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MEIO AMBIENTE

Em meio a prédios e expansão, 25 Unidades de Conservação resistem no Recife

Cidade mantém 42% do território preservado, apesar da expansão imobiliária

Adelmo Lucena

Publicado: 25/08/2025 às 04:00

Recife ainda possui 91,9 km² de área verde/Foto: Rafael Vieira/DP Foto

Recife ainda possui 91,9 km² de área verde (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)

No Recife, a paisagem marcada por novos empreendimentos e edifícios residenciais continua a se expandir, mesmo diante da redução progressiva dos espaços disponíveis para construção. Ainda assim, as áreas verdes da cidade seguem resistindo, criando verdadeiros bolsões de preservação. Dados do Plano de Ordenamento Territorial (2018) apontam que a cidade ainda possui 91,9 quilômetros quadrados (Km²) de área verde, representando 42,1% do território e conferindo um índice de cerca de 60 m² de área verde por habitante.

De acordo com o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, a capital pernambucana possui 4,4 mil hectares de Mata Atlântica preservada, o que significa 20% do seu total. “A cidade, inclusive, está 100% inserida no bioma da Mata Atlântica. E, dos 218 quilômetros quadrados de território (de acordo com o IBGE), 5,34 são de área de mangue”, destaca a gestão municipal.

Atualmente, a capital tem 25 Unidades de Conservação da Natureza (UCNs), que estão sob manutenção e responsabilidade da Prefeitura do Recife. Juntas, elas compõem 38% do território da cidade, um total de 83,3 km². No total, a capital pernambucana soma mais de 270 mil árvores espalhadas pelos logradouros urbanos.

“Tudo faz parte de um ecossistema. Então, onde tem manguezal também tem fauna, o veio das águas. Recife é uma das capitais, só perde para Vitória, no Espírito Santo, com maior manguezal dentro do seu território. Então, o manguezal faz parte dessas paisagens urbanas. A gente vai evocar aqui também o movimento manguebeat, em que cultura está muito associada a esse tipo de vegetação”, explica o doutorando em desenvolvimento urbano pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Caio Albuquerque.

A cidade conta ainda com 54 árvores tombadas e 98 Imóveis de Proteção de Área Verde (IPAV), que somam cerca de 324 hectares em espaços como o Museu do Estado e a Academia Pernambucana de Letras. A Emlurb destaca que o programa Via Jardim concluiu recentemente o plantio de 1,5 mil árvores em vias emblemáticas, como as avenidas Agamenon Magalhães, Mascarenhas de Moraes e Norte, entre outras. A manutenção dessas árvores é feita pela prefeitura.

Lazer

O Recife tem aproximadamente 660 áreas de lazer, entre parques, praças e áreas verdes. O Jardim Botânico do Recife, no bairro do Curado, por exemplo, está inserido numa unidade protegida de 10,7 hectares de Mata Atlântica. Além de área pública de lazer e contemplação, o espaço abriga um corpo técnico que realiza pesquisas voltadas à botânica, restauração florestal e conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.

Além disso, três Unidades de Conservação do Recife são abertas ao público: as Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Açude de Apipucos, da Mata de Dois Unidos e da Lagoa do Araçá.

A cidade também abriga 15 jardins históricos projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx. Entre eles estão as praças de Casa Forte, Euclides da Cunha, da República e o Jardim do Campo das Princesas, além das praças do Derby e Salgado Filho, também tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Segundo o doutorando Caio Albuquerque, “já deixou de ser especulação para ser um consenso, tanto científico quanto popular, de que a presença de território natural tem benefícios muito profundos ao ser humano, em detrimento de apenas espaços estéreis, edificados ou impermeabilizados”.

A Prefeitura do Recife pontuou também que desenvolve ações sustentáveis, como a implantação do Projeto Parque Capibaribe, “que fará a cidade resgatar as suas frentes d’água, promovendo as diretrizes de articulação entre o Rio Capibaribe e os espaços urbanos, implementando conexões de suas bordas/margens com equipamentos existentes na cidade e espaços de área verde”.

Entre os espaços de lazer feitos levando em conta medidas sustentáveis, a gestão destaca os parques das Graças, o Linear da Rua da Aurora e o Parque da Tamarineira que, por si só, é uma Unidade de Conservação da Natureza.. Este último receberá uma segunda etapa, anunciada na última quinta-feira (21).

Estão em curso ainda as construções dos parques Eduardo Campos, na Zona Sul, e Roque Santeiro, na Ilha de Joana Bezerra. 

Desafios

Na última semana, a Prefeitura do Recife entrou na Justiça para tentar derrubar uma multa de R$ 500 mil e o embargo aplicados pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) nas obras do habitacional Vila da Aeronáutica, no bairro de Boa Viagem.

O conjunto faz parte do Minha Casa, Minha Vida e prevê a construção de 528 moradias, destinadas a 2.600 pessoas de baixa renda. Para preparar o terreno, foi autorizada a retirada de 134 árvores, com a condição de que a prefeitura realizasse o plantio de 268 novas mudas.

O plano de compensação ambiental prevê espécies de grande, médio e pequeno porte, distribuídas de forma a criar uma identidade visual para cada quadra do conjunto, com árvores de flores roxas, brancas, amarelas, vermelhas e rosas.

Apesar disso, a CPRH autuou o município, alegando que a supressão da vegetação estaria fora dos limites previstos na licença. A agência aplicou a multa e determinou a paralisação da obra.

“O que não está bem é a impermeabilização total e o desmatamento de uma arborização que é nativa, ou que já está ali há algum tempo, para implementação ou replantação de outras espécies”, analisa Caio Albuquerque.

"É bom frisar que o déficit habitacional é para uma população que não tem esse poder aquisitivo ou que vive em áreas de vulnerabilidade e de risco e que precisam ser alocados e realocados para áreas de melhor qualidade. Porém,  existe uma série de problemas como esse da Vila da Aeronáutica, em que basicamente terraplana um terreno e constrói em cima sem pensar nas preexistências", complementa.

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