'Cronos: The New Dawn' traz horror, tensão e sobrevivência na medida certa
Fãs de terror podem esperar ambientes pesados, combates desafiadores e um futuro otimista para a Bloober Team.
Publicado: 03/09/2025 às 11:00

Ambientação (Bloober Team/Divulgação)
Fazer jogos de horror não é tarefa fácil. Embora populares no cenário independente, as grandes desenvolvedoras da indústria, que lançam os chamados 'triplo-A', passaram a última década dando pouca atenção aos títulos mais assustadores e, dada a raridade de jogos grandiosos, os títulos que vêm carregando um lançamento esperado acabam também levando consigo uma grande responsabilidade que, na maioria das vezes, não se sustenta.
Mas os ventos estão mudando. Nos últimos anos, jogos de terror 'AAA' ou 'AA' estão ganhando vida e se destacando em crítica e recepção, abrindo caminho e dando coragem para que grandes desenvolvedoras confiem nessa maré tão promissora.
Uma dessas equipes é a polonesa Bloober Team que, após empilhar lançamentos satisfatórios, mas não tão empolgantes aos olhos do público, ganhou, em 2024, a responsabilidade de comandar o remake de um dos maiores jogos de horror de todos os tempos: 'Silent Hill 2'. Sendo o sucesso que foi, a desenvolvedora ganhou notoriedade e passou por cima das desconfianças, conquistando espaço e boa vontade para seu atual lançamento 'Cronos: The New Dawn', disponível no próximo dia 5 para PC, via Steam, Epic Games e GOG (R$ 249), Xbox Series (R$ 249,95), Nintendo Switch 2 (R$ 249,00) PlayStation 5 (339,90).
Em um futuro onde o mundo parou devido a um evento cataclísmico, a Viajante, figura misteriosa que faz parte de uma organização chamada apenas de 'O Coletivo', recebe a tarefa de investigar a praga que levou os humanos a se tornarem monstros grotescos e sanguinários. À medida em que sua jornada se desenrola, ela precisa voltar no tempo, à brutalista Polônia dos anos 80, para resgatar pessoas-chave em sua busca pela verdade.
CRONOS: THE NEW DAWN
Como dito anteriormente, fazer um jogo de horror não é tarefa fácil. Buscar o balanço entre elementos que compõem um survival horror, como o que temos aqui, pode se tornar um desafio complicado em que muitos jogos promissores já se mostraram incapazes de realizar. Porém, graças à experiência acumulada na última década, tempo que a Bloober Team se propôs a focar em jogos do gênero, 'Cronos' apresenta um equilíbrio bastante saudável entre o medo e ação que se propõe a entregar.
Se passando em um período explicitamente inspirado nos anos de pandemia, onde fomos bombardeados diariamente com recomendações de racionamento e higienização, o jogo traz uma situação parecida, mas que escalou de uma maneira apocalíptica.
Por meio de cartas, somos apresentados aos estágios do contágio da região de New Dawn, onde acontecem passado e futuro. Esses documentos nos apresentam horrores que conseguimos nos identificar, como as mudanças no cotidiano, isolamento de familiares e danos à saúde mental, que cumprem seu papel de contar a história do local onde o jogo toma lugar. O texto do game, de forma geral, é inteligente, usando os diálogos para humanizar personagens cujos rostos nunca são vistos, enquanto o roteiro nos oferece vislumbres dosados da história que perseguimos, não sendo exatamente brilhante, mas interessante o suficiente para deixar uma pulga de curiosidade atrás da orelha.
Junto à isso, o clima criado pelo ambiente sempre opressor e hostil nunca deixa o jogador relaxar de fato. A ambientação é primorosa e todos os elementos de arte conversam entre si. A iluminação, intencionalmente fraca, deixa o medo suspenso no ar; os efeitos sonoros, com seus barulhos orgânicos que sempre dão a sensação de que há algo à espreita - mas usados com inteligência o suficiente para explorar a claustrofobia causada pelo silêncio - eleva a tensão de forma sutil e competente.
Os visuais somam à tudo isso. A nossa protagonista, que usa uma roupa que lembra um escafandro usado por mergulhadores antigos - decisão perigosa, já que nos faz sentir fisicamente afastados dela, mas o ótimo texto compensa em formato de empatia -, passa uma sensação de aprisionamento e isolamento por si só. Não é para menos, já que o horror corporal, trazido de forma crua nas paredes, nos tetos, nas ruas e nos grotescamente bonitos inimigos que encontramos, causa um asco instantâneo, nos fazendo querer estar o mais isolado possível daquilo, rezando para que toda aquela carne podre não nos encoste.
O level design trazido aqui não só sabe disso, mas nos desafia para tal, explorando o uso de ambientes apertados. Porém, faz tudo isso de forma a reforçar a linearidade do jogo, de modo harmônico com as mecânicas trazidas e muito bem exploradas por ele. O mapa explora o uso de 'foreshadowings' que aumentam a tensão, já que traz ao jogador a sensação que 'vai dar ruim', mas deixa aberta o 'quando'. Aqui ou ali, a distribuição de obstáculos peca por alguns excessos, como o uso dos monstros grudados nas paredes ou as paredes estreitas que o jogador precisa atravessar, o que diminui o ritmo do game.
Felizmente, isso não faz com que o jogo perca um de seus maiores destaques: a fluidez. Essa junção de level design linear com o roteiro que nunca deixa a história cair faz com que 'Cronos' seja um jogo que tem uma gameplay agradavelmente fluida, apresentando novas armas, mecânicas e fases de forma a parecer natural ao jogador. O ritmo do jogo é tão bem criado que até torci para que os momentos de conversas ou cutscenes passassem logo para voltar àquele mundo tão bem desenvolvido.
Apesar de ser linear e ter seus mapas desenhados ao redor disso, a exploração é incentivada, recompensadora e exige backtracking apenas para os mais completistas, até porque grande parte da história dos personagens apresentados é contada através das cartas que encontramos, além da necessidade que temos por munição, que não é exatamente escassa, mas exige de certa tática de gerenciamento, já que somos presenteados com uma quantidade grande de inimigos.
O game apresenta um desafio moderado, mas o suficiente para que o jogador sinta a necessidade de usar bem as armas apresentadas e dose as ações nos combates, onde quantidade é sinônimo de qualidade. As lutas com os inimigos comuns se beneficiam do ritmo balanceado e do número de infectados, já que a premissa aqui é não deixar eles se fundirem e, por consequência, se tornarem mutações mais fortes e perigosas. Entretanto, as batalhas com os chefes, por naturalmente denotarem mais tempo e se concentrarem em um inimigo apenas, não as acompanham. Fora a duas ou três lutas realmente desafiadoras, que estimulam o uso do terreno e trazem uma movimentação mais complexa, as boss fights apenas exploram a ‘barra de vida’ maior do inimigo, sendo pouco brilhantes em relação ao resto do combate e não somando em relação à tensão.
Embora seja um survival horror, elementos de horror psicológico estão presentes, mas passam boa parte do jogo sem serem usados. Até certa altura, dependendo das escolhas feitas - o jogo permite algumas delas e tem até finais diferentes - a quantidade de alguns aspectos que aumentam o fator mental são deixados de lado, mas quando aparecem, são usados de forma que deixam o jogador até desnorteado, no bom sentido.
Se o remake do Silent Hill 2 fez a Bloober Team se redimir para alguns, ‘Cronos: The New Dawn’ permite que a desenvolvedora tenha seu nome lembrado quando o assunto é horror, permitido que os fãs do gênero, como eu, se sintam animados com o futuro da empresa polonesa.

