'Uma Batalha Após a Outra', DiCaprio resgata espírito revolucionário
Leonardo DiCaprio protagoniza 'Uma Batalha Após a Outra', maior filme da carreira de Paul Thomas Anderson (de 'Boogie Nights' e 'Sangue Negro')
Publicado: 24/09/2025 às 07:00

Longa estreia nesta quinta-feira (24) (Warner/Divulgação)
Um passado revolucionário retorna com força total na vida de Bob Ferguson (interpretado por Leonardo DiCaprio), mas não exatamente como ele gostaria. Nos últimos 16 anos, ele criou sua única filha, Willa (Chase Infiniti), afastada do grupo armado do qual fazia parte, denominado French 75, mas agora, um antigo inimigo (Sean Penn) reaparece para acertar contas. Está deflagrada uma longa jornada que reúne antigos camaradas em uma missão de resgate, enquanto o país parece estar a ponto de um colapso de revoltas populares.
Uma Batalha Após a Outra, em cartaz no Recife a partir desta quinta (25), é a aposta mais ambiciosa em escala de produção da carreira de Paul Thomas Anderson. O diretor de Magnólia, Sangue Negro e Trama Fantasma é mais conhecido pela aclamação dos seus longas do que por sucessos de bilheteria, mas o clamor por uma grande consagração — sobretudo no Oscar — é apenas metade da justificativa para ele comandar um projeto desse risco e magnitude. A outra metade, evidentemente, é a presença de DiCaprio, aqui em mais um grande papel e com boas chances de chegar à oitava nomeação ao prêmio da Academia.
Livremente inspirado no livro Vineland, escrito por Thomas Pynchon e lançado em 1990, Uma Batalha Após a Outra é também o primeiro trabalho de Paul Thomas Anderson ambientado na América contemporânea desde Embriagado de Amor, de 2002. E a urgência dos tempos atuais se faz notar mais do que nunca em sua filmografia. Não se trata de um filme de ação no sentido típico da palavra, mas uma obra de deslocamento constante e quase maníaco. Há, sim, ótimos blocos pontuais de ação, mas eles são sempre galgados no realismo mais pé no chão que uma ficção de pretensões épicas conseguiria.
O longo primeiro ato é dominado pelo magnetismo de Perfidia (personagem de Teyana Taylor), companheira de Bob e mãe de sua filha. É um começo que aponta em uma direção politicamente bem mais engajada do que a segunda metade vai se revelar, já que a passagem de tempo vem tomada por certa alienação desse caos social. Entra em cena a grande revelação do filme: Chase Infiniti, jovem atriz que promete se tornar um nome requisitado nos próximos anos.
Nessa epopeia de resgate, Bob segue os rastros do que um dia foi seu espírito de luta, mas mal se recorda dos códigos e senhas da equipe. A busca pela filha é, portanto, o grande motor de um filme em que o ímpeto revolucionário passeia pela trama de maneira periférica, sem nunca se transformar na razão de ser do roteiro. A importante ajuda de Sensei (Benicio del Toro), sujeito prático e objetivo, evidencia ainda mais certa resignação diante da real mudança no estado das coisas, assim como o excepcional senso de humor do texto.
Paul Thomas Anderson revela, na prática, a impossibilidade de conter a desordem moral de autoridades violentas. E, ao optar por afunilar-se em uma vibrante e musculosa sequência de perseguição, Uma Batalha Após a Outra empurra sua odisseia revolucionária para longe do caos urbano e atesta que, da cidade ao velho oeste, essa América de hoje afinal, retrocedeu. Filme grande em todos os sentidos.




