Analista comportamental dá dicas de como evitar crises em neurodivergentes nas festas de final de ano
Analista comportamental Cinthia Cardoso aconselha que as pessoas neurodivergentes vivenciem, dias antes, situações similares às que passarão nas festas de final de ano
Publicado: 22/12/2025 às 07:13
Especialista comportamental sugere que os neurodivergentes passem por períodos de adaptação às condições similares às festas de final de ano (CRYSLI VIANA/DP)
A reunião de familiares e amigos nas festividades de fim de ano, como Natal e Réveillon, pode trazer desconforto para pessoas neurodivergentes, principalmente por conta da sensibilidade a música e luzes, além de preferências específicas relacionadas à rotina e à alimentação.
Esse incômodo está diretamente relacionado à quebra de rotina dessas pessoas, não acostumadas aos rituais e as aglomerações dessas festividades, algo completamente diferente da lógica seguida nas suas vivências diárias.
Apesar disso, existem algumas estratégias que podem ser adotadas pelos familiares para que esse incômodo seja evitado, proporcionando um momento de diversão para todas as partes envolvidas.
Segundo a analista comportamental, Cinthia Cardoso, ir acostumando pessoas neurodivergentes a comidas, decorações e roupas novas durante as semanas que antecedem o Natal e o Réveillon pode ser uma estratégia interessante para evitar possíveis crises no decorrer das celebrações.
“As pessoas neuroatípicas devem estar preparadas para essa mudança de rotina. É importante ir colocando, durante a semana, as comidas que irão compor o cardápio da festa, inseri-los na decoração, fazer vários passeios nos ambientes para que eles vejam as luzes, além de fazer a prova de roupas novas, sempre lembrando de tirar a etiqueta, explicou Cinthia, que é proprietária do Núcleo de Neurodesenvolvimento Objetivo (Nuno).
Outro ponto importante destacado pela especialista é afirmar que o Menino Jesus já nasceu, pois isso não cria uma expectativa nesse público, evitando assim uma certa decepção.
“Esses cuidados são fundamentais, porque, de uma forma geral, tanto o neuroatípico, quanto os seus familiares, não querem ser excluídos dessas comemorações. Essa exclusão tira um pouco da qualidade de vida deles. Por isso que as pessoas que estão organizando essas festas devem considerar e abraçar essas famílias”, destacou.
Comemorações nas praias
Muitas famílias vão à praia comemorar a chegada do ano novo vendo a queima de fogos de artifício. Em Pernambuco, a soltura de fogos com estampidos é proibida, prevendo aplicação de multa em caso de descumprimento da legislação.
No entanto, muitas pessoas desobedecem à legislação e utilizam esse tipo desse material com estampido, algo que pode provocar, nos neuroatípicos, segundo Cinthia, crises maiores e até uma parada cardíaca.
Nessas situações, o recomendado é fazer uma contenção suave com abraço, além de incentivá-lo a controlar a respiração. Se afastar desse local e utilizar abafadores são opções interessantes para evitar o agravamento das crises
Uma maior comunicação com os vizinhos, sejam de bairros ou de condomínios, é essencial para evitar que certas atividades e atitudes provocam crises nessas pessoas.
Outro problema relacionado a famílias que costumam ir à praia é a questão da variação de textura. O ideal é que haja um processo de adaptação das diferentes texturas, sejam no momento em que ele esteja na areia ou se molhando com a água do mar. O uso de botas aquáticas pode ser uma opção interessante para diminuir a percepção da mudança de textura.
Comemorar em lugares isolados
Para evitar qualquer tipo de problema, algumas famílias decidem ir para lugares mais afastados, onde não acontece muita movimentação que possa desencadear em um transtorno nas pessoas neurodivergentes.
Para Cinthia Cardoso, essa estratégia é interessante, mas independente do lugar, o importante é que essas pessoas se sintam bem.
“Toda opção que visa uma interação social é válida, seja na praia, no campo ou em casa. Porém, independentemente do lugar, os pais devem dar um devido suporte para que essa pessoa neurodivergente participe. Mas, caso ela tenha uma crise, o interessante é respeitar a condição dela”, finalizou.
Dicas
Antecipe o que vai acontecer (explique como será a festa: quem estará presente, horários, música e refeições. Fotos, vídeos ou histórias sociais ajudam muito)
Diminua o volume da música
Evite luzes piscantes
Cuidado com perfumes fortes
Crie um espaço de pausa (reserve um cantinho tranquilo para a pessoa se regular quando precisar)
Não force interações (cumprimentos, abraços e conversas devem ser opcionais)
Mantenha rotinas quando possível (horários de sono, alimentação e medicação devem ser preservados ao máximo)
Procure disponibilizar alimentos comuns para esse público
Tenha um plano para ir embora caso a sobrecarga no neuroatípico fique grande
Oriente familiares e convidados
Evite frases como “é frescura” ou “é falta de educação”