° / °

Viver
CINEMA

Integração com América do Sul e ecologia marcam 3º edição do Bonito Cinesur

Idealizador do Bonito Cinesur, Nilson Rodrigues conversa com o Viver sobre os desafios do audiovisual brasileiro e a importância da diversidade de linguagens nos festivais de cinema

Andre Guerra

Publicado: 24/07/2025 às 11:00

Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta faz parte da competição de longas da Mostra Ambiental/Divulgação

Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta faz parte da competição de longas da Mostra Ambiental (Divulgação)

O cinema brasileiro segue expandindo seus horizontes e fomentando a sua integração os diferentes setores nacionais de produção. Uma das iniciativas pós-pandêmicas que tem se destacado nesse cenário, sobretudo pelo destaque à pasta ambiental, é o Bonito Cinesur - Festival de Cinema Sul-Americano, que chega nesta sexta-feira (25) em sua 3ª edição, no município sul-mato-grossense, seguindo até o dia 2 de agosto com uma programação que inclui mais de 60 filmes, entre produções do Brasil, Argentina, Peru, Chile, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Uruguai e Equador.

Os filmes estão divididos em cinco mostras competitivas: longas e curtas sul-americanos, filmes com foco em temáticas ambientais e obras sul-mato-grossenses, além Também fazem parte da programação as sessões infanto-juvenis, mostras da comunidade, debates, oficinas de formação e exibições especiais com filmes inéditos no circuito comercial.

'A Melhor Mãe do Mundo' é um dos representantes brasileiros na competição - Divulgação
'A Melhor Mãe do Mundo' é um dos representantes brasileiros na competição (crédito: Divulgação)

Premiado em cinco categorias do 29º Cine-PE - Festival do Audiovisual, o drama A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert (de Que Horas Ela Volta?), está na competição de longas, que inclui ainda Brasiliana, musical dirigido pelo cineasta mineiro Joel Zito Araújo. 

A lista segue com Chuzalongo, de Michelle Echeverría (Equador), drama que mergulha nas tradições indígenas, Oro Amargo, de Patra Spanou (Chile/Uruguai/Alemanha), sobre os impactos da mineração em territórios ancestrais, Quinografia, de Mariano Donoso e Federico Cardone (Argentina), que mistura ficção e memória, Rendencíon (Peru), sobre um ex-combatente à procura de redenção; e Ayhuanco, de Miguel Barreda Delgado (Peru), que aborda espiritualidade e pertencimento.

Nilson Rodrigues foi diretor da Ancine entre 2005 e 2009 - Acervo Pessoal
Nilson Rodrigues foi diretor da Ancine entre 2005 e 2009 (crédito: Acervo Pessoal)

O idealizador e diretor do festival Nilson Rodrigues conversou com o Viver com exclusividade sobre a importância da expansão do cinema através dos festivais. "Nossa maior dificuldade sempre diz respeito às condições mínimas para garantir que o evento terá continuidade. Para os projetos se afirmarem, é preciso que a gente comece sempre do zero, então termina uma edição e a gente não sabe se a próxima vai de fato acontecer", pontua. "Outros países têm sempre uma garantia de investimento, então conseguem fazer esse planejamento de longo prazo, então temos que reforçar isso para que os festivais nas suas mais diversas linguagens possam existir e se manter ao longo dos anos".

Nilson destaca também a necessidade de integração cultural brasileira com a América do Sul. "O próprio gesto de fazer o festival sul-americano, reunindo, portanto, os países fronteiriços, já demonstra que o intercâmio sul-americano é um dos debates mais caros a nós do festival. Até porque o próprio estado do Mato Grosso do Sul faz fronteira com dois países, o Paraguai e a Bolívia", lembra.

"Queremos trocar experiências, conhecimentos e fundamentalmente ganhar espaço para circulação dessas obras selecionadas entre os países. Contribuir com essa integração é contribuir para que os países latinos conheçam as cinematografias uns dos outros. Somos subordinados a uma filmografia hegemônica dos Estados Unidos e sabemos muito pouco do cinema dos nossos países vizinhos", ressalta Nilson, que, além de produtor cultural nas áreas de cinema, teatro e televisão, foi diretor da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Ainda na conversa com o Viver, o diretor do evento frisou que a questão ecológica é prioridade para o Bonito Cinesur. "O tópico ambiental é basilar na criação do festival, porque estamos em uma cidade amplamente reconhecida pela sua experiência de turismo ecológico responsável. Então é muito importante que o cinema traga para essa região uma reflexão sempre a questão ambiental, já que, inclusive, os países têm expressado essas preocupações também", conclui Nilson.

Entre os longas da Mostra Ambiental, destacam-se os brasileiros Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, de Tainá de Luccas e Marco Altebrg, Rua do Pescador Nº 6, de Bárbara Paz, Sinfonia da Sobrevivência, de Gabriela Rabaldo, além de Karuara: O Povo do Rio, de Miguel Araoz Cartagena e Stephanie Boyd (Peru), La Cuenca, de Colectivo Left Hand Rotation (Chile), Por El Paraná, de Alejo di Risio e Franco Gonzalez (Argentina).

'A Melhor Mãe do Mundo' é um dos representantes brasileiros na competição
Nilson Rodrigues foi diretor da Ancine entre 2005 e 2009
Mais de Viver