Nova novela do Globoplay, 'Guerreiros do Sol' entrelaça amor e guerra
"Guerreiros do Sol" estreia na quarta (11) e mergulha no universo do cangaço com romance, representatividade e crítica social
Pedro Cunha - Especial para o Diario
Publicado: 05/06/2025 às 15:56

'Guerreiros do Sol' é a próxima novela do Globoplay (Foto: Estevam Avellar)
No Sertão onde o sol nunca se deita em silêncio e a terra guarda em suas rachaduras os traços de amores, emboscadas e rebeldias armadas, nasce a história de Rosa e Josué. Dois jovens do Nordeste dos anos 1920 que, em meio às contradições e à guerra, escolhem se amar entre tiros e promessas.
É no cenário áspero e simbólico do cangaço, fenômeno que marcou a história brasileira com sangue, resistência e mitos populares, que se desenrola Guerreiros do Sol, nova novela original do Globoplay com 45 capítulos, que estreia na próxima quarta (11), também com exibição no canal Globoplay Novelas, substituto do Viva na plataforma.
Com criação e roteiro de George Moura e Sergio Goldenberg, e direção artística de Rogério Gomes, a trama é amplamente inspirada em Lampião e Maria Bonita, mas vai além: incorpora a força de tantos outros líderes e casais cangaceiros que cruzaram os sertões em busca de justiça e sobrevivência. Guerreiros do Sol é, sobretudo, uma história de amor em tempos de guerra, com pano de fundo o Brasil profundo e suas contradições — onde convivem o banditismo e a resistência, a paixão e o poder, a política e o perdão.
Rosa, interpretada pela atriz paraibana Isadora Cruz, é uma jovem sonhadora, inconformada com o destino imposto. Josué, vivido pelo pernambucano Thomás Aquino, é um homem íntegro, de palavra firme, que se vê transformado quando a perda o empurra para o cangaço. O romance entre os dois nasce de forma intensa, mas Rosa é forçada a se casar com o coronel Elói (José de Abreu), latifundiário viúvo da fictícia cidade de Santa Cruz.
A ruptura leva Josué a se juntar ao bando de Miguel Ignácio (Alexandre Nero), ao lado dos irmãos Milagre (Ítalo Martins), Sabiá (Vitor Sampaio) e Arduíno (Irandhir Santos), e iniciar uma jornada de fogo e fé.
“Rosa representa tantas mulheres que nunca tiveram voz. É uma mulher que busca liberdade, independência e propósito de vida. Dentro do estereótipo que esperam de uma Maria Bonita, Rosa se impõe como protagonista da própria história. Isso, para mim, é revolucionário”, diz Isadora.
Mais do que viver o papel, ela conta que sentiu o peso e a espiritualidade da experiência. “Senti que estava em contato direto com a ancestralidade dessas mulheres sertanejas. Visitei a Grota de Angico, local onde Maria Bonita foi morta, e pedi licença para entrar e sair dessa história. Tinha uma densidade ali. Uma presença real.”
Na novela, o protagonismo feminino é visível e necessário. “Em 1920, não existia sororidade. As mulheres eram criadas para competir entre si. A novela traz esse olhar diferenciado. Colocar uma mulher como centro da narrativa é contar uma história autêntica, feita por e para mulheres. Algo urgente para essa geração”, completa Isadora.
A conexão com o Sertão também marcou Thomás Aquino, que define Josué como um de seus papéis mais intensos: “É um personagem que me atravessou. Um homem amável, de valores, mas que se perde quando o poder sobe à cabeça. E, de repente, se vê diante de Rosa, e tudo muda.”
CONSULTORIA
Para sustentar o rigor histórico e simbólico da trama, a novela contou com a consultoria do historiador Frederico Pernambucano de Mello, referência nacional sobre o cangaço e autor do livro Guerreiros do Sol (1985), que inspirou o título da obra. “O cangaço é a maior mitologia popular que o Brasil produziu. Representava um poder paralelo ao do coronel”, explica o pesquisador, que leu todos os capítulos e orientou a construção da trama.
George Moura, um dos autores, afirma que a novela chega “com o pé na tradição e o desejo apaixonado de renovar”. Já Sergio Goldenberg reforça: “É impossível entender o Brasil sem passar pelo cangaço. Ele está no nosso imaginário: na música, nas festas, no artesanato. Aqui, mostramos desde a formação dos bandos até o depois.”
A força feminina também se expressa em Guerreiros do Sol por meio da representatividade LGBTQIAPN+. Um dos romances retratados na novela é vivido pelas personagens Otília (Alice Carvalho) e Jânia (Alinne Moraes), em meio à rigidez social do Sertão.
Otília é uma jovem tímida, ligada à irmã Rosa, com quem se muda para a fazenda do coronel Elói. É lá que conhece Jânia, mulher à frente de seu tempo, que lhe ensina a ler e se torna também sua companheira afetiva.
Alice, que é uma mulher lésbica, destacou a coragem da obra: “Essa é uma das novelas mais corajosas dos últimos tempos. Reparação histórica é algo que a gente falava muito, mas tem um outro termo que eu adoro que chama reconstrução de imaginário”, expressa a atriz.
Toda a potência dessa narrativa ganhou forma ao longo de oito meses de gravações, iniciadas no Rio de Janeiro e concluídas no Sertão nordestino, onde a equipe permaneceu por dois meses. Ao todo, mais de 250 profissionais estiveram envolvidos na produção, com quatro equipes simultâneas de gravação e uma ambientação robusta que garantisse autenticidade visual e emocional à novela.

