Pernambuco tem 22 casos por dia de doenças ligadas ao saneamento, diz pesquisa
Ao todo, o estado teve 8,2 mil internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado em 2024
Publicado: 18/10/2025 às 06:00

Falta de saneamento é problema de saúde pública (Foto: Carolina Gonçalves/Agência Brasil)
Pernambuco registrou, em 2024, 8.179 internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), o equivalente a 22,3 casos por dia. O número coloca o estado entre os quatro com mais casos do Nordeste, atrás apenas de Maranhão, Bahia e Ceará.
A maior parte das hospitalizações está ligada a doenças de transmissão feco-oral, causadas pela ingestão de água ou alimentos contaminados, refletindo os impactos diretos da falta de acesso à água potável e ao esgotamento sanitário.
O levantamento aponta que há 8,57 internações a cada 10 mil habitantes, taxa superior à média nacional, que é de 6,6, segundo o Instituto Trata Brasil.
Das internações registradas no estado, 6.308 foram provocadas por doenças de transmissão feco-oral, como diarreias infecciosas, hepatite A e infecções gastrointestinais. Essas enfermidades representam 80% das internações associadas ao saneamento em Pernambuco e mostram que os pernambucanos têm maior risco de hospitalização por doenças evitáveis do que moradores de estados como Rio de Janeiro (5,88 internações por 10 mil hab.) e Santa Catarina (4,42 por 10 mil hab.).
O levantamento indica ainda que 1.454 casos estiveram relacionados a doenças transmitidas por insetos vetores, como dengue, zika e chikungunya, e 228 a doenças de contato com a água, além de 163 ligadas à falta de higiene. Apesar do peso da dengue no cenário nacional, Pernambuco conseguiu manter o número de internações por vetores em um patamar moderado.
O estado registrou, em 2024, 1.836 internações em crianças de até 4 anos e 2.412 em pessoas com mais de 60 anos, juntas, essas faixas etárias representam mais da metade das hospitalizações.
Queda nas mortes, mas alto custo ao SUS
Apesar do número elevado de internações, as mortes por doenças ligadas ao saneamento vêm diminuindo em Pernambuco. Entre 2008 e 2023, o estado registrou queda média anual de 3,3% no número de óbitos por DRSAI, uma das reduções mais expressivas do Nordeste.
Mesmo assim, os custos chegaram a R$ 7,04 milhões pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2024, sendo R$ 5,52 milhões apenas com doenças de transmissão feco-oral.
Essas despesas representam recursos que poderiam ser direcionados a outras áreas da saúde pública, como prevenção, atenção básica e ampliação de leitos hospitalares. Além disso, o estudo lembra que cada internação gera perdas indiretas, como queda de produtividade e evasão escolar.
Nordeste despeja o equivalente a 1,4 mil piscinas de esgoto por dia
Nordeste registrou 93,8 mil internações por doenças ligadas ao saneamento em 2024, o que equivale a 27% de todos os casos do país.
Mais de 13 milhões de nordestinos ainda não têm acesso à água potável, e quase 38 milhões vivem sem coleta de esgoto. Segundo o levantamento, diariamente é despejado no meio ambiente o equivalente a 1,4 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento, contaminando rios, solos e lençóis freáticos.
Os estados com mais internações foram Maranhão (32,1 mil), Bahia (24,2 mil), Ceará (12,2 mil) e Pernambuco (8,2 mil). Em toda a região, 77% das hospitalizações estão associadas a doenças feco-orais, que poderiam ser evitadas com medidas básicas de saneamento.
O custo hospitalar do Nordeste chegou a R$ 42,7 milhões em 2024, sendo R$ 31,2 milhões (73,2%) destinados ao tratamento de doenças de transmissão feco-oral. Entre 2008 e 2024, houve redução média de 6,8% ao ano nas internações regionais, com Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba apresentando as quedas mais acentuadas.
Brasil
No cenário nacional, o Brasil contabilizou 344,4 mil internações por DRSAI em 2024, das quais 47,6% foram causadas por doenças feco-orais e 49% por doenças transmitidas por insetos vetores. O país gastou R$ 174,3 milhões com essas hospitalizações, sendo R$ 85,2 milhões em doenças vetoriais e R$ 76,7 milhões em feco-orais.
O estudo aponta que, apesar da redução de 71,3% na taxa de incidência das doenças feco-orais entre 2008 e 2024, o avanço foi freado pela epidemia de dengue de 2024, que aumentou as internações em quase todos os estados.
Mesmo assim, os pesquisadores destacam que o investimento em saneamento básico tem efeito direto e comprovado na redução das internações e nos custos hospitalares.
O Instituto Trata Brasil ressalta que a universalização do saneamento básico precisa ocorrer em ritmo mais acelerado. Hoje, cerca de 100 milhões de brasileiros vivem sem coleta de esgoto e 33 milhões não têm acesso à água tratada.
De acordo com a Compesa, já foram entregues mais de 200 mil metros de novas redes coletoras, além de 33 estações elevatórias e oito ETE’s. O programa tem como meta alcançar 90% de cobertura de esgoto até 2037, atendendo cerca de 6 milhões de pessoas, com investimentos totais próximos a R$ 9 bilhões. Desde o início da parceria, o volume de esgoto tratado passou de 540 para 2.000 litros por segundo.
A companhia destaca que “o Recife conta com 17 frentes de serviços em andamento. O projeto de expansão do esgotamento sanitário do município representa um investimento de R$ 52 milhões e beneficiará cerca de 38 mil pessoas”.

