Setembro Dourado: a cor da esperança contra o câncer infantojuvenil
A campanha nacional Setembro Dourado trabalha a conscientização sobre o câncer infantojuvenil e a importância do diagnóstico precoce para aumentar as chances de cura para crianças e adolescentes
Publicado: 11/09/2025 às 14:36
Apesar de considerado raro, o câncer infantojuvenil é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Nos casos de câncer infantojuvenil, o diagnóstico e início de tratamento precoce são determinantes para o tratamento e cura dos pacientes, importância destacada nacionalmente no mês de setembro, na campanha “Setembro Dourado”.
Paciente do Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), Victor Vicente, de 19 anos, tinha uma vida considerada normal e ativa, entre estudos e trabalho.
Há dois anos, teve de adiar o sonho do início da graduação em Serviço Social, onde morava, em Maceió, Alagoas, para tratar um tumor na perna. A detecção da doença aconteceu no estágio inicial, e Victor não precisou ter o membro amputado, ponto crucial para o processo do tratamento e na esperança da cura.
“O Setembro Dourado faz alusão ao diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil. A criança não tem fatores de risco, diferentemente do adulto. Há inúmeras formas de prevenção do câncer, então o jeito de prevenir o câncer na infância e na adolescência é fazendo um diagnóstico precoce. E quanto mais cedo se diagnostica, maior a possibilidade de cura”, destaca a oncologista pediatra do HCP, Dra. Suellen Martins, em entrevista ao Diario.
Entre os tipos de câncer mais frequentes nessa faixa etária estão as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas. Também podem acometer crianças e adolescentes o neuroblastoma, o tumor de Wilms, o retinoblastoma, os tumores germinativos, o osteossarcoma e os sarcomas. O índice de cura pode ser alto quando o diagnóstico acontece em fase inicial.
“Os principais cânceres na infância e na adolescência são as leucemias, seguida pelos tumores do sistema nervoso central. Se dado um diagnóstico precoce, hoje a chance de cura está em torno de 70 a 80%. De 10 crianças que hoje tem uma leucemia, 7 a 8 crianças vão ser curadas. É uma taxa muito alta, se for feito um diagnóstico precoce”.
Alerta
O HCP, situado na área central do Recife, e referência no tratamento de câncer no Norte e Nordeste por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), dedica este mês ao fortalecimento do Setembro Dourado. Segundo o último Registro Hospitalar de Câncer do HCP, com dados relativos a 2022, 53 novos pacientes infantojuvenis iniciaram tratamento na instituição.
Segundo a oncologista pediátrica, o maior desafio está justamente no diagnóstico, que depende muito da atenção dos pais e responsáveis para com sintomas físicos nas crianças.
“A dificuldade do diagnóstico precoce da infância e da adolescência vem de sinais e sintomas corriqueiros. O que chama a atenção deve ser investigado. Aquela criança que repetidamente vem com as mesmas queixas, que está muito caidinha, que está sempre com febre, que não está com diarreia, não está com vômito, não está com virose, não está com pneumonia, mas que a febre não passa. Chama atenção também a febre de origem indeterminada”, conta.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que ocorram 7.930 novos casos da doença no país só em 2025, na faixa etária de 0 a 19 anos. Conforme a Dra. Suellen, há um aumento de casos de câncer infantojuvenil sendo observado pelos médicos.
“A gente vem observando um aumento de casos. Entra um viés: a gente não sabe se o aumento de casos é realmente um aumento ou se conseguimos detectar o diagnóstico precocemente, até porque existe mais divulgação dos diagnósticos. Mas o que se espera é que haja o aumento do número de casos de neoplasia onco hematológica infantojuvenil. Isso é uma realidade, vai haver esse aumento”, explica.
Tratamento
O tratamento do câncer infantil exige centros especializados e pode incluir quimioterapia, cirurgia e radioterapia, aplicadas de forma integrada e individualizada para cada tipo de tumor.
O diagnóstico precoce também é importante para o decorrer do tratamento, que pode ser por meio de cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Após a finalização do tratamento, a criança é acompanhada por 10 anos até ser considerada curada e poderá viver uma vida completamente normal.
“A criança que terminou o tratamento é acompanhada por 10 anos. Porque, além da possibilidade de ressurgir aquele câncer, existe a possibilidade de surgir novos cânceres. Além disso, a gente tem que acompanhar os efeitos tardios secundários ao tratamento. Passado esse período, a gente considera cura, é vida normal. A gente dá a alta da oncologia pediátrica e essa criança segue uma vida normal”, compartilha.
A esperança da cura
Mesmo precoce, o diagnóstico de Victor não foi fácil. Ele chegou a passar quatro meses realizando um tratamento incorreto, por uma indicação médica equivocada; depois, conseguiu ter acesso à detecção correta.
“Ele começou a mancar, puxar a perna, sentindo uma dorzinha. Ele estudava e trabalhava, a gente não acreditou porque só dava dor à noite. Fomos ao médico, que deu o diagnóstico de distensão muscular. Ele fez fisioterapia por quatro meses, mas a dor continuou. Voltamos à emergência e a doutora pediu uma tomografia, viu algo de errado. Ela me chamou, fiquei arrasada, porque o médico disse diretamente o que estava acontecendo. Só que em Maceió não tem um médico, que seria um ortopedista e oncologista, e mandaram a gente para cá (Recife)”, relembra Marileide Barroso, de 54 anos, mãe de Victor.
Após o diagnóstico, Victor seguiu o percurso: fez cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Ele teve retorno do tumor, e precisou voltar a realizar as terapias, mas enfrenta mais essa etapa com bom ânimo e a expectativa de melhora para voltar à rotina que tinha.
“É bem difícil, mas por onde eu já passei, radioterapia, quimioterapia, todos os locais que fui, eu fui bem acolhido aqui. Sempre me trataram com um bom ânimo, sempre como se fosse da família. Muitas enfermeiras fazem amizade, conversam com a pessoa quando a pessoa está mal. Não tenho do que reclamar. A expectativa é ficar bom logo, para voltar para casa”, diz o jovem.

