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Recapibaribe, o rio que pulsa esperança

Com ações que unem cultura, sustentabilidade e solidariedade, a ONG Recapibaribe atua há 31 anos em defesa do Capibaribe e das populações ribeirinhas de Pernambuco.

Larissa Aguiar

Publicado: 23/07/2025 às 06:31

Recapibaribe, o rio que pulsa esperança
/reprodução/redes sociais

Recapibaribe, o rio que pulsa esperança (reprodução/redes sociais)

Há 31 anos, um movimento nascido entre pescadores do Recife transformou-se em uma força viva de educação, cultura e resistência ambiental. Fundada por Dona Socorro e pelo saudoso André Cantanhede, a ONG Recapibaribe segue remando contra a maré da negligência, levando solidariedade, conhecimento e transformação para quem vive às margens do rio que inspira o nome da entidade.

Entre o cheiro da lama e o som ritmado das águas, nasceu, em 1994, a semente de uma revolução silenciosa. Dona Socorro, mulher ribeirinha, filha do Capibaribe e da resistência popular, deu o primeiro passo ao lado do marido e de um grupo de pescadores para lutar por um rio que agonizava.

De movimento espontâneo a organização reconhecida, a Recapibaribe passou a atuar diretamente com as comunidades ribeirinhas, especialmente em Recife e Região Metropolitana. Ao longo de três décadas, vem promovendo ações que entrelaçam educação ambiental, cultura, sustentabilidade e assistência social, tudo com um único foco: proteger o Capibaribe e quem sobrevive dele.

 

Um rio de ações e impacto

A sede da ONG, batizada de Capibar, é um espaço multicultural e comunitário, que abriga reuniões, exibições culturais, encontros educativos e, sobretudo, afeto. De lá partem iniciativas que unem tradição e inovação, como o projeto “Há Gosto pelo Capibaribe”, que acontece todos os anos no dia 31 de agosto. Em sua 16ª edição, a gincana ambiental já reúne cerca de 200 pescadores para a limpeza do rio, retirando até 20 toneladas de lixo em um único dia. “É um grito coletivo. Um protesto com rede e suor, pra mostrar que esse rio não está morto, está sendo assassinado”, dispara Dona Socorro.

Outra frente de atuação é o “Pescando Consciência Ambiental”, programa de educação sócio-ambiental que mobiliza escolas públicas e privadas, universidades e a própria comunidade. São palestras, rodas de conversa e vivências às margens do rio, onde o conhecimento flui como correnteza. “Nosso papel é plantar sementes. Cada criança que sai daqui sabendo o que é saneamento, o que é respeito à natureza, já é uma vitória”, afirma Dona Socorro.

E porque cuidar do rio é também cuidar de quem vive às suas margens, a ONG mantém a Sopa Solidária, distribuída todas as quartas-feiras na Praça da Encruzilhada, levando alimento, roupas e dignidade a pessoas em situação de rua. A solidariedade é o elo entre a água e o humano.

Cultura que transborda

Se a água leva vida, a cultura é o sopro que alimenta a alma. Pensando nisso, o projeto CineCapi passou a transformar a sede da ONG em sala de cinema popular. Curtas-metragens, exibições musicais, conversas com realizadores e apresentações de artistas locais fazem do Capibar um território vivo de arte e reflexão. “É cultura com propósito. O ingresso vira ação social, e a plateia vira multiplicadora”, conta a presidente.

Nesse espaço, a Recapibaribe também dissemina uma cultura de consumo consciente. Durante os eventos, é solicitado que o público leve seu próprio copo reutilizável ou adquira um no local como forma de compensação ambiental. Pequenos gestos, grandes significados.

Desafios à frente e sonhos à flor d’água

Apesar de sua longa trajetória, a ONG Recapibaribe ainda enfrenta desafios estruturais. Um dos principais projetos para os próximos anos é a reforma da Sala Multidisciplinar, que pretende ser um espaço para oficinas, cursos, apresentações e encontros comunitários. A meta é captar recursos por meio de editais de incentivo à cultura e à educação ambiental.

A organização também busca fortalecer parcerias, ampliar a atuação em outras cidades pernambucanas e desenvolver novos projetos que integrem saberes populares e ciência ambiental. “A gente quer mostrar que cuidar do rio é cuidar da gente. Quem joga lixo no Capibaribe não joga só fora um plástico, mas um pedaço da nossa história, da nossa saúde”, reforça a fundadora.

Legado e resistência

A importância da ONG Recapibaribe vai além da limpeza do rio ou da assistência pontual: ela promove uma mudança de mentalidade. É um espaço de formação cidadã, de reconexão com o meio ambiente e de valorização dos saberes locais.

Ao longo dos seus 31 anos, a Recapibaribe construiu um legado de luta, cuidado e esperança. Em cada barqueata, cada prato de sopa, cada oficina com crianças, pulsa a certeza de que o Capibaribe pode, sim, voltar a ser um rio limpo, cheio de vida e de histórias para contar.

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