‘A Longa Marcha: Caminhe ou Morra’ é propositalmente exaustivo
Baseado em livro de Stephen King, ‘A Longa Marcha: Caminhe ou Morra’, em cartaz no Recife, é implacavelmente violento e tem elenco forte
Publicado: 18/09/2025 às 14:00

Amizade construída entre David Johnsson e Cooper Hoffman é principal elo emocional entre filme e espectador (Lionsgate/Divulgação)
A regra não poderia ser mais clara: continuar caminhando a mais de 5 km por hora ou terminar com o rosto caído no asfalto. Esse é o campeonato brutal a que um grupo de jovens é submetido em uma distopia ambientada ao longo de alguns vários lugares dos Estados Unidos de uma época também indeterminada. Adolescentes e jovens adultos são obrigados a fazer a inscrição para essa prova, transmitida para toda a nação, que os coloca para andar numa estrada sem fim. Não há linha de chegada. Tudo só termina quando um único competidor estiver de pé.
Essa é a premissa — e basicamente todo o desenrolar — do cruel e implacável A Longa Marcha: Caminhe ou Morra, em cartaz a partir desta quinta (18) no Recife. Baseado no romance homônimo de Stephen King, publicado em 1979 sob o pseudônimo de Richard Bachman, o filme conta com a direção sempre firme de Francis Lawrence, que ficou mais conhecido por todos os filmes da saga Jogos Vorazes com exceção do primeiro, e que, agora em um jogo verdadeiramente voraz, pesa a mão de vez.
Toda a dramaturgia é acompanhada pela perspectiva de Ray (vivido por Cooper Hoffman), desde a despedida da mãe no início até os breves flashbacks que tiram o espectador da estrada por alguns segundos. A amizade feita com Peter (David Johnsson), Hank (Ben Wang) e Arthur (Tut Nyuot), além de outras interações improváveis, é ao mesmo tempo a ferramenta contraintuitiva que mantém esses personagens motivados a continuar e, por outro lado, a sentença de seu cansaço. Afinal, enquanto um estiver ajudando o outro a sobreviver à prova, mais tempo vai demorar até que sobre apenas um deles.
A Longa Marcha não se esquece desse dilema nem por um minuto de sua duração e se apoia inteiramente nas ótimas interpretações — destaque para David Johnsson, de Alien: Romulus — para reforçar o apelo emocional. A estrada sem fim não demora a explicitar seu caráter alegórico, mas a condução sóbria de Francis Lawrence procura não estilizar demais esse percurso. Sua câmera fica muito mais tempo em planos médios dos personagens, movimentando-se precisamente na sua velocidade, do que exaltando paisagens ou dinamizando os espaços.
Nem todos os diálogos parecem perfeitamente orgânicos nessa jornada de eixo único. Frequentemente o espectador sente o texto arbitrariamente direcionando nossa atenção para personagens que, convenientemente, terão mais ou menos importância em determinadas cenas. O resultado disso é ao mesmo tempo organizado, do ponto de vista da estrutura, e algo calculado também.
A violência extrema, cujo poder de choque se dá logo nas primeiras cenas, jamais dá descanso ao espectador. Escrito/adaptado por JT Mollner (responsável pelo thriller Desconhecidos), o roteiro encontra pequenas catarses sentimentais na relação entre os personagens, já que a narrativa, em linhas gerais, passa longe de qualquer respiro otimista. A Longa Marcha não deixa de ser exaustivo como experiência visual e dramática, mas é deliberado. O horizonte de paz social — literal e simbólico — é aqui realmente inalcançável.

