° / °

Viver
CINEMA

Em 'Querido Mundo', de Miguel Falabella, o amor renasce das ruínas

Mistura de drama com comédia absurda, 'Querido Mundo' estreou na competição do 53º Festival de Cinema de Gramado

Andre Guerra

Publicado: 20/08/2025 às 06:00

Eduardo Moscovis e Malu Galli são maior destaque do filme/Divulgação

Eduardo Moscovis e Malu Galli são maior destaque do filme (Divulgação)

Pode o amor renascer dos escombros? Querido Mundo, novo filme do autor, ator e diretor Miguel Falabella, que estreou na competição do 53º Festival de Cinema de Gramado, faz essa pergunta e desafia o próprio público a responder. Adaptado da peça escrita em 1993 pelo próprio Falabella com sua colaboradora de longa data, a saudosa Maria Carmem Barbosa, o longa explora melancolia com humor absurdo em uma chave assumidamente teatral, que reúne várias características reconhecíveis da dupla.

Na trama, ambientada em uma pequena cidade do Rio de Janeiro, Elsa (Malu Galli, a tia Celina de Vale Tudo) vive um relacionamento bruto com seu marido, Gilberto (Marcelo Novaes). Paralelamente, Oswaldo (Eduardo Moscovis) também passa por problemas em sua vida de casado com Odília (Danielle Winits). A queda de uma ponte e, depois, a explosão de um botijão de gás, no entanto, provocam a união pitoresca e improvável entre Elsa e Oswaldo nas ruínas de um apartamento completamente destruído e prestes a desabar.

A primeira metade do longa tenta conciliar diferentes polos de tom e nem sempre encontra sua atmosfera verdadeiramente, sobretudo porque algumas presenças remetem demais a suas próprias personas e participações televisivas (sendo Danielle Winnits o exemplo principal), enquanto temáticas importantes do ponto de vista de problematização, como a violência doméstica, são mostradas de maneira algo datada.

Refletindo a tentativa de reencontrar esperança em um mundo que parece em ruínas, o filme é mais feliz na segunda parte, quando foca no isolamento de Galli e Moscovis. O preto e branco da fotografia ganha cor no belo trabalho da dupla, que encontra uma graça escandalosa no meio de uma tragédia de sobrevivência. A dor da perda, então, renasce em forma de romance e o filme abraça a fábula com ternura e ingenuidade.

“Foi muito emocionante para todos nós ver na tela o resultado de algo que envolveu um trabalho técnico tão cuidadoso”, conta Falabella em entrevista exclusiva ao Viver, em que aproveita para mencionar sua forte ligação com o nosso povo. “A musicalidade, os sotaques e as histórias de Pernambuco fazem parte da minha vida desde quando participei da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém”, enfatiza.

De acordo com Falabella, a história de Querido Mundo nasce de uma situação real que envolveu a explosão de um botijão em um apartamento nos anos 1990 e deixou uma mulher presa sozinha no local, semelhante ao que acontece no filme. Realidade e fantasia, aqui, são quase sempre uma coisa só.

Mais de Viver