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Vida Urbana
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Teatro do Parque: um século de arte, memória e resistência no coração do Recife

A ideia inicial era criar um grande complexo de entretenimento que incluísse, além do hotel e do teatro, um parque de diversões nos fundos

Larissa Aguiar

Publicado: 25/08/2025 às 06:30

Teatro do Parque/Arquivo/DP

Teatro do Parque (Arquivo/DP)

No coração do Recife, o corredor estreito da Rua do Hospício guarda uma das maiores joias culturais da cidade: o Teatro do Parque. Inaugurado em 1915, o espaço atravessou mais de um século de história, resistiu ao tempo, às mudanças urbanas e até a uma década de portas fechadas para restauração. Hoje, renascido, é palco plural que acolhe cinema, teatro, música, dança, circo e tantas expressões artísticas que alimentam a identidade cultural da capital pernambucana.

A origem do Teatro do Parque remonta à visão ousada do comendador Bento Luiz Aguiar, empresário que construiu primeiro o Hotel do Parque, ao lado do terreno onde ergueria o teatro. A ideia era criar um grande complexo de entretenimento que incluísse, além do hotel e do teatro, um parque de diversões nos fundos, daí o nome. Visionário, Bento Aguiar não chegou a ver o sonho consolidado: faleceu poucos dias após a inauguração, vítima de leptospirose contraída durante a construção. A família manteve o empreendimento, que ao longo dos anos passou por diferentes fases e gestões.

Na década de 1920, o teatro foi arrendado ao Grupo Severiano Ribeiro, que unificou sua vocação dupla: não apenas palco teatral, mas também tela de cinema. Durante décadas, a casa se firmou como espaço de exibições cinematográficas, sendo carinhosamente chamada pelo público de Teatro do Parque. O apelido atravessou o tempo, demonstrando o sentimento de pertencimento que a população nutre pelo espaço.

Com o passar dos anos, o Teatro do Parque tornou-se equipamento cultural da cidade, transformando-se em um verdadeiro símbolo da vida artística recifense. Ali, gerações assistiram a peças históricas, shows inesquecíveis, festivais de cinema e apresentações que marcaram época. O espaço também foi a casa de projetos como o tradicional “Seis e Meia”, que trouxe grandes nomes da música brasileira para perto do público pernambucano.

O teatro também guarda histórias pessoais de artistas e gestores que o atravessaram. O atual gestor, Marcelino Dias, tem uma relação íntima com a casa. Foi ali que ele, ainda jovem, assistiu às primeiras peças que o inspiraram a subir ao palco. Hoje, na função de administrar o espaço, ele reconhece a dimensão simbólica do lugar: “É lindo ver o público acomodado, os artistas prontos e o espetáculo prestes a começar. Para mim, esse é sempre um momento tocante, porque a gente sabe que está entregando à cidade um pedaço de magia. O Teatro do Parque é um espaço que pulsa, que provoca encantamento e pertence ao povo do Recife”, destaca.

Após uma longa obra de restauro, que durou dez anos, o Teatro do Parque reabriu em 2020, ainda em meio às restrições da pandemia. O restauro devolveu características arquitetônicas de 1929, recuperando a sobriedade e elegância originais, mas também trouxe modernizações necessárias, como acessibilidade, maior conforto e visibilidade para o público. Hoje, a sala abriga 805 lugares, distribuídos de forma a garantir melhor experiência aos espectadores.

Nos tempos recentes, o espaço se tornou casa de festivais de cinema e de grandes eventos culturais. É também sede da Banda Sinfônica da Cidade do Recife, que realiza concertos mensais gratuitos, e tem recebido espetáculos de dança, circo e teatro, além de shows de artistas locais e nacionais. Para além da programação, o teatro também abre as portas para projetos sociais e atividades voltadas à democratização do acesso à cultura.

“Temos uma política de acolhimento a projetos gratuitos ou com tarifa social, porque entendemos que este é um bem público e precisa estar ao alcance de todos. Recentemente, começamos a testar um formato de concerto-aula para estudantes da rede municipal, e queremos ampliar essa iniciativa. É uma forma de não apenas abrir as portas do teatro, mas também de formar público e levar a música para as novas gerações”, explica Marcelino.

Entre as memórias que atravessam as paredes do Teatro do Parque, estão as passagens de ícones da cultura brasileira, de Jô Soares a Canhoto da Paraíba, entre tantos outros nomes que marcaram presença no palco. Muitos artistas nacionais, ao retornarem à casa, não escondem o encantamento: “um oásis cultural”, como descrevem, diante da atmosfera única do espaço.

Para o futuro, o desafio é manter o teatro vivo, pulsante e preservado. Mais do que um espaço físico, ele é símbolo de pertencimento coletivo, guardião de histórias e palco de sonhos. Como reforça o gestor: “O grande desafio é cuidar. Preservar o Teatro do Parque é preservar um pedaço da história do Recife. Esse bem nos pertence, mas também depende do cuidado de quem frequenta. É essa consciência que garante que ele continue sendo um espaço vivo, para as próximas gerações”.

 

 

 

Teatro do Parque
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