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Em 'Bugonia', Emma Stone é sequestrada para admitir ser uma alienígena

Diretor Yorgos Lanthimos (de 'A Favorita' e 'Pobres Criaturas') retoma parceria com Emma Stone e Jesse Plemons em uma bizarra tragicomédia de ficção científica

Andre Guerra

Publicado: 19/10/2025 às 15:56

Atriz vencedora de dois prêmios de Melhor Atriz no Oscar pode conquistar mais uma nomeação/Atsushi Nishijima/Focus Features

Atriz vencedora de dois prêmios de Melhor Atriz no Oscar pode conquistar mais uma nomeação (Atsushi Nishijima/Focus Features)

Decadência moral, distopias absurdas, classe, niilismo e apatia. Esses sempre foram tópicos caros à filmografia do diretor Yorgos Lanthimos, especialmente em longas cínicos e cruéis como Dente CaninoO Lagosta O Sacrifício do Cervo Sagrado. Os personagens são, de modo geral, peças de um tabuleiro sádico do destino e não têm tanto poder de agência diante dos males do mundo (ou deles mesmos).

A partir de seus dois maiores sucessos, A FavoritaPobres Criaturas, o cineasta grego consolidou a atriz Emma Stone como sua musa e, agora com Bugonia, trazido ao Brasil em primeira mão pela 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ele parece ter encontrado um equilíbrio entre a misantropia seca de seus primeiros projetos e o humor do absurdo visualmente possibilitador dos seus filmes oscarizados.

Em tempo: Bugonia é, na verdade, uma refilmagem do filme sul-coreano Save the Green Planet!, de 2003, que não chegou a ter lançamento brasileiro. Na trama original, o CEO de uma companhia farmacêutica era sequestrado por um homem psicologicamente instável com a ajuda de sua namorada emocionalmente dependente — e por eles forçado a admitir ser um alienígena enviado para se misturar aos humanos e destruí-los.

Aqui, as alterações principais feitas pelo roteirista Will Tracy são colocar uma mulher (Emma Stone) no papel do bilionário e um primo (Aidan Delbis) no lugar do que antes era a companheira do protagonista. Apesar de parecerem mudanças simples, elas são bastante significativas para a relação ambígua do público com aqueles personagens — e a excelente interpretação da vencedora do Oscar por La La Land Pobres Criaturas é a chave disso, assim como o perturbador trabalho de Jesse Plemons como Teddy, que está convencido da invasão extra-terreste. 

Na versão sul-coreana, dirigida por Jang Joon-hwan, os gestos eram extremos e gritados, assim como a violência e as sucetivas variações de gênero. Já em Bugonia, o rigor formal de Lanthimos transforma a trama em uma jornada bem mais linear, com sua calculada simetria nos enquadramentos e suas cores simultaneamente vivas e assépticas.

Recuperando o olhar ácido e sombrio sobre as relações humanas, característica tão presente em seus primeiros filmes, o diretor tem como grande vantagem a contenção da violência gráfica. A brutalidade existe aqui, mas ocorre de maneira espaçada e espirituosa e, portanto, mais eficiente no seu efeito de choque.

Apesar de ser uma adaptação, é curiosamente um argumento sob medida para o cinema de Lanthimos. A insanidade crescente de Teddy e o comentário sobre o descaso das grandes coorporações com a vida (humana e terrestre) são tratados de modo até bem literal aqui. Bugonia advoga que, venham ou não de outro planeta, os multi-bilionários sempre serão, sob qualquer perspectiva, alienígenas.

O filme tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros no dia 13 de novembro de 2025.

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