'Frankenstein' é o filme mais expansivo e visceral de Guillermo Del Toro
Exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, 'Frankenstein', de Guillermo Del Toro, chega à Netflix em 7 de novembro
Publicado: 18/10/2025 às 18:30

Design de produção grandioso é um dos maiores destaques do filme (Netflix/Divulgação)
Uma das mais exploradas histórias do cinema e da televisão chega a uma de suas versões mais pessoais e ambiciosas até hoje, pelas mãos de quem sonha em adaptá-la há muitos anos. Dirigido por Guillermo Del Toro e trazido ao Brasil em primeira mão pela 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, antes da chegada do filme à Netflix no dia 7 de novembro, Frankenstein era um dos filmes mais aguardados do evento que segue na capital paulista até o dia 30 de outubro.
Baseado no romance seminal da literatura gótica, escrito por Mary Shelley e datado do começo do século 19, o novo trabalho do cineasta vencedor do Oscar por A Forma da Água já começa com todos os pés na porta. A sequência de abertura é uma magnífica cena de ação sobre a água congelada que impede um navio de seguir viagem — quando, de repente, surge a apavorante criatura tocando o terror em busca de "Victor", seu criador.
Del Toro, então, faz um grande flashblack para contar a história do personagem título. Cientista brilhante obcecado em criar vida a partir de restos mortais, Victor Frankenstein (vivido por Oscar Isaac) recebe o apoio de Henrich Harlander (Christoph Waltz), outro gênio da ciência com grandes recursos e vontade de concretizar aquele anseio do protagonista.
Em um segundo flashback, porém, o filme vai seguir a história pela perspectiva da criatura (Jacob Elordi) até chegar ao ponto em que a narrativa havia começado. E, embora a primeira metade seja uma versão extensa e grandiloquente da parte mais conhecida do livro, é nesse bloco do "monstro" que Frankenstein brilha de verdade.
O diretor aqui está totalmente entregue aos excessos. Mas talvez com o maior senso de propósito que já teve em sua filmografia — célebre por humanizar os monstros e revelar a monstruosidade dos humanos. Tudo é em grande quantidade: a violência, a trilha sonora, a expressividade das interpretações e a ostentação dos cenários, reforçada pela lente grande-angular, que revela os atores sempre como partes de um quadro bem maior que eles.
A cena inicial já demonstra esse tom agressivo e escandaloso do filme, mas a sua força dramática é levemente sufocada pela veia expositiva do primeiro ato. Tem algo de protocolarmente dinâmico nessa introdução do flashback introdutório e demora cerca de meia hora até que a trama encontre sua foça. Quando encontra, não perde mais.
Oscar Isaac entende muito bem também esse tom teatralizado e excessivo do diretor e mesmo que o roteiro, ocasionalmente, pule algumas etapas do seu desenvolvimento, tanto ele quanto seu principal companheiro de cena imprimem uma densidade notável àquela relação de pai e filho.
Mia Goth não dá tantas nuances a Elizabeth, sobrinha do personagem de Christoph Waltz e interesse romântico dos dois protagonistas. As suas aparições funcionam mais para compor os quadros belíssimos do cineasta mexicano e movimentar o enredo central do que dar vida própria à personagem.
Se as distorções da lente incomodam um tanto no começo, com planos médios ou closes frequentes, à medida em que a história vai se entregando à grandiosidade e aos planos abertos – que não ignoram os confrontos intimistas –, a opção pela total profundidade de campo transforma o filme em uma viagem imersiva que unifica os personagens àqueles cenários de forma indivisível.
A presença física de Jacob Elordi como a criatura impressiona ainda mais do que o extraordinário trabalho de maquiagem e figurinos. O galã de Euphoria, Priscilla e Saltburn vai tomando o filme para si à medida em que aprende a falar e transforma Frankenstein, nos seus grandes momentos (são vários), em uma busca feroz pelas palavras que possam exprimir a dor da rejeição. Quando essas palvras não dão conta, o filme ruge alto e bonito.

