando grande curiosidade desde sua exibição na competição do 82º Festival de Veneza — e o motivo está claro na tela.
No momento em que Man Soo perde o emprego, No Other Choice entra em uma espiral de situações tragicômicas. A narrativa toma seu tempo até que a premissa absurda se instale. Em um filme de pretensões sociológicas mais humanitárias, de cineastas como os Irmãos Dardenne ou Ken Loach, o desemprego seria um drama da classe média operária ou das classes marginalizadas. Como este é um trabalho de Park Chan-wook, porém, a decisão do personagem é assassinar toda a concorrência à vaga que almeja.
Aqui, na verdade, o cineasta adapta o livro The Axe (1997), escrito por Donald E. Westlake e já levado aos cinemas em 2005 com O Corte, dirigido pelo grego-francês Costa-Gavras. A visão absurda e a mescla de gêneros tão célebres no cinema sul-coreano, no entanto, caem como uma luva para esta história de teor satírico desde os seus alicerces.
A ruína cômica da vida perfeita no primeiro ato é mais uma preciosidade da carreira do diretor, que volta a um conflito central mais autêntico e urgente — algo que parecia ter abandonado no lindíssimo, porém distante, Decisão de Partir. O desenrolar do desespero desse personagem até ele decidir matar os candidatos à vaga é retratado com uma mescla de escracho e elegância que lembra o espectador de que, se forem somados 50 cineastas estilosos de Hollywood, corre-se o risco de não alcançar Park.
Frustra um pouco que, à medida que as mortes vão se acumulando, o filme não aproveite tanto as possibilidades de violência e de risco. Existem bons confrontos verbais e dramáticos nessa segunda parte, mas a sensação é de que algumas coisas estão sendo apenas arbitrariamente adiadas.
Ainda assim, a maneira como o diretor resolve o drama central e lida com os coadjuvantes da família como partes dessa ruína proporciona alguns momentos tragicômicos memoráveis. Uma pena que a investigação em torno dos crimes também seja pouco inspirada e, lá pelas tantas, afete um pouco o ritmo.
O fato de o enunciado social ser óbvio não prejudica No Other Choice. Park Chan-wook não perde tempo lamentando a falência do sistema. A atmosfera, desde o começo, grita que a realidade é essa — e vamos ver como lidamos com ela. Não há uma utopia conquistada aqui, apenas um esforço vazio por uma vida igualmente vazia, mas que se julga importante.