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Lenda inspira terror equatoriano ‘Chuzalongo’, exibido no Cinesur

‘Chuzalongo’, terror de ampla repercussão no Equador, participa da competição de longas sul-americanos o 3º Bonito Cinesur – Festival de Cinema Sul-Americano

Andre Guerra

Publicado: 31/07/2025 às 19:04

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(Divulgação)

Vagamente inspirado em uma lenda secular do Equador, o filme de horror e fantasia Chuzalongo, exibido na competição de longas sul-americanos do 3º Bonito Cinesur – Festival de Cinema Sul-Americano, une tradições célebres do cinema de gênero com preocupações estéticas caras ao cinema ambientalista.

A história se passa no final do século 19, várias décadas após a independência do país da Espanha. No prólogo, a narração expõe a lenda que da título ao filme, só que em uma versão bastante distinta da original: uma jovem indígena dá à luz um bebê branco e morre no parto, ao passo que seu pai decide deixar a criança à mercê. O menino, no entanto, sobrevive. Melalo (Wolframio Sinué), então, descobre que seu neto se transforma em uma fera com sede de sangue durante a noite e tem também o poder de fazer florescer a colheita.

Adiante, um padre (Bruno Odar) cheio de ideais reformistas para com a distribuição de terras, concentradas nos grande produtores que exploram a mão de obra indígena, acaba encontrando essa criança e resolve adotá-la. A tentativa de domar o indomável, porém, vai custar carro.

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(crédito: Divulgação)

Dirigido e escrito por Diego Ortuño e produzido ao longo dos últimos sete anos, Chuzalongo vem sendo um sucesso nas premiações do Equador e agora começa a circular pelo mundo. No Brasil, ele já havia sido exibido no Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa), e, agora no Cinesur, ganha mais um espaço de diálogo com um público que ainda não tem o devido acesso ao audiovisual equatoriano.

Entre todos os filmes da competição de longas desta edição do evento sul-mato-grossense, este trabalho de Diego Ortuño é, esteticamente, o mais estimulante. A grandiosidade das montanhas captadas de maneira impressionantemente alta chama tanta atenção quanto o uso das cores da mata durante o dia, que às vezes até foge do naturalismo visual para transmitir o aspecto gradualmente mais fantasioso do roteiro, que trata o meio ambiente como um protagonista temático e dramático da narrativa.

Fica evidente que muitas ideias e signos da lenda original precisaram ser modificados para que a trama que envolve o vilanesco dono de terra Don Alfonso (Alex Cisneros) pudesse se encaixar. Assim, apesar do ritmo vagaroso e contemplativo da primeira parte, Chuzalongo se revela um filme de horror até bastante convencional nos seus desdobramentos. A obra evita, inclusive, o excesso de violência provavelmente para se manter fiel a uma proposta de fantasia mais ingênua, o que, infelizmente, subtrai o impacto de cenas do terceiro ato, que repetem os ataques da fera sempre do mesmo jeito.

Historicamente, o horror sempre foi um dos gêneros mais apropriados para refletir as mazelas e conflitos de um país e, por essa perspectiva, é notável como Chuzalongo dialoga com produções brasileiras do gênero, em especial As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, que, apesar da ambientação urbana de São Paulo, também opera com esses códigos: a criança-fera, o folclore nacional, a herança histórica da escravidão e a beleza escondida na monstruosidade. Apenas uma de tantas razões para que nossos cinemas sul-americanos se cruzem com mais frequência.

 Bruno Odar vive o padre Nicanor - Divulgação
Bruno Odar vive o padre Nicanor (crédito: Divulgação)

"Existem várias diferentes versões da lenda do Chuzalongo, dependendo dos lugares em que você vai do país. Diego encontrou uma boa maneira de misturar versões para poder criar essa história e debater esses assuntos", comenta, em entrevista exclusiva ao Viver, o ator Wolfriamo Sinué, que interpreta Melalo. "Meu personagem foi inventado para ajudar a sustentar essas novas ideias que o roteiro trouxe para a lenda e foi um trabalho bastante colaborativo. Eu ajudei tanto na preparação de elenco, já que também sou diretor de atores, quanto na construção geral do filme", acrescenta.

"O cinema é um instrumento muito importante para despertar a consciência das pessoas e este festival, o Cinesur, abre muitas portas entre esses distintos países da América do Sul, que tem tanta coisa em comum", ressalta na conversa. 

O 3º Bonito Cinesur chega ao fim neste fim de semana, com a cerimônia de premiação. 

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