Entre canhões e memórias: o Forte das Cinco Pontas resiste ao tempo e abriga a história do Recife
A grande virada aconteceu em 14 de janeiro de 1982, com a inauguração do Museu da Cidade do Recife no interior do forte
Publicado: 28/07/2025 às 06:31
As muralhas do Forte das Cinco Pontas abrigam o Museu da Cidade do Recife. Foto: Everson Verdião/Esp. DP/DA Press ()
Erguido para defender, transformado para aprisionar e hoje voltado à preservação da memória, o Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José, é um marco da história do Recife e símbolo da transformação urbana, política e cultural da cidade ao longo dos séculos. Com mais de três séculos de existência, o monumento, que abriga o Museu da Cidade do Recife desde 1982, é um dos mais emblemáticos testemunhos da colonização e da resistência na capital pernambucana.
Construído originalmente pelos holandeses em 1630, sob o nome de Forte Frederik Hendrik, a estrutura foi erguida visando proteger o território recém-conquistado das forças luso-espanholas. Feito de taipa e madeira, o forte possuía cinco baluartes, o que inspirou o nome popular que resiste até hoje, mesmo após alterações estruturais posteriores. Após a retomada de Pernambuco pelos portugueses, em 1654, a fortificação foi parcialmente demolida e, em 1684, reconstruída com pedra e cal pelos colonizadores portugueses. Nessa reforma, perdeu uma das pontas, passando a ter quatro baluartes, mas mantendo o nome original.
Durante o período colonial e imperial, o Forte das Cinco Pontas desempenhou diferentes funções. De defesa militar, tornou-se prisão e quartel, abrigando em seus muros prisioneiros políticos, soldados e criminosos comuns. Ali também funcionou, por um período, o Arsenal de Guerra. Com o passar dos anos e o declínio de seu papel estratégico, o espaço foi perdendo relevância para as Forças Armadas e se degradando lentamente até ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1938.
A grande virada aconteceu em 14 de janeiro de 1982, com a inauguração do Museu da Cidade do Recife no interior do forte. A iniciativa deu novo significado ao local, transformando a antiga fortaleza em um espaço de preservação, pesquisa e difusão da história urbana da capital pernambucana. Desde então, o museu vem reunindo fotografias, mapas, documentos e objetos que ajudam a contar a evolução da cidade do Recife, desde o período colonial até os dias atuais.
“O Forte é mais do que uma construção centenária. É um lugar de memória, onde a cidade pode se ver e se reconhecer. Ao longo dos anos, o museu se tornou fundamental para entender o Recife em suas múltiplas camadas: social, política, geográfica e cultural”, afirma Sandro Vasconcelos, historiador e responsável pelo Setor de Pesquisa do Museu da Cidade.
O acervo permanente inclui exposições de longa duração, como a que revela o crescimento da cidade a partir do seu núcleo original, o Bairro do Recife, passando pelos processos de modernização urbana e enfrentamentos sociais. O museu também realiza exposições temporárias, que dialogam com questões contemporâneas e promovem o encontro entre história e atualidade.
A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, anunciou estudos para a requalificação do forte e modernização do museu. A ideia é ampliar a acessibilidade do espaço, reestruturar a museografia e intensificar as ações voltadas para a educação patrimonial, especialmente com escolas públicas.
“Queremos que o forte não seja apenas um ponto turístico, mas um espaço vivo de aprendizagem e convivência. Ele pertence à cidade e à sua gente”, pontua Vasconcelos.
Hoje, o Forte das Cinco Pontas não dispara mais canhões, mas segue firme como guardião de uma história que precisa ser contada, preservada e sentida.

