Mensagens mostram desespero de mulher que denuncia ter sido estuprada por PM no Cabo
A mulher, de 48 anos, questionou o vendedor do carro sobre o atraso no IPVA e contou ter sido estuprada por agente da Polícia Militar durante abordagem em posto
Publicado: 12/11/2025 às 18:09
Posto do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), no Cabo de Santo Agostinho (Foto: Reprodução/Google Maps)
Mensagens trocadas pela mulher que denuncia ter sido estuprada por um agente do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), e anexadas ao processo, mostram o questionamento ao vendedor do carro sobre o atraso na documentação do veículo – motivo pelo qual o agente teria obrigado ela a entrar no Batalhão. Nas mensagens, a compradora alega ter sido enganada e que a atitude do vendedor custou caro.
Os prints das mensagens reforçam o relato de que a mulher foi violentada por um subtenente da PM, identificado como Luciano Valério de Moura, após uma abordagem de rotina, na noite de 10 de outubro, no Cabo de Santo Agostinho. De acordo com o inquérito, a vítima foi parada quando seguia para a Praia de Gaibu com as duas filhas e uma amiga.
Durante a abordagem, o subtenente Luciano Valério de Moura informou que o carro seria apreendido por causa de débitos. Ela explicou que havia comprado o veículo recentemente e, a mando do policial, ligou para o vendedor em viva-voz, às 22h42, e ele teria se comprometido a resolver as pendências na segunda-feira. A abordagem aconteceu em um sábado.
Minutos depois, o policial teria conduzido a mulher para dentro do posto sob a justificativa de que a levaria para “beber água”. Lá, segundo o relato, ele apagou as luzes do alojamento e cometeu o estupro. As mensagens registradas pela vítima e por sua filha adolescente mostram o período em que a mulher ficou fora do campo de visão, entre 22h46 e 23h09.
Nos prints da conversa com o vendedor do carro, a mulher também relata ter sido humilhada e abusada e diz que nunca imaginou passar por uma situação semelhante. Em outra mensagem, ela afirma que a mentira sobre pendências no IPVA custou caro demais. “Graças a você eu vivi essa humilhação”, escreveu.
“Na manhã seguinte ao episódio de violência, por volta das cinco horas da manhã, porque a vítima não havia conseguido dormir, ela torna a mandar mensagens para o vendedor do veículo, relando sua indignação e dizendo que devido a mentira dele sobre a quitação de qualquer débito do veículo, ela passou por um abuso sexual”, destaca a defesa no documento.
Segundo a defesa da mulher, o teor dessas mensagens é compatível com o estado emocional de uma vítima de violência sexual. Ainda no sábado, ela procurou um amigo para contar o que aconteceu e pedir ajuda. Ele mostra apoio e a incentiva a tomar “providências”. A mulher ainda tentou contato com jornalistas e representantes da Secretaria da Mulher, mas decidiu ir sozinha até a 14ª Delegacia da Mulher (DEAM), no Cabo de Santo Agostinho, onde registrou o boletim de ocorrência.
Além disso, mensagens trocadas pela filha da mulher mostram a preocupação com a demora da mãe no posto policial. A menina relata ao namorado o ocorrido e diz estar com receio por ter ficado no carro à noite no meio da estrada.
O subtenente Luciano Valério está preso desde 15 de outubro na Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). A defesa da vítima pediu o indiciamento dos três policiais e a adoção do Protocolo de Julgamento com Perspectiva de Gênero do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para garantir respeito e evitar revitimização durante o processo.
Em nota, a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) informou que foi “concluído e remetido ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para apurar os fatos ocorridos no posto do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), no Cabo de Santo Agostinho, envolvendo a conduta de policiais durante uma abordagem”.
Segundo a corporação, “todos os procedimentos investigativos foram realizados em estrita observância aos ritos legais e às normas internas”, assegurando uma apuração “rigorosa dos fatos de forma imparcial e transparente”.
“O referido IPM que tramita em segredo de justiça foi concluído com celeridade e rigor técnico, sendo encaminhado ao MPPE que já ofereceu a denúncia na Justiça Militar”, acrescenta.
Por fim, a PMPE reafirmou seu “compromisso permanente com a ética, a disciplina, a transparência e a legalidade, pilares que norteiam sua atuação e sua responsabilidade perante a sociedade pernambucana”.