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PCC e Comando Litoral Sul: Ficco mira esquema de facções para distribuir cocaína no Nordeste

A operação Sintonia Fina cumpriu 18 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão, nesta quarta (3), em Pernambuco e em outros estados, além de bloquear valores e sequestrar bens ligados aos investigados. Esquema movimentou mais de R$ 328 milhões

Larissa Aguiar

Publicado: 03/09/2025 às 13:36

Operação Sintonia Fina desarticula braço do PCC responsável por abastecer Pernambuco com cocaína/Larissa Aguiar/DP

Operação Sintonia Fina desarticula braço do PCC responsável por abastecer Pernambuco com cocaína (Larissa Aguiar/DP)

Deflagrada nesta quarta (3) pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Pernambuco (Ficco/PE), a Operação Sintonia Fina mirou diretamente um dos principais fornecedores de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) para o Nordeste, responsável por abastecer facções locais em diversas cidades pernambucanas.

Em Pernambuco, o PCC, segundo a Ficco, atua em parceria com o Comando Litoral Sul, uma das facções criminosas locais.

Desde o início das investigações, em 2024, foram apreendidas mais de oito toneladas de entorpecentes, sendo seis toneladas de cocaína, além da movimentação financeira ilícita de cerca de R$ 328 milhões.

Essas informações foram repassadas por integrantes da Ficco-PE, em entrevista coletiva concedida nesta quarta, no Recife.

Integram a força as Polícia federal (PF), Rodoviária Federal (PRF), além da operadoras da Secretaria Estadual de Defesa Social, como as Polícias Militar, Civil e Penal. 

A Ficco atua em parceria com o Sistema Penitenciário Federal. Essa integração, segundo os representantes das instituições, tem permitido operações de grande impacto contra o crime organizado em Pernambuco.

A operação cumpriu 18 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão, além de bloquear valores e sequestrar bens ligados aos investigados. As ações ocorreram em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Itaquitinga, Paudalho, Tacaimbó e Caruaru, além de cidades de outros estados como Campo Grande (MS) e Itanhaém (SP).

Dois alvos ainda estão foragidos e outro foi assassinado, segundo informações da Ficco-PE.

Detalhes

Segundo a Ficco, mesmo com a prisão do líder do grupo em 2024, atualmente encarcerado em um presídio federal, a organização criminosa manteve atividades intensas em Pernambuco, atuando no tráfico de drogas, no comércio ilegal de armas de fogo, em homicídios e em sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro.

O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, destacou que o grupo tinha papel estratégico para a criminalidade no Estado: “Eles eram responsáveis por fornecer drogas a diversas facções pernambucanas. Essa droga chegava em grandes carregamentos, principalmente cocaína, e era distribuída a traficantes locais”, afirmou.

As autoridades ressaltaram que Pernambuco vinha sendo usado como ponto de recepção e distribuição para outras regiões do Nordeste. A conexão direta com o PCC, que nasceu nos presídios de São Paulo e expandiu sua atuação para além das fronteiras nacionais.

As investigações revelaram que o grupo movimentou mais de R$ 328 milhões nos últimos anos, dinheiro que foi ocultado por meio de empresas de fachada e contas bancárias em nome de terceiros. O objetivo era dar aparência de legalidade a recursos oriundos do tráfico.

De acordo com o diretor-geral da Polícia Civil de Pernambuco, Renato Rocha, a integração entre as forças permitiu um aprofundamento das apurações:“Cada polícia detinha um fragmento da informação. Quando reunimos tudo dentro da Ficco, o resultado foi muito mais robusto e consistente. Essa qualidade de prova é o que garante que o Judiciário defira nossos pedidos e fortaleça o combate às facções”, afirmou.

O coordenador da operação, delegado Márcio Tenório (PF), explicou que a Ficco funciona como uma força-tarefa permanente, "reunindo o que há de melhor em termos de recursos humanos das polícias. Trabalhamos lado a lado, o que acelera o compartilhamento de informações e fortalece a resposta contra o crime organizado”.

Outras operações

A Operação Sintonia Fina é resultado direto da análise de informações obtidas em operações anteriores, como a Manguezais (2022) e a La Catedral (2024), ambas também conduzidas pela Ficco/PE. Essas ações já haviam identificado irregularidades no sistema prisional pernambucano e conexões entre facções locais e organizações criminosas de alcance nacional.

As autoridades lembraram que a atuação do grupo não se restringia ao tráfico. Diversos homicídios ocorridos na Região Metropolitana do Recife são atribuídos aos investigados. As disputas por território e a cobrança de dívidas relacionadas ao comércio de drogas estariam diretamente ligadas à escalada da violência.

“Mais de 80% dos homicídios em Pernambuco e no Brasil têm relação direta com o tráfico. Ao atingirmos a base logística dessas facções, também enfraquecemos os crimes violentos”, pontuou o secretário Alessandro Carvalho.

O secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Paulo Paes, ressaltou que a integração com a Ficco tem reforçado o controle dentro das unidades prisionais:
“Sabemos que facções tentam se articular a partir dos presídios, mas temos investido em monitoramento e isolamento de lideranças. Esse trabalho conjunto tem sido fundamental para cortar a comunicação e reduzir a influência do crime organizado”.

A Ficco informou que a *Operação Sintonia Fina ainda terá desdobramentos, já que parte dos alvos possui conexões interestaduais. O líder preso em São Paulo, por exemplo, era apontado como responsável pelo fornecimento de cocaína para todo o Nordeste, o que deve gerar compartilhamento de informações com outras unidades da federação.

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