Aldeia Xukuru de Pesqueira é a 1ª no país a utilizar técnica natural de combate à dengue
Implantação da Técnica do Inseto Estéril (TIE), método utilizado pela primeira vez como política de saúde pública em comunidades indígenas no Brasil, foi feita na Aldeia Xukuru, em Pesqueira, no Agreste do estado
Publicado: 15/12/2025 às 14:59
Aedes aegypti transmite arboviroses (Foto: Arquivo)
A Aldeia Xukuru de Cimbres, em Pesqueira, no Agreste do estado, foi escolhida para implantação da Técnica do Inseto Estéril (TIE), um método de controle do Aedes aegypti considerado seguro, e dispensa o uso de inseticidas químicos, utilizada pela primeira vez no país como política pública.
"Reduzindo a população do mosquito, reduzimos automaticamente o risco de transmissão para os seres humanos", destacou o biomédico sanitarista e Diretor-Geral de Vigilância Ambiental de Pernambuco, Eduardo Bezerra, sobre a nova estratégia de controle, que prevê a soltura de mosquitos machos estéreis.
A ação contou com a participação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e integra um conjunto de medidas coordenadas pelo Ministério da Saúde para o enfrentamento das arboviroses, especialmente dengue e chikungunya.
A iniciativa utiliza a Técnica do Inseto Estéril (TIE), um método de controle vetorial considerado seguro, e dispensa o uso de inseticidas químicos. A tecnologia consiste na liberação de mosquitos machos esterilizados, que copulam com as fêmeas da espécie, impedindo a geração de ovos viáveis e promovendo, de forma gradual, a redução da população de mosquitos.
De acordo com Eduardo, a técnica faz parte de um programa nacional de incorporação de novas tecnologias em saúde pública. “Esse é um programa do Ministério da Saúde que reúne tecnologias que vêm sendo estudadas e testadas há alguns anos e que agora passam a ser utilizadas de forma estruturada no Sistema Único de Saúde”, afirmou.
Segundo Eduardo Bezerra, três tecnologias compõem esse programa: a Técnica do Inseto Estéril, o método Wolbachia e as estações disseminadoras de larvicida.
Em Pernambuco, duas delas já estão em desenvolvimento. “O Estado está implantando o mosquito estéril, que começa agora em Pesqueira, e também as estações disseminadoras de larvicida, que já funcionam no Recife e em Jaboatão dos Guararapes”, explicou.
Ainda segundo o diretor, os mosquitos utilizados na ação não são introduzidos de outras regiões. Os ovos são coletados no próprio território indígena por meio de armadilhas específicas e enviados para uma unidade localizada em Juazeiro, na Bahia, onde passam pelo processo de esterilização.
Posteriormente, os mosquitos adultos retornam para o local de origem para a liberação. “São mosquitos da própria região. Eles apenas passam pelo processo de esterilização e retornam ao território, o que elimina qualquer risco de impacto ambiental”, destacou.
A escolha da Aldeia Xukuru de Cimbres como área-piloto levou em conta as características do território. Conforme explicou Eduardo Bezerra, a técnica apresenta melhores resultados em locais com maior área livre e onde é possível realizar monitoramento contínuo.
“Os territórios indígenas contam com equipes de atenção primária e vigilância em saúde dentro das aldeias, o que facilita o acompanhamento da estratégia e a avaliação dos resultados”, afirmou.
Antes do início das solturas, as equipes técnicas realizaram o levantamento da população do mosquito na área. O monitoramento é feito por meio de ovitrampas, armadilhas que atraem as fêmeas para a deposição de ovos.
A contagem desses ovos é o principal indicador utilizado para medir a eficácia da técnica. “Menos ovos indicam menor população de mosquitos circulando. Esse acompanhamento é feito semanalmente”, explicou o diretor.
A expectativa para 2026 é que as solturas dos mosquitos estéreis ocorram de forma contínua ao longo do ano, com liberações semanais e que os primeiros efeitos possam ser percebidos já na próxima sazonalidade das arboviroses em Pernambuco, que normalmente ocorre entre os meses de março e junho.
“Se tudo ocorrer como planejado, já devemos observar uma redução sensível na próxima sazonalidade”, avaliou Eduardo Bezerra.
Fatores
Embora não haja uma estimativa fixa de redução percentual da população do mosquito, o diretor destaca que os resultados dependem de fatores ambientais, climáticos e operacionais.
“A população do mosquito varia ao longo do ano e sofre influência direta das chuvas e da umidade. Por isso, a avaliação precisa ser feita de forma contínua”, disse.
A diminuição da população do Aedes aegypti tem impacto direto na transmissão das arboviroses. “Reduzindo a população do mosquito, reduzimos automaticamente o risco de transmissão para os seres humanos. Menos mosquitos significam menos picadas e menos casos de dengue e chikungunya”, afirmou.
A ação faz parte do Plano de Ação para Redução da Dengue e Outras Arboviroses 2024/2025, lançado pelo governo federal, e deverá seguir até 2026. Além do monitoramento entomológico, os dados epidemiológicos da região também serão analisados para avaliar a efetividade da estratégia.
“Vamos cruzar a redução da população do mosquito com o número de casos registrados, especialmente durante os períodos de maior incidência”, explicou.