Mais de 70% das agressões domésticas contra mulheres acontecem na presença de terceiros, diz pesquisa
Pesquisa nacional realizada pelo Instituto DataSenado e pela Nexus foi divulgada nesta segunda (24), véspera do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres
Publicado: 24/11/2025 às 14:56
Mulheres sofrem violência doméstica no Estado (Foto: Arquivo)
Entre as 3,7 milhões de brasileiras que declararam ter sofrido violência doméstica, ou familiar, nos últimos 12 meses, 71% foram agredidas na presença de outras pessoas. E em 70% desses casos, havia crianças no local.
É o que afirma a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada em 2025 pelo Instituto DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV).
Divulgada nesta segunda-feira (24), véspera do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a pesquisa é considerada a maior sobre violência contra mulheres feita no Brasil, segundo o Instituto.
Até o dia 10 de dezembro, o Ministério das Mulheres coordena a campanha nacional “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência e do Racismo contra as Mulheres”, em articulação com secretarias estaduais e órgãos de políticas para as mulheres em todo o país.
"Essa foi a primeira vez em que a pesquisa investigou a presença de outras pessoas no momento da agressão. O fato de 71% das mulheres serem agredidas na frente de outras pessoas, e, dentre esses casos, 7 em cada 10 serem presenciados por, pelo menos, uma criança, mostra que o ciclo de violência afeta muitas outras pessoas além da mulher agredida", diz Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado.
A pesquisa também revela que, diante da violência, redes pessoais e comunidades de fé continuam sendo os principais espaços de acolhimento. Em 2025, 58% das mulheres buscaram apoio na família, 53% recorreram à igreja e 52% contaram com amigos, antes mesmo de procurar ajuda junto ao poder público.
Apenas 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e 11% acionaram o Ligue 180, central de atendimento à mulher. Entre recortes de fé, 70% das evangélicas procuraram amparo religioso, enquanto 59% das católicas recorreram a familiares.
Para Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres do Instituto Natura, “é essencial que quem acolhe, seja um familiar, uma liderança religiosa ou uma amiga, saiba orientar com clareza sobre os caminhos e órgãos responsáveis pelo atendimento, garantindo que essa mulher se sinta segura para buscar proteção e exercer seus direitos”.
Mais da metade das entrevistadas, 58%, afirmaram conviver com situações de violência há mais de um ano. “A pesquisa evidencia que a violência de gênero não é um problema isolado, mas uma questão estrutural que afeta famílias e comunidades e exige uma resposta coletiva, coordenada e permanente, capaz de contribuir para o desenvolvimento do país”, comenta Maria Teresa Firmino Prado Mauro, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal.
Lei Maria da Penha
Na média geral, 67% das brasileiras conhecem pouco sobre a lei Maria da Penha, 21% disseram que conhecem muito, 11% desconhecem totalmente e 2% não quiseram opinar.
Segundo a pesquisa, 30% são analfabetas, 20% tem o ensino fundamental incompleto, 3% tem o ensino superior completo e 4% incompleto.
“Essa pesquisa reforça a urgência de investir em informação acessível, que chegue às mulheres nas comunidades, nos territórios e nas redes que elas já confiam”, afirma Vitória Régia da Silva, diretora-executiva da Associação Gênero e Número.
Entre as mulheres com renda familiar de até 2 salários mínimos, são 13% as que desconhecem totalmente a lei, mais que o dobro das brasileiras que ganham de 2 a 6 salários mínimos (6%), e 4 vezes mais do que as mais ricas, com renda familiar maior que 6 salários mínimos (3%).
Quanto mais velha, também é maior o desconhecimento sobre a lei: 18% das brasileiras com mais de 60 anos disseram não saber do que se trata. Entre as mulheres de 50 a 59 anos o número cai para 14% e para 8% de 40 a 49 anos. Em seguida vêm as brasileiras de 30 a 39 anos (7%) e as mais novas, de 16 a 29 anos (6%).
Apesar do desconhecimento sobre a Lei Maria da Penha, 3 em cada 4 brasileiras (75%) acreditam que a lei protege totalmente (27%) ou em partes (48%) as mulheres contra a violência de gênero. Já 23% acham que não protege e 2% não quiseram ou souberam opinar.
As mulheres com menor escolaridade, também acreditam menos na proteção legislativa: são 33% das brasileiras não alfabetizadas e 30% das que não completaram o ensino médio que não concordam com a eficácia da lei, contra 15% das mulheres que têm ensino superior completo.