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Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco identificam novo subgênero do coronavírus em morcegos

Em entrevista ao Diario, o pesquisador da Fiocruz Pernambuco, Gabriel Wallau, relatou que o novo subgrupo do coronavírus foi identificado em duas espécies de morcegos no Nordeste

Cadu Silva

Publicado: 19/12/2025 às 14:14

Gabriel Wallau disse que ainda não evidências de que o novos vírus possa infectar humanos/DIVULGAÇÃO/FIOCRUZ

Gabriel Wallau disse que ainda não evidências de que o novos vírus possa infectar humanos (DIVULGAÇÃO/FIOCRUZ)

Um novo subgênero do coronavírus foi identificado por pesquisadores em duas espécies de morcegos que habitam o Nordeste brasileiro. A descoberta foi publicada na revista científica Virus Evolution e envolve vírus do grupo dos betacoronavírus, o mesmo gênero do Sars-CoV-2 e do Mers-CoV.

Foi o que revelou, em entrevista ao Diario de Pernambuco, o pesquisador em saúde pública do Departamento de Entomologia e Núcleo de Bioinformática do Instituto Aggeu Magalhães, Gabriel Luz Wallau.

Segundo ele, o estudo iniciou-se entre 2018 e 2019 e foi conduzido por cientistas da Fiocruz Pernambuco, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine, da Alemanha.

As análises utilizaram a técnica de metatranscritômica, que permite identificar todo o material genético presente nas amostras.

“Essa abordagem nos permite detectar vírus que não seriam identificados por métodos tradicionais, como o PCR”, explicou o pesquisador Gabriel.

As coletas ocorreram principalmente em cavernas de Pernambuco e de outros estados do Nordeste, em centenas de morcegos de diferentes espécies. Em 19 indivíduos, pertencentes a duas espécies, foi identificado o novo subgênero, batizado de ambecovírus (American betacoronavirus).

“O vírus foi encontrado apenas em duas espécies de morcegos. Uma delas é estritamente cavernícola, o que reduz significativamente a possibilidade de contato com humanos”, afirmou Wallau.

Vigilância e impactos para a saúde pública

Segundo o pesquisador, o novo subgênero apresenta diferenças genéticas relevantes em relação aos tipos registrados, incluindo Sars-CoV-2 e do Mers-CoV. “Ele é geneticamente muito distinto. Se utilizássemos apenas testes convencionais, esse vírus não teria sido detectado”, destacou.

Apesar de integrar o mesmo gênero de coronavírus associados a surtos em humanos, não há evidências de risco imediatos a seres humanos.

“Até o momento, não existe evidência de que esse vírus seja capaz de infectar humanos. Algumas análises indicam que isso provavelmente não ocorre, mas ainda precisamos aprofundar os estudos”, explicou.

Além disso, ele alerta que a população deve manter alguns cuidados, como evitar o contato com animais silvestres e respeitar seus habitats. "isso protege tanto a saúde humana quanto a fauna e o meio ambiente".

Segundo Gabriel, a descoberta não altera as estratégias atuais de vigilância sanitária no Brasil. “As medidas continuam focadas nos coronavírus que já infectam humanos. Esse é um vírus identificado apenas em animais”, disse.

Ele aponta que o monitoramento de vírus em animais é importante para a prevenção de futuras epidemias. “A maioria dos patógenos que causam doenças em humanos tem origem animal. Conhecer os vírus que circulam na fauna permite reduzir riscos e orientar ações preventivas”, afirmou.

Os próximos passos incluem novos estudos em laboratório e em campo. “Vamos avaliar se esse vírus circula em outras espécies e se tem capacidade de infectar células. Esses dados são fundamentais para compreender se existe algum risco futuro”, concluiu.

 

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