Quartel do Derby: um século de história, pertencimento e guardiã da memória da Polícia Militar de Pernambuco
Hoje, o Quartel do Derby é o centro da Polícia Militar de Pernambuco. É lá que funcionam o Comando Geral e o Subcomando da Corporação, as diretorias de Administração e Planejamento Operacional
Publicado: 13/10/2025 às 03:30

Quartel do Derby que fica no Recife (Foto: Rafael Vieira/DP)
Há cem anos, no dia 18 de outubro de 1924, era inaugurado o Quartel do Derby, um edifício monumental que se tornaria o coração da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) e um dos marcos mais simbólicos do desenvolvimento urbano do Recife.
Antes de ser sinônimo de segurança pública, o terreno do Derby foi palco de ousadia e modernidade. No fim do século XIX, ali funcionava o Derby Club, hipódromo inglês que deu nome ao bairro. Com o encerramento das atividades do prado, o empresário Delmiro Gouveia adquiriu a área e idealizou o Mercado Modelo Coelho Cintra, inaugurado em 7 de setembro de 1899. Inspirado na Exposição Universal de Chicago, o empreendimento reunia mais de 200 boxes comerciais, hotel, cassino, parque de diversões, velódromo e até lotes residenciais, características que fazem muitos historiadores considerarem o espaço o primeiro shopping center do Brasil e, possivelmente, da América do Sul.
O mercado simbolizava o espírito de inovação que começava a despontar no Recife, com iluminação noturna, esgoto e limpeza, diferenciais raros para a época. No entanto, a grandiosidade do projeto despertou invejas e disputas políticas. Em 1º de janeiro de 1900, um incêndio criminoso destruiu o edifício, pondo fim a uma das experiências urbanas mais arrojadas do país.
Gilberto Freyre registraria anos depois o impacto do episódio na memória coletiva: “a população observou o incêndio com comoção e incredulidade, como se visse arder um sonho de progresso”. Após a tragédia, o espaço ficou abandonado por anos, servindo de palco para diferentes tentativas de reocupação.
Um novo Recife nasce no Derby
Foi apenas nas primeiras décadas do século XX, sob o governo de Sérgio Loreto (1922–1926), que o antigo terreno do mercado renasceu com uma nova vocação. A área foi incorporada ao plano de reurbanização que modernizou o Recife, o chamado “novo Recife”, que incluía a reforma do Porto, a criação da Avenida Beira-Mar (atual Boa Viagem) e a construção da Praça do Derby, projetada por Roberto Burle Marx.
Nesse contexto, surgiu o Quartel do Comando Geral da Força Pública do Estado, atual Polícia Militar de Pernambuco. O projeto, assinado pelo engenheiro Odilon de Lima Souza Leão, foi concluído em 1924, com fachada em estilo renascentista e imponência condizente com o novo papel da instituição. O coronel João Nunes assumiu o comando e, no ano seguinte, o prédio passou a abrigar definitivamente o 1º Batalhão de Policiamento Estadual.
Sua história está entrelaçada com a vida cultural e social da cidade. Em 1936, foi inaugurado o Cine Teatro da Brigada, com afrescos do artista Di Cavalcanti, tornando-se um espaço de sociabilidade e arte para a população. No ano seguinte, veio o Estádio de Atletismo da Brigada Militar de Pernambuco, reinaugurado em 2002 como Estádio Coronel PM Humberto de Azevedo Viana, símbolo da valorização do esporte entre civis e militares.
O complexo também abriga o Hospital da Polícia Militar, criado em 1941, para atender servidores da corporação, e o Museu da Polícia Militar, aberto à visitação pública, que preserva documentos, uniformes e objetos históricos da corporação.
Desde 1952, o espaço recebe a tradicional Missa do Galo, celebrada na véspera de Natal, e, desde 1995, o Culto de Natal das igrejas evangélicas, reforçando o vínculo entre a instituição e a comunidade. O Monumento ao PM Tombado no Cumprimento do Dever, inaugurado em 1985, é outro marco do quartel, homenageando policiais que perderam a vida no exercício da profissão.
Tamanha importância levou o prédio a ser tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1994, reconhecimento do seu valor arquitetônico e simbólico para Pernambuco.
Hoje, o Quartel do Derby é o centro da Polícia Militar de Pernambuco. É lá que funcionam o Comando Geral e o Subcomando da Corporação, as diretorias de Administração e Planejamento Operacional, diversas subdiretorias e assessorias, além do Estado-Maior Geral, responsável pela comunicação social, legislação e doutrina.
Para o coronel Marcelo, o Derby é mais do que sede administrativa: é um espaço vivo, que dialoga com o passado e aponta para o futuro. “O QCG é um equipamento belíssimo, que trouxe desenvolvimento para essa região da cidade e representa a continuidade da nossa missão de servir e proteger. Aqui funciona o coração da corporação, onde se planeja o policiamento, se preserva a memória e se constrói o futuro da PMPE.”

