Reaviva Brasil aposta no acolhimento familiar e na prevenção para proteger crianças em situação de vulnerabilidade em Olinda
ONG funciona há 11 anos promovendo acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
Publicado: 31/12/2025 às 07:00
A Reaviva Brasil é uma organização da sociedade civil que atua há 11 anos no acolhimento e na proteção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade no município de Olinda, no Grande Recife. A ideia de uma casa de acolhimento específica para meninas nasceu de um sonho do casal Andy Robert e Rose, que, em 2014, iniciou na prática o acolhimento institucional.
Desde então, mais de 100 crianças já passaram pelos serviços da organização. Atualmente, a atuação da Reaviva promove acolhimento institucional, acolhimento familiar e ações de prevenção em comunidades vulneráveis, explica João Bento, integrante da equipe de liderança da Reaviva.
“O acolhimento não começa de forma improvisada. Existe toda uma regularização, formação de equipe e preparação para que a criança chegue a um espaço realmente seguro”.
O serviço de acolhimento institucional da Reaviva funciona em uma casa destinada exclusivamente para meninas entre 7 e 15 anos. Por questões de segurança, o endereço não é divulgado. A casa tem capacidade para até dez acolhimentos simultâneos, e abriga, atualmente, oito meninas.
As crianças chegam exclusivamente por encaminhamento do Conselho Tutelar ou da Vara da Infância, após a constatação de violações de direitos como negligência, violência física, psicológica ou abuso sexual. O processo de acolhimento é uma etapa de segurança para essas crianças. Durante o período, a justiça avalia se há possibilidade de reintegração familiar ou, em alguns casos, a destituição do poder familiar e o encaminhamento para adoção.
“Muita gente confunde acolhimento com adoção, mas são coisas completamente diferentes. O acolhimento é temporário, um cuidado enquanto a Justiça define o futuro da criança. Não é regra que a criança acolhida vá para adoção. O acolhimento é um espaço de proteção enquanto o processo jurídico acontece. Muita gente imagina que a casa de acolhimento possa simplesmente trazer uma criança da rua, mas isso não funciona assim. Existe um controle social e jurídico muito rigoroso para garantir a proteção dessa criança”, afirma João.
O acolhimento é sempre provisório, mas não é por isso que não há esforço em fazer desse momento algo especial e produtivo para a criança. Durante o período em que permanecem na instituição, as acolhidas mantêm uma rotina semelhante à de qualquer outra criança: frequentam a escola, têm acesso à saúde, lazer e convivência comunitária, além de acompanhamento psicossocial.
“Aqui é uma casa como outra qualquer. A diferença é que, no fim do dia, essas crianças estão sob uma medida protetiva”, resume.
Acolhimento familiar
Em 2022, a Reaviva tornou-se a primeira organização da sociedade civil a implementar o serviço de acolhimento familiar no município de Olinda. A modalidade é considerada prioritária pelo ECA e prevê que crianças de até 11 anos sejam acolhidas temporariamente por famílias capacitadas e acompanhadas pela equipe técnica.
“O Estatuto da Criança e do Adolescente deixa claro que a primeira opção de acolhimento deve ser o ambiente familiar. A criança se desenvolve melhor quando está em uma família, mesmo que de forma provisória”, destaca João Bento.
Atualmente, o serviço conta com oito famílias cadastradas, das quais cinco estão com crianças, meninos e meninas, acolhidas. O acolhimento familiar não se confunde com adoção e tem prazo máximo legal de até 18 meses. As famílias acolhedoras recebem acompanhamento contínuo e uma bolsa-auxílio equivalente a um salário mínimo, destinada às despesas da criança.
“A gente nunca quer que o dinheiro seja o principal motivador, mas sabemos que muitas famílias têm disposição e amor, mas não têm condição financeira. Esse auxílio garante que a criança seja bem cuidada”, pontua.
Atuação comunitária
Além do acolhimento, a Reaviva investe em ações de prevenção na comunidade de Aguazinha, em Olinda, por meio de parcerias com lideranças locais e instituições religiosas.
Entre as iniciativas está um projeto de Jiu-Jitsu que atende mais de 50 crianças e adolescentes, além de um mercado comunitário que beneficia 25 famílias em situação de insegurança alimentar.
“A prevenção é uma forma de mudar a rota da vida dessas crianças antes que a violação aconteça. A gente percebe que, quando a criança está ocupada com esporte, informação e convivência saudável, ela fica menos exposta a situações de violência e aliciamento”, diz João.
Motivação
João destaca a importância do trabalho pelo pela instituição, que nem sempre é plenamente compreendido.
“É um trabalho de plantar sementes, irrigando e cuidando dessas vidas de uma forma que elas se sintam reestruturadas. É papel nosso restaurar a autoestima dessas crianças e adolescentes e sermos exemplos de pessoas e cidadãos, para que quando elas saírem daqui, possam lembrar que alguém cuidou e tentou direcionar para um caminho diferente", explicou, pontuando que, apesar de todas as dificuldades, existem recompensas.
"É um trabalho prazeroso, mas extremamente complexo. A gente lida com situações muito duras. As pessoas se solidarizam com a causa, mas nem sempre entendem a complexidade. Divulgação e engajamento são fundamentais para a continuidade do trabalho”.
Perspectivas
Mais do que abrir novas casas de acolhimento, a Reaviva aposta na ampliação da prevenção e na expansão do acolhimento familiar como estratégia prioritária.
“Infelizmente, se abrirmos mais casas, elas vão continuar sendo ocupadas. Por isso, nosso foco é evitar que a violência aconteça e, quando acontecer, garantir que a criança vá para uma família, não para uma instituição”, afirma João.
A organização também pretende compartilhar sua experiência com outros municípios.
“A gente quer capacitar, orientar e ajudar outras cidades a implementarem o acolhimento familiar. É uma política pública que funciona e protege melhor as crianças”, conclui.