"Hugo Motta não quer minha cassação", diz Glauber Braga
Em entrevista exclusiva ao Diario, deputado Glauber Braga demonstrou confiança quanto ao processo de cassação e falou sobre a caravana em sua defesa, que chega ao Recife nesta segunda-feira (2)
Publicado: 02/06/2025 às 05:00

O deputado federal Glauber Braga (Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)
O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) desembarca no Recife nesta segunda-feira (2) para cumprir agenda que inclui entrega de voto de aplauso na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e ato político em frente à Faculdade de Direito do Recife, previsto para as 17h30. Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, o parlamentar demonstrou confiança quanto ao processo de cassação de seu mandato, aprovado no dia 9 de abril pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por 13 votos a cinco, falou sobre seu futuro e comentou a receptividade que vem tendo em todo o país.
O Recife é a 15ª cidade contemplada pela Caravana Nacional Glauber Fica, articulada com o objetivo de defender o mandato. O processo de cassação aconteceu depois que o Conselho de Ética entendeu que houve quebra de decoro parlamentar na ocasião em que Glauber entrou em confronto físico com um militante do Movimento Brasil Livre (MBL), que proferiu ofensas contra a mãe do deputado.
No dia 29 de abril, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara rejeitou, por 44 votos a 22, o recurso de Glauber contra a decisão favorável à cassação. O processo será encaminhado para a Mesa Diretora da Câmara e depois será submetido ao plenário, em que são necessários os votos de pelo menos 257 deputados para que a cassação seja aprovada.
Quais pontos da sua defesa contra a cassação do mandato gostaria de destacar e quais fragilidades enxerga na acusação?
Essa acusação tem como desculpa uma reação minha a um provocador que, por sete vezes, foi me atacar. Na quinta vez, dentro do espaço da Câmara, atacou de maneira covarde minha mãe, que já estava com Alzheimer avançado e que veio a falecer alguns dias depois.
Todo mundo sabe que não é esse o motivo da tentativa de cassação, uma perseguição tocada por (Arthur) Lira por conta do mandato ter batido de frente com ele e, mais especificamente, das denúncias que eu fiz ao longo dos últimos anos em relação ao orçamento secreto. Eu subi mais de 20 vezes à tribuna para fazer essa denúncia.
Todo mundo sabe que o Arthur Lira é o grande articulador do orçamento secreto. Ele não perdoou, agora está tentando se vingar e ao mesmo tempo dá um sinal para os outros que é: "olha o que que acontece com quem mexe comigo".
O senhor falou muito em perseguição do ex-presidente Arthur Lira. Com a chegada de Hugo Motta à presidência da casa, qual sua perspectiva quanto à condução do processo?
Olha, a minha sensação inicial é de que o atual presidente Hugo Motta não quer minha cassação, porque inclusive ficaria muito ruim, né? Ele teria a gestão dele marcada por uma cassação que evidentemente é arbitrária, é uma perseguição política tocada pelo seu antecessor.
O prazo que a gente conseguiu de mais dois meses a partir da aprovação da CCJ veio com muita mobilização, né? Veio com solidariedade. Esse recuo da mesa foi uma sinalização importante, porque o que tava a ser desenhado até então era uma cassação sumária. Ao mesmo tempo, em determinados momentos se segurou a ordem do dia no plenário para que o meu processo avançasse, tanto no conselho de ética quanto na Comissão de Constituição e Justiça.
Agora nós temos que ver as cenas dos próximos capítulos. Como vai ficar registrada a participação do atual presidente da Câmara nessa história são os próximos passos, os próximos episódios é que vão dizer. Espero que ele não trabalhe por uma tentativa de cassação que evidentemente é injusta e arbitrária.
O senhor tem se sentido apoiado pelo Governo Federal em seu processo de resistência à cassação? Como tem sido a relação com Lula e a base do PT nesse processo?
Durante a greve de fome em que eu denunciei o que tava acontecendo e houve muita repercussão, a presença da ministra Gleisi (Hoffmann) e do ministro Sidônio (Palmeira) me visitando evidentemente amplificou a denúncia e foi uma sinalização para que aproximadamente outros dez ministros também visitassem.
Sem dúvida nenhuma, essa foi uma sinalização importante que, repito, amplificou a denúncia. Eu sou grato e faço questão de reconhecer isso publicamente.
Deputado, caso a cassação se concretize e o senhor fique inelegível por oito anos, qual seria seu projeto para o futuro?
Eu tenho convicção de que a gente vai virar esse jogo e essa cassação não vai se concretizar no plenário da Câmara. Tá ficando muito feia essa história, a foto tá feia, as pessoas estão vendo que se trata de uma perseguição muito grande. Deputados do próprio centrão e até da direita dizem se tratar de uma perseguição, de uma injustiça, de uma desproporcionalidade, então pegaria muito mal para a Câmara Federal executar essa essa cassação.
Agora eu vou ser sempre um militante, independentemente de qualquer resultado que se tenha do ponto de vista institucional, sobre qualquer caso. Deputado eu estou, militante eu vou ser por toda a minha vida, mas nós vamos virar esse jogo e essa cassação não vai ser aprovada no plenário.
E como tem sido a recepção da caravana pelo Brasil?
A recepção da caravana tem sido maravilhosa. Todos os encontros foram representativos, muita gente, uma mobilização, uma solidariedade fantástica. Para além disso, tô dialogando com os mais diversos veículos de comunicação, apresentando as teses da defesa e ampliando a solidariedade contra a perseguição política. Realmente a caravana tem estado acima inclusive das nossas expectativas iniciais.

