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Política
Prisão Bolsonaro

Futuro do clã Bolsonaro é incerto após prisão do líder

Especialistas avaliam qual a "próxima jogada" dos filhos do ex-presidente e afirmam que encarceramento expôs dilemas internos e fragilizou projeto político

Mariana de Sousa

Publicado: 30/11/2025 às 22:00

Influência dos filhos de Bolsonaro tem um alcance limitado, segundo cientista político/Reprodução/Redes Sociais

Influência dos filhos de Bolsonaro tem um alcance limitado, segundo cientista político (Reprodução/Redes Sociais)

A concretização da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado por comandar a trama golpista, já levanta a discussão de qual será a “próxima jogada” do clã Bolsonaro para o pleito eleitoral de 2026, sem seu principal líder livre para atuar ou sem qualquer visão a possíveis sucessores. Para especialistas, a prisão não só reorganiza as alianças, mas também expõe dilemas internos e fragiliza os projetos políticos do clã Bolsonaro.

De acordo com cientista político Arthur Leandro existem três caminhos possíveis para a direita: “a radicalização residual”, “a dispersão pragmática” e “a moderação estratégica”, sendo esta última a tendência mais provável. Nesse cenário, Tarcísio de Freitas se destacaria como figura mais competitiva: “Tarcísio de Freitas surge como mais provável herdeiro político do legado ‘de direita’, amealhado nos anos Bolsonaro, mas enfrenta dilemas de posicionamento.”

De acordo com Leandro, o clã Bolsonaro enfrenta um dilema clássico de sucessão em regimes personalistas: manter a fidelidade ao legado do pai reforça a base ideológica, mas os isola no sistema partidário, criando dificuldades na construção de alianças. “A tendência, neste estágio, é de tentativa de "capitalização simbólica", com ênfase retórica no vitimismo e na perseguição, à "vivemos uma ditadura no Brasil", etc., mas sem capacidade real de recompor a aliança que levou Jair ao poder, em 2018”.

Leandro ainda acredita que a influência dos filhos do ex-presidente em 2026, todos na política, sofrerá um enfraquecimento: “Os filhos de Bolsonaro devem manter influência em nichos específicos, mas seu alcance eleitoral pode ser limitado sem o poder simbólico de Bolsonaro em campanha.” Hoje, Flávio Bolsonaro (PL) é senador, Eduardo Bolsonaro é deputado federal, e atualmente vive auto exilado nos EUA, correndo o risco de perder seu mandato. Carlos e Renan Bolsonaro exercem cargos de vereadores.

Para o cientista político da ESPM, Paulo Ramirez, o maior desafio dos postulantes à vaga deixada por Bolsonaro é carregar o peso de uma liderança condenada: “Qualquer candidato da direita vai ter que carregar o estigma de ser apoiado por um presidente condenado por tentativa de golpe de Estado.”

Na avaliação de Leandro, o “Centrão”, orientado por lógica distributiva de recursos e adaptativa a conjunturas variáveis, ”tende a “pular fora do barco”, buscando alianças com figuras viáveis eleitoralmente, mas com menor carga de polarização, como Tarcísio, Zema, ou outros nomes do campo "conservador" mais tradicional, como Ratinho Júnior ou Ronaldo Caiado”. Já os militares, segundo os especialistas, devem dar passos atrás: “A continuidade de vínculos com o bolsonarismo pode representar risco disciplinar e reputacional o maior incentivo para os militares passa a ser voltar para caserna.”

Ramirez destaca a instabilidade vivida no momento atual pela direita bolsonarista e a necessidade de uma reorganização. O especialista lembra que mesmo antes da condenação definitiva o campo conservador já não tinha um nome consolidado, uma vez que Bolsonaro já estava inelegível: “Estamos a menos de um ano das eleições e configurar um nome forte como presidente não se faz do dia para a noite.”

Reconstrução da direita

Segundo Leandro, a reconstrução da direita depende da capacidade de reorganizar discurso e alianças: “A direita competitiva para 2026 dependerá da capacidade de construir uma nova síntese narrativa e institucional: com discurso de ordem, mas sem ruptura democrática.”

De acordo com o especialista, a prisão marca o encerramento de um ciclo e exige reacomodação: “A prisão definitiva do ex-presidente Jair Bolsonaro representa o fim de um capítulo específico na história recente da direita brasileira, e isso exige uma recomposição estratégica desse campo político.”

Leandro ainda destaca que manter fidelidade ao ex-presidente passa a ter riscos crescentes: “Por uma questão de escolha racional, partidos, lideranças políticas e empresários devem reavaliar seus incentivos, já que manter fidelidade ao bolsonarismo é uma estratégia que envolve custos judiciais, reputacionais e eleitorais crescentes.”

Congresso Nacional

Sobre a atuação no Congresso, Ramirez aponta que a prioridade da direita bolsonarista parece ser a sobrevivência eleitoral no Legislativo: “O foco hoje do bolsonarismo está muito mais presente no Congresso, isso fragmenta a possibilidade de uma unidade bolsonarista para uma candidatura à presidência.”

A comparação com o caso Lula em 2018 também é desfavorável a Bolsonaro, segundo ele: “Diferentemente da prisão de Lula, ao que parece o Bolsonaro não se preparou. Não há nenhuma notícia que indique que ele tenha previamente feito gravações de apoio.” Ramirez prevê que a taxa de transferência será limitada: “É muito difícil a possibilidade de transferir votos para outro candidato.”

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