Gapes: uma década de solidariedade e transformação social em Vitória de Santo Antão
Ao longo dos anos, a GAPES conquistou reconhecimento fora dos limites de Vitória. A instituição já teve projetos financiados por editais do Governo do Estado de Pernambuco, da Prefeitura Municipal e do Governo Federal
Publicado: 16/07/2025 às 06:31
Fundada em 2013, a ONG GAPES, Grupo de Apoio a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade Social, nasceu em resposta direta à ausência do Estado e à violência que marcava o bairro de Mário Bezerra, em Vitória de Santo Antão. Mais do que uma entidade de apoio social, a GAPES se transformou em símbolo de resistência, acolhimento e transformação comunitária. Em mais de uma década de atuação, a instituição ampliou seu alcance, estruturou projetos de impacto e segue buscando expandir seu modelo para outros municípios pernambucanos.
“A gente criou a GAPES porque vivíamos uma realidade dura. Mário Bezerra era a segunda comunidade mais violenta de Vitória, segundo o 21º Batalhão. Não dava mais para esperar. A gente precisava fazer alguma coisa por aquelas crianças, pelas famílias”, relembra Edson Domingos, presidente da ONG e um dos fundadores. Professor e ex-morador da comunidade, Edson vive de perto as dificuldades enfrentadas por seus vizinhos e também os resultados de cada iniciativa construída com esforço coletivo.
Com sede na Rua Santa Clara e uma unidade anexa no centro da cidade, o GAPES atua de forma multidisciplinar. Seus projetos aliam educação, arte, saúde, assistência social e qualificação profissional com foco no fortalecimento de direitos e na inclusão. A organização acredita no poder do protagonismo juvenil e da articulação comunitária para promover mudanças reais. Entre as iniciativas de maior impacto está a **Cozinha Comunitária**, que semanalmente oferece refeições nutritivas para famílias em situação de vulnerabilidade social. O projeto, em parceria com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), vai além do prato de comida: transforma a hora da refeição em momento de acolhimento, empatia e reconstrução da dignidade.
“A Cozinha Comunitária é mais do que alimentação. É um ponto de apoio, de escuta, de laços. É ali que muitos voltam a acreditar que podem sim viver com mais dignidade”, conta Edson Domingos, diretor da GAPES. Toda sexta-feira, moradores da região se reúnem no espaço para receber jantares balanceados. O alimento, preparado com atenção à saúde nutricional, é apenas uma das pontas do trabalho. A iniciativa fortalece os vínculos entre os participantes e reforça o senso de pertencimento à comunidade.
Outro projeto de destaque é o Unicrescer, aprovado pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pernambuco (CEDCA/PE), com execução prevista para seis meses. O projeto atende 200 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, oferecendo oficinas artísticas, culturais e educativas no contraturno escolar. Com investimento de R$ 100 mil, o Unicrescer combate diretamente as violações de direitos como violência sexual e trabalho infantil, ao mesmo tempo em que promove inclusão e cidadania.
“Todas as crianças recebem lanche em todas as aulas. Pode parecer um detalhe, mas para muitas delas, esse lanche é a refeição mais nutritiva do dia. A gente cuida para que elas tenham não só acesso ao conhecimento, mas também ao básico”, destaca Edson.
Além dos projetos sociais, a ONG também investe em qualificação profissional, oferecendo cursos de barbearia, cabeleireiro, unhas em gel, entre outros, que preparam jovens e adultos para o mercado de trabalho e para processos seletivos simplificados dos governos estadual e municipal. A ideia é dar ferramentas para que cada beneficiário possa trilhar seu próprio caminho com mais autonomia e dignidade.
Ao longo dos anos, a GAPES conquistou reconhecimento fora dos limites de Vitória. A instituição já teve projetos financiados por editais do Governo do Estado de Pernambuco, da Prefeitura Municipal e do Governo Federal. Um dos marcos foi o projeto Transformarte, voltado à promoção de políticas públicas culturais. “Concorremos com 61 entidades de todo o Brasil e ficamos em primeiro lugar no Nordeste. Isso mostra que nosso trabalho aqui tem força e qualidade”, afirma orgulhoso o presidente.
A trajetória da GAPES é também a história de uma comunidade que se recusou a ser silenciada pela violência e pela exclusão. Com o trabalho voluntário de educadores, moradores e parceiros, a ONG se tornou um farol para muitas famílias em meio à escuridão da negligência pública.
Para o futuro, Edson tem sonhos ambiciosos. “Queremos crescer mais. Queremos que essa política pública que construímos aqui seja levada para outros municípios. Estamos em articulação com prefeituras de outras cidades, desenhando a expansão da nossa metodologia. Temos atendimento psicológico, social, jurídico, pedagógico, psicopedagógico e recreativo. A gente sabe que dá certo. E queremos alcançar quem ainda precisa.”

