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ENTREVISTA
Completando um ano no boxe profissional, Esquiva Falcão não se arrepende de abandonar luta olímpica
Lutador comemora invencibilidade em 2014 e aponta situação financeira melhor com a mudança
Publicado: 23/12/2014 às 11:32

Com 25 anos, Esquiva Falcão falou ao Correio sobre a campanha perfeita no primeiro ano como lutador profissional — seis vitórias em seis lutas, a última contra o norte-americano Lanny Dardar, em 7 de dezembro. Longe do Rio-2016 às vésperas do ano pré-olímpico porque se profissionalizou, Esquiva diz não se arrepender “nem um pouco” da decisão tomada há um ano: “Não me dá tristeza pensar nisso. Eu sabia o que estava fazendo. Não poderia estar mais satisfeito”.
A satisfação com a mudança vai além do resultado nas lutas. “Hoje, tenho casa própria, consigo sustentar minha família, tenho o meu carro... São coisas que eu não consegui como atleta olímpico”, analisa o lutador, que vai se mudar de vez para os Estados Unidos — base de seus treinamentos.
Você completa o primeiro ano no boxe profissional com 100% de aproveitamento. Valeu a pena ter deixado o boxe olímpico?
Claro. No início, eu estava meio preocupado, porque é uma escolha difícil. Eu já estava com a carreira olímpica muito encaminhada, mas agora vejo que foi a melhor escolha que fiz. Hoje, tenho casa própria, consigo sustentar minha família, tenho o meu carro... São coisas que eu não consegui como atleta olímpico.
E a adaptação ao novo estilo de boxe?
A primeira e a segunda lutas, ganhei por pontos. Depois comecei a me adaptar e, desde então, só venço por nocaute. Mas ainda não estou do jeito que eu quero. Em 2015, se Deus quiser, meu estilo vai se encaixar certinho no profissional. No amador, é mais rapidez e agilidade. No profissional, força. Mesmo sendo medalhista olímpico, estou gostando mais de lutar como profissional.
Estamos entrando no ano pré-olímpico. Que sentimento lhe atinge por não poder disputar os Jogos do Rio de Janeiro?
Eu sei que, se estivesse no boxe olímpico, seria um dos grandes nomes do Brasil, com esperança de medalha. Mas não me dá tristeza pensar nisso, passei para o profissional sabendo o que eu estava fazendo. Tenho meus companheiros de Seleção Brasileira e torço muito por eles, sei que vão buscar medalhas. Em 2016, eu espero estar na arquibancada, torcendo muito.
Você comentou que sua situação financeira melhorou. Qual sua bolsa por luta?
Tem atleta que ganha US$ 100 milhões e outros que ganham US$ 1 mil. Depende do nível. A minha bolsa é de medalhista olímpico. Dá para viver (risos).
O que te fez optar pelo profissional depois de ter uma medalha olímpica?
Quando subi no pódio nas Olimpíadas, todo mundo falava que as coisas iriam mudar, a academia iria mudar, eu teria uma estrutura melhor, mais patrocínio, o salário iria aumentar. Não ganhei nada, só a medalha. Isso foi um baque, um susto, e me deixou um pouco triste. Até fiquei mais conhecido, mas nada mudou de fato.
Há uma ambição de passar o Popó, tetracampeão mundial?
Meu sonho é ser campeão mundial. Isso também pesou na minha escolha. O Popó é um grande ídolo. Se eu conseguir chegar no segundo título dele, já está bom. Pensando bem, eu nunca quero o básico, sempre quero ser o melhor. Já nasci para esse esporte, está até no meu nome: Esquiva. Antigamente, o técnico não podia orientar o atleta, então meu pai me batizou de Esquiva para não ter de infringir as regras, ninguém podia reclamar dele falando “esquiva” no meio da luta.
Como tem sido treinar nos Estados Unidos?
A estrutura de lá é bem melhor do que a do Brasil. Os Estados Unidos são uma potência do boxe. Vou para lá dois meses antes de cada luta e consigo evoluir bastante. Aqui, eu não tenho sparring (alguém à altura para treinar), fico mantendo meu preparo físico com corrida, malhação, saco de pancada. Faço o possível para chegar lá no meu melhor estado físico.
Até agora, são seis lutas e seis vitórias, quatro por nocaute. Qual foi a mais difícil?
Foi a terceira, contra o coreano (Eun-Chang Lee), na China. Ele tinha 1,87m, muito alto. Tive de ficar o tempo todo em cima dele, na linha de cintura. Foram seis rounds até que ele acabou cansando. Tinha 10 mil pessoas assistindo no ginásio, foi incrível. Das seis, foi a mais importante.
E como foi a última, contra o norte-americano Lanny Dardar, duas semanas atrás?
Ele era um adversário sem muita técnica. Mas, como luta MMA, é queixo duro, aguenta muita porrada. Não consegui atingir na cabeça, mas consegui o nocaute na linha de cintura. Essa luta mostrou que sempre estou aprendendo uma coisa nova. Meu técnico, Miguel Dias, sempre diz: “Menino, bate no corpo que a cabeça cai”. Dessa vez, eu entendi o que ele estava falando.
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