Paixão, sonho e recorde

Disputar uma edição dos Jogos Olímpicos aos 17 anos é uma glória para qualquer atleta. E quem está muito próximo de realizar esse feito é a nadadora Maria Paula Heitmann, que fez aniversário ontem. Em janeiro, ela assegurou, no Open de Natação, o índice olímpico para o revezamento 4x200m livre. Está com o terceiro tempo na equipe brasileira e espera pelo menos manter essa posição na segunda e última seletiva, em abril, no Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro.

A história de Maria Paula começa quando os pais, o contador Leonardo, 40 anos, e a administradora Maria de Fátima Mangabeira, 45, decidiram colocar a filha na natação do Olympico Club, em Belo Horizonte. Ela tinha 5 anos. O objetivo era despretensioso. “O pensamento era só que ela aprendesse a nadar”, conta a mãe.

Maria de Fátima se surpreendeu, posteriormente, ao inscrevê-la numa outra escola e ouvir de um instrutor que a garota tinha potencial. “Era como um complemento da educação. O professor Ricardo, da Academia Pé de Pato, nos disse que ela tinha boas chances se competisse. Daí, ela passou a nadar pela academia em 2008. Depois veio o convite do Minas, o que fez muito bem para ela”, conta a mãe.

A nadadora chegou ao clube em 2011. E, em 2012, no Campeonato Brasileiro infantil, em Goiânia, realizou seu primeiro feito: bateu o recorde brasileiro dos 100m livre, que era de outra nadadora do Minas, Ângela Tupynambá, e já durava 25 anos. “Foi emocionante. Primeiro, comemorei a vitória. Só depois, quando o pessoal veio comemorar, soube que tinha batido um recorde.”

Maria Paula revela que foi se apaixonando aos poucos pelo esporte. Confessa que jamais imaginou estar na mesma equipe de competidores como Cesar Cielo, Thiago Pereira, Nicolas Oliveira, Kaio Márcio, Miguel Valente, Felipe Lima.

“Eu era ainda muito jovem, começando a competir, e ia ao Minas ver as competições. Tantas vezes fiquei pedindo autógrafo para o Cielo e o Thiago. Até que um dia consegui mais que o autógrafo. Tirei fotos, que estão muito bem guardadas. São meus ídolos. E hoje me encontro com eles e falo ‘oi’. Soa até estranho estar na mesma equipe de meus ídolos. Jamais pensei que isso aconteceria e agora posso estar com eles nos Jogos Olímpicos do Rio”, festeja.

Sobre a Olimpíada, ela confessa sentir um frio na barriga. “É o mesmo que acontece em competições. Por fora, pareço estar tranquila, mas, por dentro, estou remoendo. Quero sempre ir bem nas competições. Quero vencer, estar no pódio, fazer bonito. Preocupo-me muito com isso.”

O momento para Maria Paula é de preparação em todos os sentidos. “Treino todos os dias das 7h30 às 10h e das 15h às 18h. Nado, em média, cinco mil metros por dia. A folga é só no domingo.” E faz planos pensando nos Jogos. “Sei que de agora em diante vou treinar muito mais, focada em estar na Olimpíada. Quero dar o meu melhor. Preciso melhorar meu tempo para poder me garantir na equipe. Não tem nada garantido.”

E priorizar a Rio’2016 a levou até a trocar o Izabela Hendrix por outra escola para fazer o terceiro ano do ensino médio. “Terei de treinar mais. Não vai dar para continuar. Tenho saudade de todos lá.” Ela diz que o apoio de colegas e professores é um estímulo extra. “Todos me incentivam, ainda mais porque tenho boas notas. Alguns me perguntam como consigo competir e estudar.”

E entre as muitas coisas que procura fazer para melhorar, está a amizade com um nadador experiente, Nicolas Oliveira, de 28 anos, que também já tem índice olímpico. “Converso muito com o Nico. Ele me dá muitos conselhos. Muitas vezes, quando saio de um treino ou de competição, ele vem me falar sobre fazer alguma coisa que não é o ideal, dizendo que poderia ser dessa ou daquela forma.”

FAMÍLIA E ela não se descola dos pais, que a acompanham em todas as competições. “A gente vai sempre às provas para incentivá-la. Isso é muito importante”, diz a mãe. Maria Paula os vê como gurus. “Procuro sempre conversar com eles, pedir conselhos. Discutimos as competições, minhas participações.”

É Maria de Fátima quem está também nos treinos no Minas. “Não dá para fazer isso todo dia, mas sempre que posso venho buscá-la. A gente mora perto do clube. Quando não venho, ela vai embora a pé. Mas gosto de vir, para ver como está tudo, o treino, o desenvolvimento.”

DO QUE ELA GOSTA

Filme: comédia e romance
Livro: Jogos vorazes, de Suzanne Collins
Comida: macarronada
Música: romântica
Local preferido em BH: praças
Televisão: programas de música e filmes


Caçulas da natação brasileira nos Jogos Olímpicos
Disputa                     atleta                                                                                  idade
Pequim’2008     Ana Marcela Cunha (águas abertas)                          16
Atenas’2004      Joanna Maranhão                                                               17
Seul’1988          Isabelle Vieira                                                                        16
Moscou’1980      Marcelo Juca                                                                       16
Montreal’1976    Flavia Nadalutti                                                                 15
Munique’1972    Cristina Teixeira                                                                 14
México’1968       José Roberto Aranha                                                        17
Roma’1960        Fernando de Abreu                                                               16
Helsinque’1952  Sylvio dos Santos                                                                 16
Londres’1948     Talita Rodrigues                                                                   13
Berlim’1936        Piedade Coutinho Tavares e Julius Edgar Arp      16
Los Angeles’1932 Maria Lenk                                                                         17