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Clube das Pás: 137 anos de história, frevo e resistência cultural

Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife, o Clube das Pás abriga a mais antiga escolinha de frevo do estado, com cerca de 30 alunos

Larissa Aguiar

Publicado: 02/06/2025 às 06:08

CLUBE DAS PÁS/ALEXANDRE GONDIM/DP

CLUBE DAS PÁS (ALEXANDRE GONDIM/DP)

Fundado em 19 de março de 1888, dois meses antes da Abolição da Escravatura, o Clube Carnavalesco Misto das Pás Douradas é o mais antigo clube de frevo em atividade no Brasil, um verdadeiro monumento vivo da cultura pernambucana. Nascido do suor dos carvoeiros que abasteciam um navio inglês atracado no Porto do Recife em pleno Carnaval, o clube ultrapassou os limites do tempo para ser símbolo de tradição, resistência e transformação social.

A origem do Clube das Pás é quase tão pitoresca quanto a própria história do Recife. Segundo relatos, diante de uma greve de estivadores, o capitão de um navio a vapor, em desespero, contratou carvoeiros para abastecer a embarcação.

Após concluírem a tarefa em tempo recorde e bem pagos, os trabalhadores resolveram comemorar no Clube dos Caiadores. Levaram nas costas as pás utilizadas no serviço, e ali, entre batuques e frevos, nasceu o Bloco das Pás de Carvão.

Um ano depois, o grupo ganharia sede, estrutura e um novo nome: Clube Carnavalesco Misto das Pás, “Misto” porque, desde o início, acolhia foliões de todos os gêneros, uma inovação para a época.

De lá para cá, o Clube das Pás tornou-se referência no cenário cultural de Pernambuco. Em 2016, um novo capítulo começou a ser escrito com a chegada de Rinaldo Lima à presidência.

Apaixonado pela história do clube, ele assumiu o desafio de resgatar o prestígio do clube. Foram realizadas grandes reformas na sede, localizada na Rua Odorico Mendes, no bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife.

O espaço ganhou climatização, palco moderno, camarotes, bar, pub e uma ambiência capaz de acomodar até 1.200 pessoas confortavelmente.

“O Clube das Pás não é apenas um espaço de festas. É um celeiro cultural que resgata memórias e projeta o frevo para o futuro”, afirma Álvaro Melo, Diretor de Promoções e Eventos do Clube.

“Quando o frevo toca aqui, não é só música, é ancestralidade vibrando no compasso do tambor e da alegria do povo.”

A influência do Clube das Pás vai muito além dos bailes. Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife, a agremiação abriga a mais antiga escolinha de frevo do estado, com cerca de 30 alunos.

Mantém também o projeto social "Pás na Comunidade", que oferece aulas de dança, idiomas, informática, cabeleireiro, corte e costura para crianças e adolescentes da Ilha do Joaneiro e de municípios do interior. Essas ações reafirmam o clube como agente de cidadania e inclusão social.

A vitalidade das Pás se revela também nas celebrações. Em 2025, a tradicional Super Manhã de Sol realizada anualmente reuniu a Orquestra das Pás, bandas como Expresso ao Passado, Camelô e Luminar, além de dançarinos profissionais. A programação atrai associados, beneméritos e convidados, mantendo viva a chama do carnaval de salão, com seu brilho, elegância e paixão.

Com sete títulos no carnaval recifense, o clube já recebeu grandes nomes da música brasileira, entre eles Reginaldo Rossi, Roberta Miranda e Agnaldo Timóteo. Além disso, preserva um estandarte centenário, datado de cerca de 1910, e reverencia sua história com ações como o desfile em homenagem a Joaquim Nabuco todo 13 de Maio, marcando o compromisso histórico com a memória abolicionista.

A história das Pás também é feita de afetos. “O frevo é mais que dança, é celebração e união. E desfilar no Clube das Pás é desfilar no coração da alegria pernambucana.” disse Álvaro.

Hoje, aos 137 anos, o Clube das Pás segue firme como um dos mais importantes guardiões da cultura popular do estado. Um espaço onde tradição e modernidade se encontram ao som do frevo, com o mesmo entusiasmo daqueles carvoeiros que, em 1888, trocaram o trabalho árduo pela liberdade de festejar.

 

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