Esperança roubada

O esporte brasileiro acaba de sofrer um duro golpe exatamente num esporte que tem grande chance de medalhas no Rio’2016: a canoagem. O treinamento da equipe, que pode conquistar três medalhas, é feito em Lagoa Santa, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde o motor do barco da comissão técnica foi roubado pela segunda vez neste ano. O episódio tem impedido a realização de treinamentos específicos por pelo menos uma semana.

Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no ano passado, a equipe brasileira ganhou quatro medalhas: com Isaquias Queiroz, ouro na categoria C1 1000m; bronze na K2 1000m, com Celso Júnior e Vagner Souta; prata na C2 1000m, com Isaquias e Erlon de Souza; e outro bronze, com Ana Paula Vergutz no K1 500m. Além disso, o país tem quatro medalhas em Mundiais, duas delas douradas. Foi dominante na categoria C1 500m nas competições realizadas em Duisburg’2013 e em Moscou’2014. As outras foram de bronze, no C1 1.000m, na Alemanha, e no C1 200m na Rússia.

Esse retrospecto faz do Brasil um favorito ao pódio nessas categorias. Para o espanhol Jesus Morlan, técnico da equipe, a situação é revoltante. “Primeiro, em fevereiro, roubaram um motor. Embora esse fosse recondicionado, era importante para a gente. A Confederação Brasileira de Canoagem (CBC), comprou um novo. Não pensava que fosse desaparecer como o anterior. Mas aconteceu, a situação se repetiu. Esse segundo motor estava soldado e eles destruíram parte do barco para levá-lo.”

Jesus acha que a ação foi feita por pessoas que conhecem a embarcação. “Eles sabiam o que estavam fazendo, pois não levaram remos, uniformes, barcos, assentos destes, que estavam no mesmo conteiner. Foram lá exclusivamente para pegar o motor, que é de 15HP. Foi uma ação demorada, pois tiveram trabalho e tempo. Cortaram a parte que sustentava o motor e a levaram junto. E era mais de uma pessoa”, avalia.

O problema maior, segundo Jesus, é que os treinos foram prejudicados. “Eu fico no barco com um ou dois membros da comissão técnica e vamos juntos para a água. Navegamos lado a lado com os canoístas, passando informações sobre remadas, técnicas. É a parte mais importante do treinamento. E sem o barco a motor ficamos impedidos de fazer essa parte, que é fundamental.”

A revolta de Jesus é grande. “Não posso conceber que um brasileiro não pense que está prejudicando o esporte olímpico de seu país. Esse ladão não tem alma. Ele está prejudicando aqueles que representam seu país. Não tem ética e muito menos amor pelo Brasil. Isso é falta de amor e carinho.”

Solução Os conteiners da CBC, sempre trancados com cadeados, ficavam colocados num setor da lagoa em que não existem residências próximas. Não havia vigias. Mas agora, segundo Jesus, isso será mudado. “Vamos passar os conteiners para dentro de uma área da Polícia Militar. Vai tudo ficar lá. Nunca poderia imaginar que roubariam uma equipe olímpica aqui no Brasil. Mas, agora, temos a parceria com a PM. É a única solução.”

A expectativa é que um novo motor, no valor de R$ 14 mil, chegue a Lagoa Santa no final de semana e que esteja instalado até segunda-feira, quando Jesus espera retomar os treinos completos.