Bebê morre com suspeita de infecção
Kauâ passou por complicações no parto, ocorrido no Cisam
Publicado: 28/09/2025 às 18:40

CISAM passará por um processo de requalificação (DIVULGAÇÃO/CISAM-UPE)
Um bebê de apenas sete dias morreu após complicações de saúde no Centro Universitário Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. O Cisam nega falhas e garante que todos os procedimentos adotados seguiram protocolos clínicos reconhecidos.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil como “morte a esclarecer”.
Kauã Henrique Ramos da Silva nasceu no dia 13 de setembro e faleceu em 20 do mesmo mês. Segundo a certidão de óbito entregue aos pais, a causa foi choque séptico. A família acusa o hospital de negligência médica e afirma que a criança teria adoecido após fraturar o braço direito durante o parto.
Relato da mãe
A jovem Karolayne Urbano da Silva, de 17 anos, mãe do bebê, relatou ter vivido uma experiência marcada por complicações desde o início. Ela contou que buscou atendimento no dia 12 de setembro, em Itamaracá, após sentir contrações e perda de líquido, mas recebeu orientação para retornar somente se as dores aumentassem. Na madrugada seguinte, já com a bolsa rompida, foi encaminhada ao Cisam, onde o parto ocorreu.
Segundo Karolayne, o procedimento foi prolongado e difícil. Ela afirma que a cabeça da criança ficou presa por cerca de 20 minutos, levando à necessidade de manobras médicas. “O médico teve que puxar [o bebê]. Disseram que ele passou 20 minutos com a cabeça presa. Ele nasceu sem chorar e precisou de oxigênio”, disse.
Ainda no primeiro dia, exames confirmaram uma fratura no braço direito de Kauã. A mãe alega que a lesão só foi comunicada à família quase 12 horas após o parto. “Na foto já dava para ver que o braço estava roxo e inchado. Só à noite perceberam”, contou. O bebê chegou a ser transferido ao Hospital da Restauração, onde recebeu imobilização ortopédica, antes de retornar ao Cisam.
Nos dias seguintes, a jovem mãe afirma que o quadro do filho parecia estável. “Ele estava chorando normal, saudável, só com o braço imobilizado. Nunca consegui amamentar porque não me deixaram pegar ele no colo”, relatou.
A situação mudou em 16 de setembro, quando Kauã passou a vomitar e apresentar sinais de dor intensa. Karolayne diz que os médicos atribuíram o quadro à troca da fórmula pelo leite materno, chegando a deixar a criança 12 horas sem se alimentar. “Ele começou a expelir um líquido com manchas pretas. A gente perguntava pelos exames, mas nunca explicavam direito”, afirmou.
No dia 18, o bebê voltou para a UTI em estado grave. A mãe relata que, após episódios de parada cardiorrespiratória, foi informada apenas de forma parcial sobre a situação. “Disseram que ele tinha tido uma parada no dia 20, mas descobri depois que foram duas no dia anterior. Me pediram para assinar um papel dizendo que era para transfusão de sangue, mas depois entendi que era para desligar os aparelhos”, disse, emocionada.
Kauã morreu às 16h45 do dia 20. Para Karolayne, a demora em identificar a fratura e a suposta falta de informações claras sobre a evolução clínica do bebê caracterizam negligência. “Entregaram meu filho cheio de hematomas, todo furado. Eu só quero justiça, porque se aconteceu com ele pode acontecer com outros bebês lá”, desabafou.
O que diz o Cisam
Em nota, o Cisam confirmou que a mãe foi internada em trabalho de parto e que houve uma emergência obstétrica chamada distócia de ombros, quando os ombros do bebê ficam presos após a saída da cabeça. O hospital afirmou que a equipe realizou manobras recomendadas nesse tipo de situação e que a fratura do braço foi diagnosticada e tratada de acordo com os protocolos médicos.
Segundo a instituição, o recém-nascido apresentou evolução clínica inicial favorável, mas, após a transferência para a Unidade de Cuidados Intermediários, passou a apresentar vômitos e distensão abdominal. O quadro se agravou rapidamente, exigindo uso de antibióticos, intubação e suporte intensivo.
“O surgimento de regurgitações e distensão abdominal, seguido de rápida deterioração clínica, é uma evolução que, embora indesejável, pode ocorrer em neonatos com condições complicadas. Apesar do desfecho trágico, as intervenções realizadas estavam em linha com as melhores práticas e diretrizes clínicas”, diz o texto.
A unidade também reforçou que a distócia de ombros não é provocada por erro médico, mas por fatores fisiológicos difíceis de prever, e que todas as condutas foram acompanhadas por equipe multidisciplinar.
O Cisam é referência no tratamento de saúde da mulher e tem 79 anos de funcionamento.

