História de mulheres sonhadoras emociona em 'Dolores', de Marcelo Gomes e Maria Clara Escobar
'Dolores', do pernambucano Marcelo Gomes e da carioca Maria Clara Escobar, foi exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Publicado: 24/10/2025 às 20:41
Três diferentes gerações de mulheres sonhadoras é destaque do filme (Foto: Joana Luz)
Falta pouco para Dolores (vivida por Carla Ribas) completar 65 anos, mas uma premonição coloca sua vida de cabeça para baixo. Em sua visão, ela abre um grande cassino, não antes de apostar o dinheiro da venda da própria casa. Paralelamente, sua filha Deborah (Naruna Costa) aguarda a saída do marido da cadeia. Já a neta, Duda (Ariane Aparecida), recebe uma perigosa oferta para viver nos Estados Unidos.
Os sonhos dessas três mulheres vão costurar a bonita narrativa de Dolores, novo filme do pernambucano Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus), dirigido em parceria com Maria Clara Escobar e exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, após a passagem pelo 27º Festival do Rio. O argumento é o último assinado pelo saudoso Chico Teixeira, cineasta e roteirista que faleceu em 2019, e explora sobretudo a beleza e a melancolia envoltas na força de vontade feminina brasileira.
A estrutura alterna entre essas diferentes perspectivas (incluindo Marlene, ótima coadjuvante interpretada por Gilda Nomacce) e, frequentemente, embarca em uma chave onírica para salientar a intensidade do desejo de em fazer seu sonho dar certo. A estilização pontual nas cenas em que a protagonista vai jogar é sintomática da intenção dos realizadores de fazer com que a plateia mergulhe nos sentimentos da personagem sem julgá-la — como bem destaca Marcelo, em conversa exclusiva com o Viver.
“O público tinha que acreditar nos sonhos da Dolores, então pensamos em fugir dessa linguagem clássica em que o onírico só acontece quando o personagem está, de fato, dormindo. Aqui, o sonho e a realidade são quase indivisíveis”, explica o diretor. “É muito bom fazer um filme em que você instigue a memória e a imaginação do espectador, e eu acho que esse nosso trabalho busca fazer exatamente isso. Premonitórias ou não, as visões de Dolores de fato alteram todo o curso das vidas à sua volta”, acrescenta.
Bem delineadas desde o argumento, essas histórias que circundam a personagem principal possuem ainda outra camada. Maria Clara Escobar enfatiza que Chico Teixeira queria explorar o universo fora dos presídios, revelando as dores e os anseios daquelas que esperam seus amados serem libertos.
“Ele vinha pesquisando muito sobre o dia a dia dessas mulheres que estão em momentos diferentes da vida, mas sentindo esse mesmo drama da ausência dos que estão encarcerados”, conta a cineasta. “Fazemos filmes com muito amor pelos personagens, então todo esse material que ele nos deixou antes de partir foi essencial para que pudéssemos nos aprofundar nesse mundo feminino tão complexo e pulsante”.
Carla Ribas (Aquarius e Ainda Estou Aqui) revela que a sessão da Mostra foi a primeira vez em que assistiu ao filme completamente entregue às emoções. “Das duas primeiras vezes que vi Dolores, estava muito tensa ainda, mas agora fiquei profundamente tocada com a beleza do ato de acreditar no sonho. Isso é tão brasileiro e tão humano porque, apesar de tudo, de todas as dificuldades, existe um povo inteiro que deseja as mais ousadas realizações”, reforça a atriz. “Ela aposta tudo naquele sonho e, quando aquilo é compartilhado pelas outras personagens, tudo se torna ainda mais poético.”
Dolores ainda não tem data de estreia confirmada nos cinemas.