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FALTAM 500 DIAS

Destacado por Lula, campeão olímpico juvenil tenta voltar aos pódios após depressão

Às vésperas dos Jogos Olímpicos, pugilista David Lourenço ainda tem esperança de representar o país

Publicado: 24/03/2015 às 10:37

David Lourenço, assim como a judoca Flávia Gomes, foi homenageado em 2010 pelo então presidente do Brasil, Lula, após os Jogos da Juventude
“Eu nasci de novo.” O clichê frequenta a fala de David Lourenço. A sensação de estar começando tudo outra vez, depois de ter atingido o auge de modo precoce, não desanima o pugilista, de 23 anos. Campeão olímpico da Juventude em 2010, o atleta conseguiu um feito inédito para o país, mas viu os frutos da conquista se esvaírem. Recuperado da depressão que o tirou da Seleção Brasileira, David tenta retomar o tempo perdido nos últimos cinco anos. Lembranças, sonhos e a dura realidade se misturam na mente do rapaz, que só vê um caminho possível: o boxe.

[SAIBAMAIS]As lembranças do passado do pugilista incluem cenas daquele 20 de novembro de 2010. Ao lado do lutador, estava o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. David tinha 18 anos, vinha de família humilde e acabara de voltar de Cingapura aplaudido pelos brasileiros, quando foi parabenizado publicamente pelo chefe de Estado. Ao lado do boxeador e da judoca Flávia Gomes, Lula falava sobre o futuro e apontava o medalhista como exemplo ao anunciar a meta do país de se tornar Top-10 no quadro de medalhas em 2016.

Lula mal poderia imaginar o decepcionante destino de David cinco anos após o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude. O jovem abateu-se por uma depressão que fez a Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) tirá-lo da Seleção Brasileira por indisciplina e faltas. “Pensei que teria um descanso quando eu voltasse dos Jogos, mas não tive. O pessoal cobrava muito desempenho e resultado. Estava passando por momentos muito ruins, e ninguém me entendia”, conta o lutador ao Correio. “Briguei com minha família, e isso me abalou muito. Eu sentia que era só um atleta pra eles, não um filho”, reclama. Foi com o pai, Ailton Cardoso, campeão nacional de kickboxing, que o atleta começou a treinar, socando pneus que faziam a vez de saco de pancada.

O retorno
Sentindo-se sozinho, longe da família e sem apoio da CCBoxe, David viu a carreira morrer em 2013. O renascimento do lutador só veio no ano seguinte, quando começou a refazer os passos que o tinham levado ao pódio olímpico. Passou a treinar no Centro Olímpico de São Paulo e logo reencontrou o primeiro técnico da carreira, Ricardo Rodrigues. Agora, obtém sucesso nas competições estaduais e regionais e tenta reconquistar a confederação. “Não sei se eles ainda vão me querer”, diz, inseguro.

O salário fica por conta do clube São Caetano-SP, no qual treina de manhã e à tarde. “Fiz as pazes com minha família e agora está tudo bem”, conta o jovem paulista, de fala breve e tímida. Convertido evangélico, David atribui o retorno aos ringues à própria fé. Ele não poupa convicção: “Meu sonho é ser campeão em 2016. Depois, quero passar para o profissional e, quem sabe um dia, lutar com o Manny Pacquiao”, diz, de forma inocente, referindo-se ao boxeador filipino dono de seis títulos mundiais. Esperançoso, o rapaz não demonstra resquícios de depressão. Só lhe resta confiança. “Eu vou estar nas Olimpíadas do Rio”, avisa.
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