Biofertirrigação no Semiárido: uma nova era para a agricultura sustentável
Ao unir ciência aplicada, tradição agrícola e inovação de ponta, os estudos de Luiz Dimenstein pavimentam o caminho para uma revolução silenciosa, mas poderosa, no campo brasileiro
Publicado: 28/07/2025 às 06:31

Projeto de ampliar a área irrigada no país não é barata. Para cada hectare, o custo médio do equipamento de irrigação chega a ser de aproximadamente R$ 25 mil (foto: Freepik)
Uma tecnologia capaz de unir sustentabilidade, alta produtividade agrícola e uso inteligente da água promete transformar a agricultura brasileira, especialmente em regiões castigadas pela escassez hídrica como o Semiárido. Trata-se da biofertirrigação, técnica que será apresentada com profundidade pelo engenheiro agrônomo Luiz Dimenstein, durante o International Coop Semiárido (ICS), que acontece de 31 de julho a 2 de agosto, no Complexo Multieventos da UNIVASF, em Juazeiro, na Bahia. O pesquisador traz na bagagem décadas de experiência acumuladas entre Israel e o Brasil e aposta no uso de microrganismos, compostos naturais e irrigação de precisão para impulsionar a produtividade agrícola de forma sustentável.
Mestre em Agronomia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e ex-membro do Instituto Agronômico Vulcani Center, referência mundial em pesquisa agrícola, Dimenstein é considerado uma das maiores autoridades quando o assunto é fertirrigação. Ele define a biofertirrigação como a integração entre sistemas modernos de irrigação, como o gotejamento e a aspersão, e biofertilizantes elaborados com materiais orgânicos que promovem o crescimento saudável das plantas, ao mesmo tempo em que reduzem o impacto ambiental.
“É um processo que visa simultaneamente a nutrição das plantas e a melhoria da qualidade do solo, além de reduzir perdas hídricas, recuperar áreas degradadas e otimizar o uso de resíduos orgânicos. O objetivo é criar um sistema produtivo circular, sustentável e adaptado às condições adversas do Semiárido brasileiro”, explica Dimenstein.
A proposta de Luiz Dimenstein vai além da simples substituição de adubos químicos por soluções biológicas. Seus estudos revelam como o uso de leveduras e surfactantes específicos pode acelerar a oxigenação do solo e a multiplicação de microbiotas benéficas. Essa estratégia não só elimina odores e resíduos orgânicos como também torna possível o aproveitamento de efluentes e compostos naturais no próprio sistema agrícola, garantindo mais saúde às plantas e mais economia para os produtores.
O pesquisador também destaca a importância do uso desses microrganismos no tratamento de lixões, estercos e compostagens, transformando passivos ambientais em recursos valiosos para a lavoura. “É um sistema regenerativo e multifuncional. Estamos falando de soluções que envolvem o tratamento e reuso de águas residuais, além da limpeza de sistemas de irrigação, o que é fundamental em regiões com pouca disponibilidade hídrica”, afirma.
Soluções que nascem em Israel e ganham raízes no Brasil
Foi em Israel, país que enfrenta severas limitações hídricas e climáticas, que Luiz Dimenstein se especializou nas práticas que hoje leva ao campo brasileiro. No Instituto Agronômico Vulcani Center, participou de projetos de irrigação de precisão e manejo sustentável, voltados especialmente para a convivência com o deserto. Essa expertise internacional foi fundamental para que ele adaptasse os conceitos às necessidades do Semiárido do Brasil, onde a estiagem e a pobreza rural ainda representam enormes desafios à segurança alimentar.
Com atuação no Brasil como diretor da empresa de consultoria FertirrigaR, Dimenstein também representa empresas israelenses e europeias como a Bio-Organic Catalyst (BOC), a LiVa, a ADOB-Nouryon e a VALUDOR, fornecendo suporte técnico e desenvolvimento de tecnologias voltadas ao aumento da produtividade e sustentabilidade no campo. Uma das inovações que ele vem disseminando no país é o uso de etiquetas com pré-bióticos, que prolongam o tempo de prateleira de frutas e hortaliças no pós-colheita, um tema que também será abordado no ICS.
No International Coop Semiárido, Dimenstein apresentará a palestra "Inovação Verde: As Novas Fronteiras Sustentáveis na Agricultura do Futuro", dentro de uma programação voltada a debater soluções para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Semiárido nordestino. Realizado pela WEX com apoio do Sistema OCB/PE e do Sistema Oceb/BA, o evento reunirá especialistas nacionais e internacionais em recursos hídricos, agricultura regenerativa, energias renováveis, mudanças climáticas e cooperativismo.
Além da biofertirrigação, o ICS também abrirá espaço para discussões sobre pós-colheita, fitossanidade amigável, fertilizantes enriquecidos e outros métodos que aliam alta tecnologia com sustentabilidade. Representantes da Inglaterra, Portugal, Israel e diversas regiões do Brasil estão entre os convidados. Para Dimenstein, o evento é uma oportunidade de colocar o Semiárido no mapa da inovação mundial.
Um futuro fértil e sustentável
Ao unir ciência aplicada, tradição agrícola e inovação de ponta, os estudos de Luiz Dimenstein pavimentam o caminho para uma revolução silenciosa, mas poderosa, no campo brasileiro. Uma revolução que não depende apenas de chuvas generosas ou solos férteis, mas de conhecimento, planejamento e respeito aos ciclos da natureza.

