'Malês', de Antônio Pitanga, recapitula uma das mais importantes revoltas da história brasileira
Dirigido e estrelado por Antônio Pitanga, 'Malês' entra em cartaz nesta quinta-feira (2) no Recife
Publicado: 02/10/2025 às 06:00

Antônio Pitanga retorna à direção 47 anos depois de seu primeiro longa, 'Na Boca do Mundo' (Vintoen/Divulgação)
O maior levante organizado por escravos no Brasil é ponto de partida de um filme movido a várias paixões pelo cinema, lideradas por uma das grandes lendas vivas da sétima arte nacional. Esse ícone é o ator Antônio Pitanga, que, em Malês, já em cartaz no Recife, assina também a direção — em seu primeiro trabalho por trás das câmeras desde sua estreia como cineasta no longa Na Boca do Mundo, lançado em 1979.
Essa obra de cinematografia propulsiva, escrita por Manuela Dias, autora da nova versão de Vale Tudo, e ambientada em 1835, mostra as condições difíceis vividas por homens e mulheres baianos negros durante o século 19, época em que a Revolta dos Malês mobilizou a população escravizada e liberta. As ruas de Salvador foram ocupadas em um movimento que lutava ainda contra a intolerância religiosa e combatia a pobreza extrema enfrentada pelos povos de matriz africana. Africanos muçulmanos encabeçaram o levante, que ocorreu no final do Ramadã, celebrado pelo Islã.
O momento marcou esse triste e violento período da história brasileira e “Eles estão preparados para nossa força, não para nossa inteligência”, diz a certa altura Pacífico Licutano (interpretado por Pitanga), um escravizado malê que instiga a união de distintas tribos e religiões para o sucesso da revolta. Destacam-se ainda no elenco Camila Pitanga, como Sabina; Rocco Pitanga, como Dassalu; Thiago Justino, como Luís Sanim, e ainda uma marcante participação de Patrícia Pillar no papel da cruel fazendeira e comerciante de escravos Mamãe A.
Em entrevista exclusiva concedida ao Viver, Antônio Pitanga menciona a importância da linguagem do audiovisual para dar vida a uma história que precisa ser sempre lembrada pelo povo brasileiro. “O cinema consegue te transportar para aquele período histórico tão cruel e que precisa ser descortinado. As cenas fortes precisam ser mostradas não de maneira gratuita, mas para fazer justiça à forma como os negros foram tratados”, enfatiza.
Hoje com 86 anos, Pitanga trabalhou com os mais antológicos nomes da cinematografia nacional, como Glauber Rocha, Roberto Pires, Anselmo Duarte, Cacá Diegues, Sérgio Ricardo, entre muitos outros. Ele celebra na entrevista ter vivido tantas fases do cinema brasileiro e poder dirigir um filme como Malês em uma das mais fortes delas. “Vivi o começo e o fim do Cinema Novo e diferentes outros movimentos, então é muito bonito chegar em pleno 2025 e sentir a admiração e o agradecimento das pessoas por estarmos utilizando as telas para revelar uma história com esse poder”, comemora.
"Meu pai, como baiano, entendeu que era necessário difundir pelo Brasil uma história que exalta a autoestima brasileira", reforça Camila Pitanga. "Quando a gente fala de negros insurgentes, que poderiam modificar o seu tempo, isso é motivo de nos instigar para que a gente entenda que podemos fazer a diferença, assim como eles fizeram".

