A fé que virou abrigo: a ONG Maria Joana e a força da solidariedade que transforma vidas
Hoje, o Instituto atende cerca de 150 famílias, com foco especial em mulheres vítimas de violência doméstica e pessoas com doenças severas
Publicado: 29/10/2025 às 16:19
ONG Maria Joana (Divulgação)
Em meio à rotina silenciosa de uma rua do bairro de Paratibe, em Paulista, um portão simples abre caminho para um dos espaços mais acolhedores da região. Lá dentro pessoas redescobrem o brincar e o som sereno de quem acredita que o amor pode ser o maior agente de transformação social. Assim é o Instituto Maria Joana, uma associação de defesa dos direitos humanos que nasceu da fé e da gratidão.
O projeto, oficialmente fundado em abril de 2023, começou bem antes de existir no papel. Surgiu em novembro de 2021, ainda durante a pandemia, quando o jovem Valdir Júnior, ao lado de familiares e amigos, criou o movimento “Com Deus e Serenis” uma ação comunitária que levava atendimento básico, escuta e apoio psicológico a famílias vulneráveis da região. O impacto foi imediato. A pandemia havia deixado marcas profundas, e o medo do vírus se somava ao desespero de quem não tinha o que comer ou a quem recorrer.
“Quando começamos, a procura por ajuda era imensa. A pandemia fez com que muitas pessoas entrassem em colapso emocional e financeiro. Era impossível ficar parado”, relembra Valdir Júnior, hoje presidente do Instituto.
Mas a história que deu nome e alma à instituição veio de um milagre. No fim de 2022, Maria Joana, avó de Valdir, foi diagnosticada com dois tumores na cabeça e hidrocefalia. Passou por duas cirurgias complexas, das quais saiu consciente e lúcida. A recuperação foi interpretada pela família como um sinal de Deus.
“Quando ela abriu os olhos e me reconheceu, eu entendi que aquilo era mais do que uma cura. Era um chamado. O projeto precisava continuar, e não havia nome melhor do que o dela”, conta Valdir.
A partir desse momento, o que era uma ação comunitária se tornou um projeto estruturado. O Instituto Maria Joana foi formalizado como associação sem fins lucrativos e passou a funcionar na própria casa de Dona Maria Joana, uma residência simples, ainda com paredes de taipa, que virou espaço de fé, aprendizado e acolhimento.
Um espaço que acolhe e ensina
Hoje, o Instituto atende cerca de 150 famílias, com foco especial em mulheres vítimas de violência doméstica e pessoas com doenças severas. As atividades são realizadas de forma totalmente voluntária, reunindo dezenas de pessoas que dedicam tempo, talento e coração à causa.
A programação semanal é intensa: às segundas-feiras, há oficinas de crochê; às quartas, de pintura; às sextas, de vagonite e empreendedorismo. Além das atividades artesanais, o Instituto oferece oficinas de cultura, teatro, dança e aulas de esporte, como caratê e jiu-jítsu.
“A gente acredita que a independência vem quando a mulher conquista a própria renda. Por isso, incentivamos o empreendedorismo e oferecemos cursos que ensinam a transformar talento em sustento”, explica o presidente.
A instituição também se dedica ao EJA (Educação de Jovens e Adultos), com aulas noturnas que devolvem a esperança a quem não teve acesso à educação formal. No mesmo espaço, acontecem atendimentos de saúde, como nutrição, psicologia e fisioterapia, todos conduzidos por voluntários.
Apesar das conquistas, o Instituto enfrenta um grande desafio: a falta de estrutura física adequada. A casa onde tudo começou, doada por Maria Joana, não comporta mais o número de famílias atendidas. O principal sonho da equipe é reformar o espaço, garantindo acessibilidade e conforto a todos os beneficiários.
“Nosso maior desejo é reconstruir o Instituto. Queremos um espaço capaz de abrigar as 150 famílias com segurança e dignidade. Ainda temos paredes de taipa e pouca estrutura, mas temos fé e vontade de continuar”, diz Valdir.
O Instituto sobrevive graças a doações de pessoas físicas e empresas. Quem quiser contribuir pode fazê-lo via Pix ([email protected]) ou com alimentos, produtos de higiene e materiais para as oficinas.