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Da recusa ao mito: a trajetória de Ali

Publicado: 30/04/2015 às 09:06

Ao se recusar a servir ao Exército em nome de Alá, Cassius Clay perdeu o cinturão dos pesados. Sete anos depois, em luta emblemática que chegaria às telas do cinema, a lenda Mohammad Ali era consolidadaPara muitos, Cassius Clay, ou Mohammad Ali, é o maior pugilista de todos os tempos. Três vezes campeão mundial dos pesos-pesados – defendeu o título 19 vezes e foi derrotado em cinco –, ele teve a carreira ameaçada quando, em abril de 1967, se recusou a servir ao Exército norte-americano para lutar na Guerra do Vietnã. “Cassius Clay já não é mais campeão mundial”, anunciou o Estado de Minas na edição do dia 30 daquele mês.

O lutador, de 25 anos, que desde 1965 havia defendido o cinturão por nove vezes, perdeu o título mundial dos pesados por decisão da Associação Mundial de Boxe (WBA), ratificada pela Comissão Atlética de Nova York, “por ter se recusado a dar o tradicional passo à frente perante o oficial recrutador e a prestar juramento, ingressando no Exército americano”.

Cassius Marcelus Clay, que havia se convertido ao islamismo em 1964 e adotado o nome de Mohammed Ali, apresentou-se ao Centro de Recrutamento de Houston e foi aprovado em todos os exames físicos e mentais, mas se recusou a obedecer outra lei que não a do Islã: “Só vamos à guerra se a mesma for declarada por Alá. Devo obediência às leis do Profeta, mas não às do governo norte-americano”.

Ali foi condenado em 20 de junho e pegou cinco anos de prisão. Também teve de pagar multa de US$ 10 mil. Além de perder o cinturão, teve cassada a licença de boxeador, mas acabou se tornando um símbolo da resistência do povo americano à Guerra do Vietnã. O pugilista recorreu da sentença em liberdade. Em dezembro de 1970, conseguiu na Comissão Atlética de Atlanta uma licença para voltar a lutar no estado e derrotou Jerry Quarry. Depois, foi perdoado também pela Comissão Atlética de Nova York.

VOLTA POR CIMA Em 8 de março de 1971, no Madison Square Garden, enfrentou Joe Frazier para tentar reconquistar o cinturão dos pesados, mas acabou derrotado por pontos depois de 15 assaltos. Em junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu por unanimidade a seu favor, por entender que Ali não aceitou a convocação por convicções religiosas. Em 1974, ao vencer o mesmo Frazier, ele conquistou o direito de desafiar o então campeão, George Foreman. A luta, num estádio em Kinshasa, no Zaire, é considerada uma das mais importantes da história do boxe e transformada em filme. Ela foi até o oitavo assalto e terminou com vitória de Ali, por nocaute.

A última luta de Ali foi em 1981, quando foi derrotado por Trevor Berbick. Um dia depois, anunciou que deixava definitivamente os ringues, com 56 vitórias, 37 delas por nocaute. Três anos depois, foi diagnosticado com o Mal de Parkinson.
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